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HENFIL 80 ANOS:  LUTA, ARTE E A ESPERANÇA EQUILIBRISTA

HENFIL 80 ANOS: LUTA, ARTE E A ESPERANÇA EQUILIBRISTA

O humor que vale para mim é aquele 

que dá um soco no fígado de quem oprime.”

Por Fernanda Alcântara/MST

Neste 5 de fevereiro, Henrique de Souza Filho, conhecido como Henfil, completaria 8 décadas se ainda estivesse vivo. Um artista cuja caneta era sua principal arma e dançava nos limites do riso e da crítica social. A luta de Henfil permanece até hoje, mesmo após mais de 30 anos de sua partida, em 4 de janeiro de 1988, como melodia de esperança equilibrista, um eco de resistência que transcende o tempo.

Ainda que sejam pelos seus 80 anos, é sempre muito bom rever as obras do mineiro que encontrou na arte do cartum sua voz rebelde, capaz de criar diálogos potentes e provocativos com a sociedade ao seu redor. Com traços ousados e humor afiado, ele desafiou as convenções, transformando suas criações em manifestos visuais de uma busca incansável por justiça e igualdade.

No palco das folhas de papel, Henfil desenhava uma realidade em que a sátira era a espada afiada que combatia a opressão. Seus personagens, como os icônicos Fradins e Graúna, tornaram-se testemunhas de uma era turbulenta, refletindo as contradições de um Brasil em transformação. A caneta de Henfil não era apenas uma ferramenta de expressão; era um grito de liberdade em meio à censura e à repressão política.

Como todo ser vivo, ele tinha suas contradições, mas sua mente voava entre a tinta, os rabiscos, as palavras e tudo o que pudesse provocar, indagar, fazer refletir. Talvez por isso, alguns acreditam, que a ditadura e sua censura burra muitas vezes deixaram ele escapar.

Era, acima de tudo, um apaixonado pelo país. Viajou o Brasil e o mundo e nada era tabu, já problematizava o machismo, a opressão às mulheres, aos homossexuais e o preconceito contra idosos e doentes mentais, ao mesmo tempo em que discutia as relações autoritárias e violentas da ditadura (1964-1985), a fome e os direitos dos trabalhadores. Em sua obra, desenhos contemporâneos falam de poder popular, capacidade de atuação e as múltiplas tensões que marcaram o país.

O artista não apenas retratou a realidade; ele a desafiou, incitando à reflexão e à ação. A luta política era a essência pulsante de sua obra. Em tempos de trevas, Henfil foi uma luz que brilhou com a esperança equilibrista. Sua visão era um convite para acreditar na possibilidade de um mundo mais justo, onde os sonhos não sucumbem à dureza da realidade. Em meio ao caos, ele nos lembrava da importância de manter o equilíbrio entre o riso e a resistência, entre a crítica e a compaixão.

Henfil partiu em 1988, no que muitos artistas chamaram de o último tiro da ditadura. Muitos de seus contemporâneos acreditam que, hoje, ele talvez seria um dos mais atuantes na internet, dada sua incansável vontade de brincar com os meios e multimídias. Mas seu legado permanece como um farol, iluminando os caminhos daqueles que ousam sonhar com um futuro mais humano. Sua arte, impregnada de coragem e compaixão, continua a desafiar as sombras do ódio e do conservadorismo, convidando-nos a nos tornarmos equilibristas em nossa própria busca por um mundo melhor.

Que a esperança equilibrista de Henfil inspire gerações presentes e futuras, a levantar as bandeiras da justiça, da liberdade e da solidariedade.

Viva Henfil!

1516452454183Fernanda Alcântara, com edição de Solange Engelmann. Matéria publicada na página do MST. Foto: Divulgação.

 
 
 
 
 
 
 
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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