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Filme ‘Para’Í’ exalta a luta indígena e estende o diálogo a crianças e adultos

‘Para’Í’ exalta a luta e estende o diálogo a crianças e adultos

Abordando a do Mbya, “Para’Í”, de Vinicius Toro, chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (20).

Por Lilianna Bernartt/Mídia Ninja

A foca em Pará (Monique Ramos Ara Poty Mattos), uma garota indígena que encontra uma espiga de avaxi para’i – milho colorido, tradicional do Guarani e, deslumbrada com o novo achado, decide plantar o milho para que ele germine em suas terras. Com a ajuda de sua melhor amiga Silmara (Samara Cristina Pará Mirim O. Martim), ela desbrava seu território e, durante essa jornada, passa a se relacionar com seu espaço e raízes culturais.

O diretor Vinicius Toro aponta questões relevantes da luta indígena, a partir do olhar infantil de Pará sobre seu entorno. Ao concentrar a narrativa na garota, coloca em destaque o personagem principal da trama – o indígena. É a partir dela (e junto com ela) que vamos tomando consciência das problemáticas decorrentes da interferência do homem branco em territórios . No caso específico do filme, a questão avança para o fato de se tratar de uma comunidade próxima à população urbana da grande metrópole.

O choque da coexistência da aldeia com a tecnologia e o urbanismo frenéticos da cidade grande resvala diretamente na manutenção da identidade e costumes dos indígenas da comunidade Guarani. Por diversos momentos o longa confronta este abalo identitário, seja de cunho religioso – ao questionar a influência da igreja Cristã nos costumes indígenas; cunho existencial/ legitimidade/ pertencimento – quando Pará se sente excluída e questiona se seus amigos da sabem que ela é da aldeia; ou de cunho físico/territorial – com o confronto com o homem branco.

Mesmo com todas as importantes problemáticas apontadas pelo longa, “Para’Í”, mais que um filme-denúncia, é um filme sobre resistência. O simbolismo vegetal, da semente que permanece germinando independente das condições desfavoráveis que se impõem a ela; a figura da menina Pará, que representa o futuro da comunidade indígena Guarani – que se questiona e luta, reverberam na luta indígena, que resiste diante da constante opressão da ameaça, da invisibilidade, do apagamento histórico, da colonização. Extremamente atual, “Para’Í” exalta a força dos e estende o diálogo da importância da luta indígena a crianças e adultos.

Lilianna Bernartt – Jornalista. Fonte: Mídia Ninja. Foto: Divulgação/Descoloniza Filmes. Este artigo não representa necessariamente a opinião da e é de responsabilidade do autor.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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