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Grandes investimentos no setor de petróleo e gás podem comprometer metas climáticas

Grandes investimentos no setor de  e gás podem comprometer metas climáticas

Nenhuma das grandes companhias petrolíferas do mundo alinha seus investimentos de maneira a viabilizar a meta do Acordo de Paris de limitar o em 1,5ºC neste século

Londres/Nova York, 06 de setembro de 2019 – Desde 2018, as principais companhias de petróleo e gás do mundo já aprovaram investimentos que totalizam US$ 50 bilhões em projetos que ameaçam os compromissos climáticos globais e o retorno financeiro de seus acionistas, aponta um novo relatório da Carbon Tracker publicado hoje.

O  “Breaking the habit: Why none of the large listed oil companies are Paris aligned” identifica projetos individuais que são inconsistentes com o Acordo de Paris e aponta que nenhuma grande companhia petrolífera esta investindo de maneira a facilitar a limitação do aquecimento global em 1,5ºC até 2100 com relação aos níveis pré-industriais. Isso em um momento no qual investidores em todo o mundo estão sendo cada vez mais pressionados a direcionar suas aplicações para companhias energéticas alinhadas com as metas de Paris.

O relatório da Carbon Tracker alerta que a demanda por combustíveis fósseis precisa cair para que as metas climáticas globais sejam viabilizadas, e apenas projetos sob custos mais baixos conseguirão devolver um retorno econômico aos investidores sob essa nova realidade. No entanto, o relatório destaca 18 projetos que totalizam US$ 50 bilhões que foram recentemente aprovados pelas companhias que insistem na aplicação de vultosos montantes financeiros no uso de fontes fósseis de energia.

“Cada grande companhia de petróleo está apostando pesadamente contra o limite de 1,5 ºC e investindo em projetos que contrariam as metas de Paris”, aponta Andrew Grant, analista sênior da Carbon Tracker e um dos autores do relatório. “Os investidores devem contestar os gastos das empresas em novos projetos fósseis. A melhor forma de preservar o valor do acionista na transição para o baixo carbono e, ao mesmo , alinhá-lo com as metas climáticas será enfocar em projetos de baixo custo que poderão entregar retornos maiores”.

Os investidores estão cada vez mais preocupados sobre os riscos climáticos em seus portfolios e na vida de seus clientes, na medida em que as evidências sobre os da se tornam mais claras. Muitos estão pressionando as empresas de energia em torno de projetos de baixo carbono e iniciativas como a Climate Action 100+, apoiada por investidores com ativos que valem US$ 34 trilhões.

A Carbon Tracker aplicou a trajetória mais ambiciosa de redução de emissões definida pela IEA (com meta de 1,6ºC) e estimou que as maiores companhias de petróleo listadas, como ExxonMobil, Chevron, Shell, BP, Total e Eni, gastaram cada uma ao menos 30% de seu investimento em 2018 em projetos que são inconsistentes com um mundo de menos de 1,6ºC de aquecimento. O relatório conclui que os projetos já aprovados pelas gigantes do petróleo e gás inviabilizarão essa meta de aquecimento definida pelo Acordo de Paris.

Para superar essa situação, o relatório sinaliza que as companhias precisarão cortar investimento, mesmo em de captura e armazenamento de carbono, que não são vistos como de viabilidade prática neste momento. A demanda por petróleo e gás pode ser atendida com projetos que dão retorno com preços abaixo dos US$ 40 por barril, e investimentos mais altos arriscam criar “ativos encalhados” que nunca conseguirão dar retorno financeiro aos investidores.

Ele alerta também que as companhias de petróleo e gás podem desperdiçar US$ 2,2 trilhões até 2030 se elas basearem suas decisões de investimento nas políticas atuais de emissões de carbono definidas pelos governos, que podem levar o mundo a um aquecimento de 2,7ºC, ao invés de planejar para uma transição mais completa e rápida.

Grandes companhias do setor, como Shell, BP, Equinor e Total procuraram reassegurar aos seus investidores que elas estão respondendo a suas preocupações climáticas. As três primeiras, por exemplo, disseram que vão testar novos investimentos para buscar consistência com cenários de baixo carbono. O relatório deixa claro que essa mudança no comportamento da indústria é necessária para que ela se torne realmente alinhada aos compromissos de Paris.

O estudo está disponível na íntegra (em inglês) no link https://www.carbontracker.org/reports/breaking-the-habit/

Os investidores devem desafiar investimentos em projetos inconsistentes com um mundo de baixo carbono

Desde o começo de 2018, todas as grandes companhias de gás e petróleo do mundo aprovaram projetos inconsistentes com as metas do Acordo de Paris. A Carbon Tracker destaca que os US$ 50 bilhões investidos em 18 grandes projetos são inconsistentes mesmo com cenários menos ambiciosos, com limitação do aquecimento entre 1,7 e 1,8ºC. Nessa relação, destacam-se:

  • US$ 13 bilhões investidos pela Shell em projetos de gás natural liquefeito no Canadá
  • US$ 4,3 bilhões pela BP, Chevron, ExxonMobil e Equinos em projetos de extração de petróleo no fundo do mar no Azerbaijão
  • US$ 1,3 bilhão pela BP, ExxonMobil, Total e Equinos em projetos de exploração no fundo do mar em Angola

“Esses projetos representam uma ameaça iminente aos investidores e companhias que buscam alinhar suas decisões com as metas climáticas”, alerta o relatório.

De todas as gigantes do setor, a ExxonMobil é a empresa com o maior risco de ficar com ativos encalhados em um mundo de baixo carbono, com mais de 90% de seus investimentos potenciais entre 2019 e 2030 direcionados a projetos fora da trajetória de 1,6ºC de aquecimento. Ela é seguida pela Shell (70%), Total (67%), Chevron (60%), BP (57%) e Eni (55%).

A Carbon Tracker estima que as companhias de petróleo e gás gastariam cerca de US$ 6,5 trilhões até 2030 em projetos que colocariam o mundo numa trajetória de aquecimento de 2,7ºC. Por outro lado, investimentos em projetos que viabilizariam um aquecimento de 1,6ºC totalizariam US$ 4,3 trilhões. Ou seja, projetos com custos maiores arriscam criar ativos encalhados que nunca darão o retorno esperado aos acionistas dessas empresas.

  • Oil sands (areia betuminosa): nenhum novo é consistente com as metas de Paris e os altos custos de produção implicam que eles não são realmente necessários em um mundo de 2,7ºC de aquecimento. O relatório adverte: “A Associação de Produtores de Petróleo do Canadá prevê um aumento de 41% na produção de petróleo nas oil sands entre 2019 e 2030; acreditamos que essas expectativas precisam ser revisadas significativamente”.
  • Ártico: a maior parte dos projetos é cara e de alto risco, ainda que alguns sejam de baixo custo
  • Xisto: investimentos em xisto betuminoso são muito sensíveis à demanda. Atender à demanda em um mundo de 2,7ºC de aquecimento iria requerer US$ 1,1 trilhão, mais de 90% a menos que os US$ 112 bilhões necessários em um mundo de 1,6ºC. Empresas como Pioneer e Concho estão entre as diversas companhias norte-americanas no setor nas quais o portfolio inteiro está sob risco de ficar encalhado.

Metodologia

A Carbon Tracker utilize os cenários da Agência Internacional de Energia (AIE) para modelar os suprimentos de petróleo e gás sob a trajetória de aquecimento de 1,6ºC (B2DS) e sob 1,7-1,8ºC (SDS), e comparou com a trajetória de 2,7ºC (NPS) consistente com os compromissos atuais de redução de emissão por parte dos países. Para modelar o suprimento sob uma trajetória de 1,5ºC, o relatório utilizou os cenários desenvolvidos pelo Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudança do (IPCC).

Com a oferta disponível superando a demanda, assume-se que os projetos com menor custo de produção serão mais competitivos, enquanto projetos de custo mais elevado, que dependerão de preços mais altos para ter retorno, correm o risco de tornar-se “ativos encalhados”, ou ativos ociosos. O relatório analisou 71 das maiores empresas de petróleo e gás, calculando sua exposição usando dados de fornecimento do projeto da Rystad Energy. Este estudo atualiza a análise feita nos relatórios da Carbon Tracker “2 Degrees of Separation” (2017) e “Mind the gap: the 1.6 trillion energy transition risk” (2018).

Contatos para imprensa

Stefano Ambrogi – sambrogi@carbontracker.org

Joel Benjamin – jbenjamin@carbontracker.org

Sobre a Carbon Tracker

A Iniciativa Carbon Tracker é um think tank sem fins lucrativos que busca promover um mercado global de energia seguro em termos climáticos ao alinhar mercados de capital e realidade climática. Nossa pesquisa sobre a “bolha de carbono” e “ativos encalhados” iniciou um novo debate sobre como alinhar o sistema financeiro com a transição energética para um futuro de baixo carbono. Saiba mais em www.carbontracker.org

Matéria enviada via e-mail por Rita Silva da Aviv (rita@avivcomunicacao.com.br) 

 
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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