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Greve Geral: Resgate de lutas dos séculos 19 e 20

Greve Geral: Trabalhadores resgataram as lutas dos séculos 19 e 20 

O mês de abril, com seu histórico fatídico criado em 1964, depois do desastre causado pelo impeachment da presidenta que alçou ao poder o governo ilegítimo de Michel Temer, a Greve Geral do dia 28 inverteu o cenário político e sindical, que estava contrário aos setores sociais e progressistas.

Por Trajano Jardim

Nem mesmo o discurso único da cloaca de comentaristas da mídia conservadora e reacionária, encomendado a peso de ouro pelo governo, conseguiu encobrir o sucesso da vitoriosa Greve Geral, que vem causando estragos nas hostes governistas e colocou em polvorosa a base parlamentar, constituída, em sua maioria, de indivíduos sem cultura provenientes dos setores mais atrasados da sociedade, que só têm um objetivo, fazer negociata com seus mandatos e enriquecer a custa do Erário.

O movimento sindical, em letargia pela “síndrome da ilusão do poder”, em razão de a maioria dos seus melhores quadros assumiram cargos institucionais, criou a ilusão de que a de classe era uma coisa do passado. O excesso de expontaneísmo e menosprezo dos seus líderes pelas formas das organizações centralizadas ficaram a reboque de entidades que surgiram com programas de supervalorização da luta exclusivamente econômica, em detrimento da luta política. Esse posicionamento favoreceu ao golpe.

O tsunami provocado pelo governo, instalado pelo golpe parlamentar-judicial-midiático, não tem um programa próprio de uma corrente política. Ele é o estafeta condutor da cartilha do “Consenso de Washington” em moldes mais modernos e altamente destrutivos.   Na base dessa ofensiva capitalista, as reformas em curso são apenas uma parte de um capítulo marcante da destruição dos direitos dos trabalhadores.

Na opinião do professor da Unicamp, Reginaldo Moraes, as reformas não afetam apenas economicamente a população que trabalha. “mas também por embutir na vítima a responsabilidade por seu eventual fracasso. Se você não acha emprego bom, é por não ter se esforçado para desenvolver sua ‘empregabilidade’”.

É uma ofensiva de classe. Para os que pensavam ser esse discurso velho, está demonstrado mais atual do que nunca. Estamos diante da contradição “capital versus trabalho”. O futuro que se apresenta é o caráter de modernização por que precisa passar o movimento sindical brasileiro, com a transformação de todo o arcabouço construído, baseadas nas chamadas “novas formas modernas” do novo sindicalismo. Os grupos à frente do processo político, o executivo, parlamento, , com apoio da grande mídia, estão a serviço do internacional, cujo é destruir a soberania nacional em todas as suas estruturas.

A terceira década do século 20, principalmente o ano de 1922, prometia para o momentos importantes para o salto da sociedade da concepção oligárquica escravagista e autoritária, para assistir um cenário com uma sucessão de acontecimentos que mudaria radicalmente a face política e cultural do Brasil. Começaram a surgir no plano nacional diversos atores sociais e políticos que contribuíram de forma decisiva para o declínio e derrocada da Velha República.

Porém, as elites brasileiras jamais toleraram que o trabalhador brasileiro se organizasse como classe. Mais de um século e meio se passou, desde a primeira greve de um setor operário organizado, quando os tipógrafos do Rio de Janeiro, em 1858, cruzaram os braços contra as injustiças patronais e por melhores salários e da grande jornada de 1917, com a primeira Greve Geral no Brasil.

A greve unitária de 28 de abril, como aquela, deve servir de alavanca para a construção de uma “Frente Ampla de Unidade”, da classe trabalhadora e dos organizados, fundante em um programa mínimo de luta, “que defenda os direitos da classe trabalhadora, a democracia, as liberdades políticas e a soberania nacional”. A jornada de 28 de abril pode ser a retomada das lutas operárias dos séculos 19 e 20.sinproep2

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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