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ISHTAR: GRANDE MÃE A CORRER OS CÉUS

ISHTAR: GRANDE MÃE A CORRER OS CÉUS

ISHTAR: GRANDE MÃE A CORRER OS CÉUS

Ishtar, Innana, Nanna, Astarte, Starte, Istar, ou conhecida pelo seu nome mais famoso: Ísis. Aquela que abençoou a Rainha Cleópatra com uma estrela de luz radiante que percorre a história até os dias de hoje é a Deusa-Mãe, uma das suas faces, dando ao grão, sendo ele o que for, luz para que haja o brotar fértil de desejos e de fartura

Por Iêda Vilas-Bôas e Reinaldo Bueno Filho

Sua propagação de energia sempre foi saudada em diversas culturas como de tamanha força que ela era a mais amada e a mais temida. Hoje é conhecida ou reverenciada por alguns estudiosos ou membros de seitas que cultuam o Sagrado em suas múltiplas formas.

Inana, a fértil e certa mãe, é quase que totalmente desconhecida para aqueles que creem numa cultura propagada, baseada no monoteísmo bíblico e na homogeneidade.

Seus passos e rastros de luz foram cobertos pela turva visão de delimitação de religiões, numa imperfeição machista em que à mulher é deixada a parte da dor, do sofrimento, da depressão volúvel, de um feminino estigmatizado, da mulher que descia pelo mar às trevas quando triste a chorar, ou mesmo ainda dos contos e dos mitos que envolvem a maldade, o despudor e outros substantivos que mancham o papel, a força e a ação da mulher nos tempos de outrora e nos tempos de hoje.        

Embora algumas partes, provavelmente as mais lucráveis, tenham sido recicladas no cristianismo: a tradição dos ovos e do coelho, que é símbolo da vida na Páscoa, era tradição milenar de diversos cultos à deusa desde muito antes do cristianismo.

Mas não é desta Ishtar renegada que queremos falar. A Ishtar ou Inanna, que saudamos, é a rainha do céu e a regente das estrelas. Acredita-se que Ishtar também era uma estrela e viera, ela mesma, de uma estrela que brilha no amanhecer e no entardecer e é o ponto central de seu culto.

Ishtar é uma força poderosa intuitiva ligada ao início do universo, conhecedora de todos os segredos e uma excelente professora de ciências liberais. A fertilidade é a própria germinação do universo e de todo o conhecimento que há nele, e vem de sua luz.

As constelações zodiacais antigamente já levaram seu nome, eram conhecidas pelos antigos como o “cinturão de Ishtar”. Conta-se que é ela quem percorre o céu todas as noites em uma carruagem puxada por leões reluzentemente dourados, controlando o movimento dos astros e as mudanças do tempo.

Muitos eram os títulos que lhe foram atribuídos – “Mãe dos Deuses, A Brilhante, Criadora da Vida, Condutora da Humanidade, Guardiã das Leis e da Ordem, Luz do Céu, Senhora da Luta e da Vitória, Produtora de Sementes, Senhora das Montanhas, Rainha da Terra”.

Ishtar foi cultuada por milênios como a grande Deusa que carregava todo o encanto e força do sagrado feminino. Era de seu poder também a força criadora e destruidora da vida. Essa força se fazia ver pelas fases da lua nova, crescente e cheia, que favorecem o desenvolvimento e a expansão. No período de lua minguante, respeita-se e cultua-se a finalização dos ciclos anteriores. É ela quem traz o sol todas as manhãs e o deita no colo da lua todas as noites.

Era considerada a Deusa da fertilidade. Era dela o poder de reprodução e crescimento dos campos, dos animais e dos seres humanos. Foi nesta qualidade que se tornou a Deusa do Amor, que teria descido do planeta Vênus, acompanhada de suas seguidoras sacerdotisas Ishtaritu, que ensinaram aos homens a sublime arte do êxtase: sensorial e espiritual.

Os seus arquétipos nos mostram Ishtar como a mãe que segura os seios fartos, a virgem guerreira, a insinuante sedutora, a sábia conselheira, a juíza imparcial, o coelho fértil, ligeiro e simpático, sempre aos seus pés, bem como os ovos a germinar vida.

Ishtar tinha também o poder de descer ao mundo subterrâneo e ficar por ali uma temporada. Quando isso acontecia, era por sua falta que o mundo sofria, havia uma época de terrível depressão e desespero sobre a Terra. Sem a presença de Ishtar nada podia ser concebido, nenhum ser podia procriar, a natureza inteira mergulhava na inércia e inação, chorando por sua volta. Causava revolta essa ausência, e ela então era chamada de “Mãe Terrível, Deusa da Tempestade e da Guerra, Destruidora da vida, Senhora dos Terrores Noturnos e dos Medos”.

E por que Ishtar submergia? Era ali, naquele mundo, que ela podia ensinar os mistérios, revelar as coisas ocultas, propiciar presságios e sonhos, permitir o uso da magia, o alcance da sabedoria e a compreensão dos ciclos da vida e da natureza.

Em culturas múltiplas, era ela: polaridade em seu poder e cumplicidade com a formação e reformação, a criação e recriação – a fertilidade. Em suas formas variadas e mutantes, Ishtar desempenhava as habilidades da essência feminina, era a personificação do princípio feminino como o Yn, tanto como o de Anima.

As mulheres da Babilônia, Suméria, Anatólia, Mesopotâmia, celebravam e cultuavam Ishtar na lua cheia e lhe ofertavam velas, flores, perfumes, mel e vinho, cantavam-lhe hinos, dançavam em sua homenagem e invocavam suas bênçãos para suas vidas, suas famílias e sua comunidade.

Ishtar, ainda hoje, é uma deusa associada ao amor, ao erotismo, à fecundidade e à fertilidade. Representa o planeta Vênus e seus símbolos mais importantes, em seu atual culto, incluem o leão e a estrela de oito pontas.

Com o nascer do cristianismo, Inana-Ishtar perde seu lugar no panteão dos deuses.  Encontramos menção aos seus poderes e nomes na Bíblia Hebraica, da qual folhas foram suprimidas a mando do patriarcado.

Não era prudente ter uma deusa a quem as mulheres se voltavam para o nascer, o morrer e toda espécie de ajuda.

Ishtar também dominava outras divindades, inclusive o deus da sabedoria. Inana era a executora da justiça divina. Incrível como o passar dos séculos tentou suplantar tamanho poder (mas sua luz ainda percorre o vão do espaço e tempo, levando conhecimento para quem a procura).

Foi renegada pelo monoteísmo, calada pelos interesses prementes, reduzida a mito, a lenda, a histórias mal contadas, Ishtar sempre foi e será o sustentáculo da feminilidade, o socorro no desamparo da mulher e na superação da crença na fraqueza feminina. E com status de poder equiparado a qualquer um dos mais forte Deuses.

Estamos atravessando um portal e que todas as Deusas do Sagrado feminino possam assumir seu lugar no telúrico, na alma e no ser sobrevivente desse caos, para que o equilíbrio possa reinar na natureza. Luz a sua força, sempre, em cada sombra.

Que se faça e aconteça, neste tempo, o seu clarão iluminando a vida. Salve!

Iêda Vilas-Bôas – Escritora. Reinaldo Filho Vilas Boas Bueno – Escritor.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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