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ESQUERDA X DIREITA SEGUNDO ARIANO SUASSUNA

ESQUERDA X DIREITA SEGUNDO ARIANO SUASSUNA

Esquerda x Direita segundo

Não concordo com a afirmação, hoje muito comum, de que não mais existem esquerda e direita.

Acho até que quem diz isso é de direita…

Quem é de esquerda, luta para manter a soberania nacional e é socialista. 

Quem é da direita, é entreguista e capitalista. 

Quem, na sua visão social, coloca a ênfase na justiça, é de esquerda.

Quem a coloca na eficácia e no lucro, é de direita…

ESQUERDA X DIREITA SEGUNDO ARIANO SUASSUNA
Imagem: Reprodução/Internet

QUEM FOI ARIANO SUASSUNA 

“Não sei, só sei que foi assim!”. Talvez o leitor já tenha se deparado com esse famoso bordão, e, caso não saiba de onde veio, é um dos ditos de Chicó, personagem criado por Ariano Suassuna.

Por Gabriela Ferrari Toquetti/FFLCH/USP

Paraibano nascido em 16 de junho de 1927, Suassuna foi um dos ocupantes da Academia Brasileira de Letras. Escreveu romances, poesia e peças de teatro, mantendo-se sempre ativo na esfera cultural.

Suas origens são fundamentais à sua escrita, que é repleta de elementos da cultura popular nordestina. Foi, também, o fundador do Movimento Armorial, que fundiu o erudito e o popular, além de colocar em destaque a de cordel.

A escrita de Suassuna, ao mesmo tempo que é complexa e elaborada, traz toques de oralidade e espontaneidade ao captar a linguagem e as expressões populares do .

Um exemplo disso pode ser visto na criação de neologismos na obra O Romance d’A Pedra do Reino, que explora a formulação de palavras como “Nordestíada”, uma junção de “Nordeste” e “Ilíada”. Nessa união, vemos justamente aquilo que Suassuna buscava com o Movimento Armorial: mesclar a cultura popular nordestina e a cultura erudita europeia.

Uma de suas obras mais conhecidas, a peça de teatro Auto da Compadecida, que tem como cenário o sertão nordestino, conquistou o público brasileiro e ganhou uma adaptação cinematográfica, realizada pela Globo Filmes em 2000. O conta com um elenco de grandes nomes – como Fernanda Montenegro e Selton Mello – e tornou-se um sucesso entre o público e a crítica.

ESQUERDA X DIREITA SEGUNDO ARIANO SUASSUNA
Foto: Wikipedia Commons

“Especificamente falando da Compadecida, quem lê o texto teatral ou assiste ao filme se identifica com as personagens e as situações.

E precisamos também lembrar as palavras de Nossa Senhora sobre o , sua intercessão junto a Jesus Cristo, que também nos toca muito, sem contar o desempenho incrível dos atores, o roteiro bem feito, a direção, a mistura de humor com momentos sérios, tudo combinado para criar uma obra inesquecível que, certamente, continuará a ser um sucesso por muitos anos”, opina Solange Peixe Pinheiro de Carvalho, doutora em Filologia e Portuguesa pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Confira a entrevista completa:

Serviço de Comunicação Social: Você poderia comentar brevemente sobre quem foi Ariano Suassuna, para os leitores que ainda não o conhecem?

Solange Peixe Pinheiro de Carvalho: Ariano Suassuna nasceu em 1927, na capital da Paraíba, em uma família bastante influente. Seu pai era – como se dizia então – presidente do estado. Em 1930, seu pai foi assassinado por motivos políticos, e com isso a viúva teve de sair da capital com os nove filhos, instalando-se em Taperoá, no interior do estado, onde Suassuna teve o primeiro contato com a cultura popular do Nordeste, que marcou profundamente sua como escritor e artista.

Ainda jovem, ele se mudou para Recife e fez faculdade de Direito. Na faculdade, começou a se interessar pela arte, fundando o Teatro do Estudante e escrevendo suas primeiras peças, sempre introduzindo elementos da cultura popular em sua produção.

Ele escreveu poesia, peças teatrais de grande sucesso, entre elas o Auto da Compadecida (1955); e começou uma obra em , concebida como uma trilogia, mas da qual apenas a primeira parte, O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-volta (1971), foi publicada. A segunda parte, História d’o Rei Degolado nas Caatingas do Sertão: ao Sol da Onça Caetana, teve uma publicação parcial em 1977, mas Suassuna interrompeu o projeto.

O interesse de Suassuna pela cultura popular se manifestou também em outras áreas, como desenho e música; são de sua autoria as ilustrações d’A Pedra do Reino. Ele deu aulas de Estética na faculdade; foi Secretário da Cultura em Recife, e morreu em 2014, aos 87 anos, tendo acabado pouco antes um projeto que considerava a sua obra definitiva, Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores.

Serviço de Comunicação Social: Quais elementos caracterizam a escrita de Suassuna?

Solange Peixe Pinheiro de Carvalho: Posso falar sobre a obra em prosa, com a qual tive grande contato, pois foi o corpus de minha pesquisa de doutorado.

A professora Guaraciaba Micheletti (1997) fala, a respeito d’A Pedra do Reino, da ‘confluência das formas’, pois é uma narrativa em que o leitor encontra elementos do romance, do memorial, da literatura policial, da novela de cavalaria, e é também um longo depoimento, prestado por Quaderna ao Senhor Corregedor.

A prosa de Suassuna é muito elaborada, mas paradoxalmente dá ao leitor a sensação de simplicidade e espontaneidade; como o texto é um depoimento prestado por Quaderna, temos toda a força da oralidade na literatura; o leitor parece “ouvir” a fala da personagem.

Para mim, o que mais se destaca n’O Romance d’A Pedra do Reino é a grande quantidade de criações neológicas, muitas delas unindo elementos da cultura do Nordeste com os da cultura europeia.

Um bom exemplo são os amálgamas encontrados n’A Pedra do Reino: Sertaneida (Sertão + Eneida), Nordestíada (Nordeste + Ilíada) e Brasiléia (Brasil + Odisseia), ou criações sufixais como tapirismo (tapir + -ismo) e oncismo (onça + -ismo), nomes dos movimentos literário-filosóficos concebidos pelas personagens Clemente e Samuel, que têm como base animais da fauna brasileira, tapir () e onça.

A presença da cultura popular se faz sentir em toda a narrativa, a começar do incidente que serviu de inspiração para Suassuna, o massacre da Pedra Bonita, ligado ao movimento messiânico sebastianista, ocorrido na década de 1830.

Serviço de Comunicação Social: Quais foram suas principais contribuições para a Literatura? Em sua análise, como elas repercutem atualmente?

Solange Peixe Pinheiro de Carvalho: Suassuna foi criador do Movimento Armorial, que unia a arte erudita e arte popular do Nordeste, tanto na música, quanto nas artes plásticas e na literatura.

Não sei se o movimento teve grande divulgação em outras regiões do Brasil, mas alguns nomes ligados a ele são reconhecidos no país, como Francisco Brennand e Antonio Nóbrega, que tocou com o Quinteto Armorial e depois desenvolveu carreira solo, apresentando espetáculos musicais, e é conhecido por ser o criador do Instituto Brincante.

Na literatura, um nome bem conhecido é o de Maximiano Campos, autor de alguns livros em que há uma forte influência da cultura nordestina. Acho que podemos dizer, talvez, algo um pouco diferente, falar não tanto da influência que a obra de Suassuna exerceu sobre as novas gerações de escritores em todo o território brasileiro, mas como ele colocou em evidência uma parte muito importante da cultura do Nordeste.

Com o lançamento d’A Pedra do Reino, Suassuna chamou a atenção do público em geral para a literatura de cordel e os estilos de poema usados pelos cordelistas e cantadores, como o martelo e o martelo agalopado, e sua eleição para a Academia Brasileira de Letras ajudou a consolidar o prestígio dessa parte tão importante de nossa cultura. Hoje vemos dissertações e teses analisando a literatura de cordel, e esse reconhecimento por parte da academia certamente se relaciona à atuação do escritor.

Serviço de Comunicação Social: Na sua visão, o que ocasionou o grande sucesso de obras como o Auto da Compadecida, que, inclusive, ganhou uma adaptação cinematográfica?

Solange Peixe Pinheiro de Carvalho: Há uma frase muito conhecida de Tolstói, que cito de memória, “Se você quer ser universal, fale de sua aldeia”, e creio que ela seja uma explicação possível para esse sucesso.

Em sua obra, Suassuna se inspirou na cultura do Nordeste, mas atingiu o público do Brasil todo, porque os temas tocam profundamente a alma dos brasileiros. Especificamente falando da Compadecida, quem lê o texto teatral ou assiste ao filme se identifica com as personagens e as situações.

E precisamos também lembrar as palavras de Nossa Senhora sobre o povo, sua intercessão junto a Jesus Cristo, que também nos toca muito, sem contar o desempenho incrível dos atores, o roteiro bem feito, a direção, a mistura de humor com momentos sérios, tudo combinado para criar uma obra inesquecível que, certamente, continuará a ser um sucesso por muitos anos.

Solange Peixe Pinheiro de Carvalho é mestre em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês e doutora em Filologia e pela FFLCH da USP. Atua principalmente nos seguintes temas: criação lexical, tradução literária e análise linguística.

Fonte desta matéria/entrevista: FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

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Foto: Wikipedia Commons

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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