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FOTOGRAFIA E HUMBOLDT

FOTOGRAFIA E HUMBOLDT

Fotografia & Humboldt

Retorno às páginas desta prestigiosa revista como escrevinhador à luz de duas questões mal resolvidas no Brasil, e o título acima as identifica. Agora em ampliada versão componho palavras, claro, como jornalista e perito criminal, mas agora inserto no ambiente da geografia, minha mais recente vivência científica – o imo motivador desta revinda!

Por Antenor Pinheiro

Os textos vindouros sugerirão o resgate da imagem fotográfica nas dimensões do tempo e do espaço, da paisagem, do lugar (enquanto categorias epistemológicas da geografia)… Enfim, da natureza enquanto realidade cósmica. Por isso, a singela propositura abarcará a apurada técnica fotográfica em diálogo permanente com os preceitos universais engendrados por Alexander von Humboldt e as manifestações da diversidade artística espontaneamente resultantes desse vivificante processo encadeado.

Trata-se de perscrutar e geograficizar imagens fotográficas tomadas de distintos continentes do planeta, mas reduzidas à beleza estética ensejada por uma equipagem fotográfica cada vez mais veloz e banalizada. A ressignificação de imagens consolidadas por um jeito positivista de fruição cotidiana é fundamental, e deve ser praticada sob a égide do harmonioso ritual da contemplação intuitiva enredada por Humboldt, também representada em Goethe, Kant, Schiller… esses prussianos porretas! Nada há de original na incitação proposta, porque a fotogeografia no Brasil ainda patina nos próprios conceitos, carece de fundamentos e olhares que permitam compreendê-la de forma mais abrangente e útil no campo das ciências – menos como elemento ilustrativo da pesquisa, mais como o próprio objeto pesquisado.

Quanto a Humboldt, bem… os brasileiros pouco sabemos de sua magnitude no contexto das ciências e das artes. É caso mal resolvido por aqui, herdado do século XVIII, quando a coroa portuguesa não permitiu ao jovem naturalista que pesquisasse a Amazônia brasileira por motivações geopolíticas, em plena efervescência cultural, política, econômica e científica da humanidade. Portanto, se nós pretendemos um mundo mais pleno, sensível e inteligente, menos estúpido e cruel, então mãos à obra, e pensamento à prazerosa leitura!

antenorAntenor Pinheiro – Geógrafo. Pintura (1856): Eduard Ender.

 
 
 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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