Filha de Chico Mendes culpa gestão de Bolsonaro por atraso na reabertura da casa do pai

Filha de culpa gestão de Bolsonaro por atraso na reabertura da casa do pai

Fechada há cerca de cinco anos, a revitalização da casa foi realizada pelo Instituto do Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Por Suene Almeida/Contil Net

Durante a reinauguração da Casa de Chico Mendes, que aconteceu na manhã desta sexta-feira (10), em Xapuri, a filha do seringueiro, Ângela Mendes, em entrevista ao ContilNet falou sobre a importância do memorial para as questões de lutas socioambientais

Fechada há cerca de cinco anos, a revitalização foi realizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com investimento total de R$ 92 mil. Ângela Mendes fez questão de criticar o governo anterior pelo descaso com o local.

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Ângela é filha de Chico Mendes/Foto: Juan Diaz/ContilNet

“A casa do meu pai ficou fechada no último governo, pois ele não tinha nenhum compromisso com essa casa. Hoje está sendo feito o resgate de tudo isso”, disse.

Tombada como patrimônio histórico do Acre em 2008, a casa Chico Mendes carrega a representatividade da pela causa ambiental.

“Essa casa tem uma grande importância no contexto de luta socioambiental. É importante que a população local se sinta cada vez mais próxima disso, se sinta parte desse . A casa deveria trazer a proximidade com a luta de Chico, mas também com uma luta que é global, que é a defesa da e da , pautas que o Chico tanto defendia”, ressaltou.

Ângela expressou, ainda, preocupação com o do memorial, já que o município está a menos de um ano das para prefeito.“Externo minha preocupação, como a casa está sendo reaberta por meio de uma articulação da prefeitura atual, e estamos a menos de um ano das eleições, depois disso quem é que vai assumir o compromisso de manter o vivo aqui em Xapuri?”, indagou.

Estavam presente na cerimônia a vice-governadora Mailza Assis, o presidente do Iphan, Leandro Grass, o presidente da Fundação Elias Mansour (FEM), Minoru Kimpara, dentre outros.

Fonte: ContilNet. Foto: Juan Diaz/ContilNet.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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