Morre Fidel Castro: Um gênio da humanidade

Morre Fidel Castro: Um gênio da

Aos 90 anos, morre Fidel  Alejandro Castro  Ruz (Birán, 13 de agosto de 1926 — Havana, 25 de novembro de 2016), o Comandante da

“Hay hombres que luchan un dia y son buenos;
Hay otros que luchan un año y son mejores;
Hay quienes luchan muchos años y son muy buenos;
Pero hay los que luchan toda la vida,
Esos son los imprescindibles”.

Bertolt Brecht

Morre um gênio da humanidade. Assim reagiu Jaime Sautchuk, editor da revista Xapuri, ao saber da partida de Fidel Castro dos espaços deste mundo, comunicada por  seu irmão, Raul Castro: “Com profunda dor compareço para informar ao nosso povo, aos amigos de nossa América e do mundo que hoje, 25 de novembro do 2016, às 10 e 29 horas da noite, faleceu o comandante-em-chefe da Revolução Cubana, Fidel Castro Rus (…)  Até a vitória! Sempre!”

Ao longo deste sábado, 26 de novembro, vários brasileiros e várias brasileiras se manifestaram sobre a partida de Fidel. Em sua memória,  e para homenageá-lo, registramos aqui, em ordem alfabética, alguns desses depoimentos.

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Parte do que sou devo ao voleibol cubano. Fruto de uma revolução iniciada por Fidel. Que elevou o potencial do povo cubano também no esporte. Ana Moser – Atleta
 
Todas as homenagens a Fidel Castro e ao povo Cubano! Eu e meu esposo Leonio Lacerda  fomos hoje à tarde deixar nossas homenagens na Embaixada de Cuba, na porta muitas flores e muito amor! Viva Fidel!!!! Clébia Rosa – militante política
Sonhadores e militantes progressistas, todos que lutamos por e por um mundo menos desigual, acordamos tristes neste sábado, 26 de novembro. A do comandante Fidel Castro, líder da revolução cubana e uma das mais influentes expressões políticas do século 20, é motivo de luto e dor.
Fidel foi um dos mais importantes políticos contemporâneos e um visionário que acreditou na construção de uma sociedade fraterna e justa, sem fome nem exploração, numa América Latina unida e forte.
Um homem que soube unir ação e pensamento, mobilizando forças populares contra a exploração de seu povo. Foi também um ícone para milhões de jovens em todo o mundo.
Meus mais profundos sentimentos à família Castro, aos filhos e netos de Fidel, ao seu irmão Raul e ao povo cubano. Minha solidariedade e carinho neste momento de dor e despedida.
Hasta siempre, Fidel!
Dilma Rousseff – ex-presidenta do Brasil

Fidel tornou-se sinônimo de Revolução, desde que as fotos daqueles barbudos tinham derrubado a ditadura do Batista, no já longínquo 1959. Mais ainda para nós, na America Latina, para quem a revolução era um fenômeno distante no tempo e no espaço – na Rússia, na China, com Lênin, com Mao.

Foi Cuba quem colocou para nós e para tantas outra gerações, a revolução como uma atualidade, apontou que a revolução era possível, aqui mesmo, no nosso continente.

Fidel encarnou a revolução na América Latina, mas também para o mundo todo, porque Cuba levantava de novo a ideia do socialismo, quando este tinha se tornado algo aparentemente petrificado, postergado.

Eu comecei minha militância política em 1959, distribuindo um jornalzinho – Ação Socialista -, que tinha estampada a imagem de uns barbudos, pousando como se fossem jogadores de futebol, que tinham derrubado um ditador – naquela época, da America Central, nem se mencionava o Caribe.

Logo minha geração tornou-se a geração da Revolução Cubana, que nos seduziu a tantos, com a convocação dos estudantes para acabar com o analfabetismo em Cuba, com a reforma agraria, com a reforma urbana, com a fundação da Casa das Américas, com a soberania diante do imperialismo, com a proclamação da Revolução como uma Revolução Socialista, com a resistência contra a tentativa de invasão da Baia dos Porcos, com a resistência diante da tentativa dos EUA de cerco naval à Ilha, com tudo o que vinha de la’, que nos alentava e nos apontava caminhos.

Só fui ver a Fidel quando ele visitou o Chile, durante o governo do Allende. Nas várias visitas que ele fez ao país, até seu discurso final, no Estadio Nacional. Depois, logo depois do golpe no Chile, pude me encontrar com ele pela primeira vez, em Havana, para discutir as consequências do golpe.

Inesquecível vê-lo entrar, enorme, alto, enérgico, simpático, afetivo. Ver como ele tinha infinita capacidade de ouvir as pessoas, de perguntar muito, sobre o Chile, sobre o golpe, sobre Allende, sobre Miguel Enriquez e o MIR, sobre o Brasil.

Tive o privilégio de conviver com sua presença na vida cubana durante muitos anos, conhecer como um dirigente se interessa sobre todo o cotidiano do país e do mundo, se pronunciar o tempo todo sobre todos os problemas, ser o mais radical crítico da própria Revolução, implacável com os erros, mas sempre apontando alternativas e despertando esperanças.

Tê-lo presenciado falar na Praça da Revolução tantas e tantas vezes é das experiencias mais impressionantes que alguém pode ter.

Numa dessas concentrações, sempre para milhões de pessoas, se homenageavam os mortos na derrubada de um avião cubano por uma ação terroristas, que matou, entre outros, a toda uma equipe esportiva cubana. Com todos os caixões presentes na Praça, Fidel fez um dos seus discursos mais emocionantes, que concluía dizendo:

“Quando um povo enérgico e viril chora, a injustiça treme.”

Para provocar as lágrimas daqueles cubanos que se deslocavam de todos os lugares para ouvi-lo falar durante horas e horas ao sol.

Ele sempre surpreendeu a todos com sua audácia. Desde aquela primeira, do assalto ao quartel Moncada, ao desembarque do Granma, até as iniciativas posteriores, já desde o poder, valendo-se do mesmo fator surpresa da guerrilha.

Quando abriu as portas de todas as embaixadas, para que os que quisessem ir embora de Cuba, fossem. Permitindo que chegassem embarcações de Miami para recolhê-lhos. Um gesto audaz, que ele souber reverter a favor da Revolução, como tudo o que ele fazia.

Quando proclamou que o menino Elian seria recuperado por Cuba, objetivo que parecia impossível, mas que ele, incutindo em todos uma imensa confiança, conseguiu.

Quando ele afirmou que Cuba recuperaria os 5 heróis presos nos EUA, o que parecia absolutamente inviável, mas ele soube construir, uma vez mais, a estratégia vitoriosa para conseguir uma vez mais o impossível.

Fidel foi o sinônimo de Revolução mais de 50 anos. Quem quisesse saber da Revolução e do Socialismo, tinha que olhara para ele. Ele, junto com o Che, apontaram para tantas gerações o horizonte do socialismo, da revolução, do compromisso militante.

Fidel foi a personificação da Revolução e do Socialismo. Sua vida e suas palavras soaram sempre como a voz mais forte, mais digna, mais vibrante, mais esperançosa, mais corajosa, que a contemporânea conheceu. 

Emir Sader -Fidel, sinônimo de revolução – artigo publicado no site Brasil247

Fidel é um irmão dos revolucionários de todo o mundo – Fidel Vive!  Meu abraço no povo cubano. Fernando Tolentino – Jornalista

Morreu ontem o maior de todos os latino-americanos, o comandante em chefe da revolução cubana, meu amigo e companheiro Fidel Castro Ruiz.

Para os povos de nosso continente e os trabalhadores dos países mais pobres, especialmente para os homens e de minha geração, Fidel foi sempre uma voz de luta e esperança.

Seu espírito combativo e solidário animou sonhos de , soberania e igualdade. Nos piores momentos, quando ditaduras dominavam as principais nações de nossa região, a bravura de Fidel Castro e o exemplo da revolução cubana inspiravam os que resistiam à tirania.

Eu o conheci pessoalmente em julho de 1980, em Manágua, durante as comemorações do primeiro aniversário da revolução sandinista. Mantivemos, desde então, um relacionamento afetuoso e intenso, baseado na busca de caminhos para a emancipação de nossos povos.

Sinto sua morte como a perda de um irmão mais velho, de um companheiro insubstituível, do qual jamais me esquecerei.

Será eterno seu legado de dignidade e compromisso por um mundo mais justo

Hasta siempre, comandante, amigo e companheiro Fidel Castro.

Luiz Inácio Lula da Silva – ex-presidente do Brasil 

Li em um artigo (…) que a “História não absolverá” Fidel. Será, ou melhor, quando ocorrerá o contrário?

Só posso dizer que me tornei marxista ouvindo o discurso dele no Chile em 1971, na CEPAL/ONU, onde estava para refugiar-me da ditadura brasileira de olho em mim pela atuação na cristã da Teologia da Libertação.

Fui trabalhar com [Salvador] Allende, que propôs o caminho pacífico [para o] Socialismo, [onde] arrisquei minha própria vida até na noite de sua deposição golpista.

Só me tornei budista 30 anos depois, visitando Cuba com meus filhos adolescentes.

Não pude encontrá-lo quando estive em Cuba no ano passado, muito resguardado, mas quero quero prestar minhas homenagens a ele.

Ele mostrou que um império sistêmico, ou sistema imperial que oprime a maioria não  pode ser justo, deve ser combatido com toda a força que a história nos propicia, até com armas, acompanhada de dignidade e coragem, atributos humanos.

Contudo, essa força do idealismo e a própria história, mesmo usando armas – ou até por isso – podem macular a dignidade humana e a coragem civilizatória.

Ele morreu como verdadeiro herói latino-americano, um profeta visionário, mas a busca do conforto material e a noção de liberdade individual insaciável e incondicional continuam naquela ilha encostada de Miami (…)

[Fidel] me foi importante na vida em duas ocasiões passadas. E me marca muito hoje no sentido de dar continuidade a esse ideal de felicidade geral: faço-me bem fazendo bem aos outros. Monge Sato – Templo Budista de Brasília

Poucos na história conseguiram sintetizar o ideal de social como Fidel Castro. Ao lado de Lênin e Che inspiraram trabalhadores de todo o mundo a buscar e combater pela dignidade humana. Foram capazes de dedicar as suas vidas, energias e sonhos para que a humanidade se emancipasse.

Lênin comandou a transformação de um país feudal, que em poucas décadas se tornou um novo mundo, capaz de mostrar que é Possível a transformação da sociedade, sob o comando dos oprimidos.

Che, em sua curta vida, comprovou a capacidade de ser efetivamente justo e capaz de se indignar e atuar em todos os continentes contra às injustiças e a exploração, indo às últimas consequências para libertar o trabalho da exploração burguesa.

E, com Fidel Castro e Camilo Cienfuegos, foram capazes de derrotar o governo norte americano, que explora, oprime e mata por todo o .

Os trabalhadores e trabalhadoras têm motivos de sobra para seguir os exemplos desses combatentes que mudaram o curso da história.
Não trairemos seus exemplos!!

Cuba seguirá firme sua jornada heróica e revolucionária!!

Toda solidariedade ao povo revolucionário de Cuba!!
Socialismo ou barbárie, afirmou Rosa Luxemburgo, diante de tantos fatos que comprovam o acerto de suas palavras.

Lênin, presente!!
Che, presente!!
Fidel, presente!!!
Venceremos!!!

Pedro César Batista – escritor

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Esta foi a única vez em que estive perto dele, Fidel, aplaudido como um rock star na posse de Lula em 2003. Quando ele apareceu na praça dos três poderes foi uma correria só para se aproximar dele.

Confesso que não me tocou tanto. Eu estava mais animado com Lula, o entusiasmo popular com o governo que viria e os sonhos que todos tínhamos para o Brasil.

Muitos sonhos foram realizados, houveram frustrações, mas hoje vivemos o pesadelo. Temer no poder, Lula detonado (apesar de ainda importante), Trump eleito, Fidel morto, desesperança, direita em alta, não qualquer direita, mas uma direita que escolheu a estupidez e calúnia como estratégia de poder… Ronaldo Weigand Jr. – ambientalista                                                                                                                                                                                                           

Nota da Redação – Impossível, neste momento, identificar as autorias de todas as fotos utilizadas nesta matéria. Pedimos desculpas e buscaremos, com tempo, tentar localizar cada autor ou autora para fazer os devidos créditos.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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