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Icamiabas: mulheres sem maridos

Icamiabas: mulheres sem maridos

Conta a sabedoria da história oral que, em tempos imemoriais, as icamiabas, “mulheres sem maridos”, viviam sozinhas, nas barrancas do rio Nhamundá. Ali, no coração da Amazônia, em uma região que ficou conhecida como o “país das pedras verdes”, viviam em um universo regido por suas próprias leis, cercadas por muitos povos indígenas, porém tendo por vizinhos mais de perto o povo Guacari. 

Por Zezé Weiss 

Reza a lenda que apenas uma vez ao ano, durante festa dedicada à Lua, as icamiabas recebiam os homens Guacari e se acasalavam com eles. Depois da festa, mandavam os homens embora. 

Ao se sentirem grávidas, mergulhavam em um lago de nome lago Iacy-Uaruá, em busca das pedras de nefrita, um metal esverdeado, para esculpir o muiraquitã, um pequeno amuleto de pedra vede, em geral em forma de sapo, que guardavam para entregar aos convidados na festa da Lua do ano seguinte. 

Na próxima festa, muitas mulheres tinham parido. As que tiveram meninas, ficavam com elas. Os meninos, as mães entregavam aos Guacari, que os levavam para suas aldeias. Amorosas e guerreiras, as icamiabas optavam por manter seu território exclusivamente feminino, como nas lendas gregas das mulheres com peito de homem (Icamiabas) ou sem peitos (Amazonas).

Lenda ou não, há, entretanto, a descrição de uma “Batalha das Icamiabas”, que teria acontecido por volta de junho de 1542, conforme relato do frei Gaspar de Carvajal. Nessa data, conta o frei, os espanhóis tiveram que recuar, para evitar uma derrota para as valentes guerreiras “altas, de cabelos enrolados na cabeça e com as partes pudentas cobertas”.  

Exceto pelo relato de Carvajal, não há nenhum outro relato conhecido sobre a presença física das icamiabas. A história delas se eterniza pela lenda das icamiabas e por versões correlatas das lendas dos muiraquitãs. 

Porém, muitos arqueólogos já conseguiram identificar os muiraquitãs como artefatos líticos das culturas Tapajó e Conduri, próximas da região teoricamente ocupada pelas Icamiabas no baixo Amazonas. 

Zezé Weiss – Jornalista. Com base em informações de diversas fontes, encontradas na Internet. Foto de capa: Renato Soares.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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