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Marcondes Namblá e a banalidade no lugar do respeito

A banalidade no lugar do respeito: Professor Indígena Marcondes Namblá morto por “mexer com cachorro” do assassino

A polícia identificou o assassino do professor indígena Marcondes Namblá, liderança do povo Xokleng, de 38 anos, pai de cinco filhos, que vivia na Terra Indígena Ibirama-La Klãnõ, no município de José Boiteux, brutalmente assassinado a pauladas, no município de Penha, Santa Catarina, nas primeiras horas do ano de 2018.

O professor, que era formado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foi assassinado por Gilmar César de Lima, de 22 anos, teve a prisão preventiva decretada na quinta-feira (4) após representação da Polícia Civil do estado.

O assassino estava com um mandado de prisão em aberto por tentativa de homicídio na cidade de Gaspar (SC) e já teve passagem pela prisão. O criminoso ainda está foragido.

“A gente entrou em choque quando soubemos mesmo o que aconteceu, que ele tinha sido espancado de uma forma tão brutal que chegou a ter traumatismo craniano”, lembra Ana Patté, amiga de Namblá e moradora da TI Ibirama-La Klãnõ.

A família e os amigos receberam, inicialmente, a notícia de que Marcondes havia sido atropelado. Ele tinha ido a Penha com outros 12 indígenas com o objetivo de complementar a renda vendendo picolés na praia.

Situação tensa na região

“A finalização do processo de regularização fundiária da TI Ibirama-La Klãnõ está no Judiciário há anos. Enquanto isso, os Xokleng vivenciam inúmeras agressões por parte da sociedade envolvente, além de grande discriminação”, destaca Juliana de Paula Batista, advogada do ISA.

O Alto Vale do Itajaí, onde está localizada a TI, é visto como um lugar de colonização europeia, não como “lugar de índio”, lembra a advogada. “Grande injustiça contra esse povo que habita secularmente a da região”.

O delegado Douglas Teixeira Barroco, responsável pelo caso, não acredita na hipótese de que o assassinato tenha tido motivações étnicas. “A princípio a motivação foi por motivo de algum desentendimento, um negócio banal.

Depois do ocorrido ele [o assassino] até falou com populares. A princípio o Marcondes teria mexido com o cachorro dele”, diz o delegado. Em um vídeo do momento do crime, o assassino aparece acompanhado de um cachorro. A hipótese da polícia é de que o cachorro tenha avançado em Marcondes, o que gerou uma discussão com o assassino.

“Tiraram nossas terras, nossas histórias, nossos alimentos, nossas matas, e tiram nossas vidas. A gente luta para que isso não fique impune e que não ocorra com mais indígenas, não só no sul do país, mas no inteiro”, diz Ana Patté.

Ela lembra de casos recentes de contra os indígenas no estado de Santa Catarina, como o assassinato de Vitor Kaingang, de apenas dois anos, degolado no colo da mãe na cidade de Imbituba, em dezembro de 2015, e a situação de tensão e ameaças crescentes vividas pelo da Terra Indígena Morro dos Cavalos, no município de Palhoça, na região metropolitana de Florianópolis.

Marcondes lutava pela preservação da Xokleng

“O Marcondes, desde jovem, foi uma das principais lideranças [da TI Ibirama-La Klãnõ], independente da função ou da posição”, lembra Nanbla Grakan, primo e professor da vítima no curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica da UFSC.

Um dos principais trabalhos de Marcondes como professor era a revitalização da língua e da cultura Xokleng La Klãnõ na escola indígena de básica. Além disso, ele ocupava outra função importante, de juiz, uma das autoridades máximas dentro da TI.

Grakan lamenta outra perda com a morte de Marcondes Namblá. Ele e o primo tinham o projeto de criar uma Academia de Letras da Língua Xokleng com o objetivo de ampliar os registros da língua, cujo número de falantes diminuiu bastante nos últimos vinte anos. Grakan é pioneiro no estudo da língua Xokleng que, até os anos 1990 e o trabalho do professor, era ágrafa.

A partir de 1992, por iniciativa de Grakan, o ensino da língua passou a ser incorporado nas escolas da TI Ibirama-La Klãnõ. Ele ainda não sabe como vai continuar a tocar o projeto sem a ajuda do primo, que tinha planos de fazer o mestrado na área de linguística e já era um dos principais estudiosos da língua e da cultura Xokleng. Saiba mais sobre o povo Xokleng.

“Ele era um grande ativista, um grande lutador e amigo de todos. Ele era um amigo para todas as horas”, recorda Ana Patté, que também foi colega de Marcondes na UFSC. Leia a nota de pesar do Núcleo de Estudos de (NEPI) da UFSC e a do curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica.

marcondes nambá pt
Fontes desta matéria: RBA/Portal Vermelho

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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