A Lenda do Dia e da Noite
No início não tem tinha nem dia nem noite. Depois… Conheça a versão xinguana da origem do dia e da noite, escrita pelo professor e pesquisador indígena Aturi Kayabi:
No início do mundo as coisas eram todas mal feitas.
Não tinha a noite, só existia o sol.
O dia não tinha fim.
As pessoas trabalhavam sem parar.
Quando dava sono, elas dormiam, acordavam, e o sol estava no mesmo lugar.
O sol era muito quente, a gente assava peixe, cozinhava e torrava farinha na quentura do sol.
Até que certo dia o pajé pensou em mudar.
Ele pegou duas cabaças de amendoim, uma com amendoim branco e outra com amendoim preto.
Primeiro ele quebrou a cabaça de amendoim preto, e a noite chegou.
O pajé dormiu para fazer a distância da noite.
Ele acordou às 3 horas da manhã e disse: Vou dormir mais um pouco.
Quando deram 5 horas, ele quebrou a outra cabaça, de amendoim branco, e o dia clareou.
Por isso é que temos o dia e a noite.
Aturi Kayabi – Pesquisador e Professor indígena, in Geografia Indígena. Parque Indígena do Xingu. MEC/SEF/DPEF – Instituto Socioambiental. Brasília, 1988.
SOBRE O POVO INDÍGENA KAYABI
Em sua grande maioria, o povo indígena Kawaiwete, Kayabi, Kaiabi, Kajabi, Cajahis, Caiabi, composto de um pouco mais de 1.800 pessoas (1855 – Censo Furnas/2010) vive em maioria no Parque Indígena do Xingu, no norte do Estado do Mato Grosso. Existem, também, outros pequenos grupos vivendo na Reserva Indígena Apiaká-Kayabi, próxima ao Rio Teles Pires, no Mato Grosso, e nas Áreas Indígenas Cayabi (Gleba Sul), no sudoeste do Pará.
Os Kayabi, cuja origem do nome é desconhecida pelos próprios Kayabi, falam a língua Caiabi, da família linguística tupi-guarani.
O mais próximo da autodenominação, segundo estudos do etnógrafo Georg Grunberg, que pesquisou os Kayabi nos anos 1960, seria o termo Iputunuun, que significaria “o nosso pessoal”. A maioria dos Kayabi são bilíngues, falam também o Português.
Os Kayabi que vivem fora da região do Xingu não falam mais a língua nativa.
Os Kayabi tem sua história marcada pelo contato conflituoso com seringueiros no século XIX. Esta situação conflituosa marcada pela resistência dos Kaiabi aos invasores de suas terras, assim como pelo desamparo dos índios na luta por suas terras, modificou-se com a chegada dos irmãos Villas-Boas.
Os Kayabi colaboraram na expedição Roncador-Xingu, assim como no processo de pacificação e desbravamento da região. Devido ao envolvimento dos Kaiabi na expedição assim como devido aos problemas que os índios enfrentavam na região, em 1966, os irmãos Villas-Boas conduziram a “Operação Kayabi” na qual os Kaiabi foram gradativamente sendo transferidos de avião para o Parque Nacional do Xingu.
Os Kayabi são exímios artesãos, especializados na produção de belíssimas peneiras.
Fontes: Pib Socioambiental Museu do Índio