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GAZA: IMPACTOS PSICOLÓGICOS DE UM GENOCÍDIO TELEVISIONADO

GAZA: IMPACTOS PSICOLÓGICOS DE UM GENOCÍDIO TELEVISIONADO

A atenção aos aspectos psicológicos produzidos pelos ataques a Gaza é indispensável. O sofrimento das crianças, mulheres e idosos palestinos, como seres humanos especialmente vulneráveis, sofre registro, mas não ganha espaço nos meios de comunicação.

Por Ana Bock – Marcos Ferreira – Ualid Rabah

Mulheres e crianças representam mais de setenta por cento dos mais de quarenta mil assassinados (consideradas as mais de oito mil pessoas sob escombros). Esse total representa quase dois por cento de toda a população de Gaza, praticamente todos na qualidade de civis. 

Esse descaso corresponde ao processo de desumanização de que a gente palestina é alvo, para além da desconsideração com as mortes, ferimentos, fome e desamparo.

Esse descaso desumaniza, também, quem não está na Palestina, especialmente em Gaza. Impacta as subjetividades de múltiplas maneiras e esse processo precisa ser reconhecido com urgência.

Importa considerar os impactos sobre as subjetividades de cidadãos ao redor do planeta. Tanto o sofrimento intenso com as notícias quanto a indiferença e o anestesiamento de consciências precisam ser reconhecidos e debatidos.

Como será a humanidade frente à conjugação de tamanha ferocidade com a imediaticidade de seu conhecimento nos quatro cantos do mundo? Essa conjugação consiste em aspecto novo do ponto de vista da constituição das subjetividades.

Nessa direção, múltiplos interrogantes se impõem, como, por exemplo:

  1. Sobre conhecimentos produzidos acerca de impactos de genocídios anteriores, inclusive sobre o mais reconhecido no ocidente, que teve como alvo a população judaica na Europa;
  2. Sobre a forma como esses impactos atingem diferentes subgrupos de seres humanos;
  3. Sobre o papel das tecnologias, tanto na informação quanto na contrainformação, na cobertura ao vivo das agressões;
  4. Sobre o papel social da prática jornalística, assim como sobre a credibilidade dessa atividade na sociedade, porque parte dela é acusada de diretamente estar implicada na incitação ao genocídio na Palestina. 
  5. Sobre a confiança coletiva nos organismos governamentais, sejam nacionais ou multilaterais, para o enfrentamento de cataclismas e extermínios humanos.

            Talvez uma das indagações mais urgentes seja: haverá algum tipo de planejamento na produção desses impactos sobre as subjetividades? Vale a pena antecipar o registro de alguns impactos sobre as subjetividades que já são discutidos por atores sociais:

  1. Risco de possível estabelecimento de consenso de que as diferenças só possam ser resolvidas por meio de guerras;
  2. Risco de estabelecimento de consenso de que essa ignomínia seja uma forma autorizada aos países ricos de resolver suas diferenças com países que tenham menor acúmulo de riquezas;
  3. Que pessoas sofram de modo isolado (como aquelas que imolaram suas vidas, ou jornalistas inconformados com os procedimentos de seus editores, ou mesmo pessoas que relatam estado depressivo diante das notícias que chegam);
  4. Que aprofundemos a indiferença e o ódio como marcas das relações sociais em uma comunidade; e,
  5. Que ocorra o fortalecimento do processo de desumanização já imposto por formas econômicas e políticas de organização social.

De nossa parte, só podemos afirmar que a participação em coletivos que denunciam manipulações e lutam por cessar fogo definitivo em Gaza, tem sido importante modo de manutenção de saúde mental, porque carregam a resistência e a oposição às formas hegemônicas de lidar com questões sociais e políticas.

Ana Bock – Instituto Silvia Lane.

Marcos Ferreira – Instituto Silvia Lane.

Ualid Rabah – Federação Árabe Palestina no Brasil.
Foto de capa: Divulgação/ Wafa.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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