Joacir d’Abadia: O grito de liberdade

Joacir d’Abadia: O grito de liberdade

Uma chusma de gente grita: “queremos ser livres!” Mas a isto não acresce nada ao seu ser enquanto homens que pensam, visto que seus clamores elevam somente as suas vozes levando cada gritante a ser para si mesmo um mendaz. Com tal fuga o mentiroso se debruça a uma imitação de balbucio, o qual não toma seu significado original, que seria em buscar de forma comunitária algo que os libertem: a própria libertação.

Joacir Foto Arteide

Nesta euforia do homem em relação a sua falsa encontra-se uma herança não de , mas sim de conceitos evasivos que dizem, estritamente, ao ópio dos falsos: “queremos, sem querer, ser livres”.

Não pode de forma alguma, esbandalhar o sentido único que principia o verdadeiro e imutável significado do que seja a liberdade.

Embora, gritos ecoem pedindo que os homens sejam livres, eles não chegam ao tocante do desejo humano, pois esvai na extensão do sem serem acolhidos pelas suas entranhas.

Assim, permanecem só os gritos. E só a eles escutam. Mas, contudo, porque gritar sem o desejo de concretizar aquilo que se pede: a liberdade. Não parece incongruência? Pode acreditar que sim! É realmente palavra solta ao ar com um objetivo: a algazarra.

Se os gritantes pedissem mesmo a liberdade eles, pobres coitados, jamais seriam atendidos por completo. Acredite, é verdade! Pois recebendo, aos gritos, a liberdade, ficariam presos à própria liberdade. Agora cabe a objeção: que é liberdade para este populacho de gente que grita pedindo-a? Deve que eles pedem que os deixem somente pedir!

Assim, nem todos que pedem realmente querem. Fique, portanto, de cautela, atentos com os seus gritos inócuos.

ANOTE AÍ:

Joacir batina

 

 

Joacir d’Abadia, Pároco de Alto Paraíso-GO, Diocese de -GO.
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Filósofo, Escritor, articulista e Especialista em Docência do Ensino Superior.

Imagem interna: Arteide, fornecida pelo autor.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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