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CHICO MENDES, MUITO OBRIGADO POR JOÃO REZENDE

JOÃO REZENDE: CHICO MENDES, MEU MUITO OBRIGADO!

Chico Mendes, meu muito obrigado!

Chico Mendes, Meu muito obrigado!

Grande mártir da ecologia

Chico Mendes, Meu muito obrigado

Por João Rezende

Vou erguer a bandeira da paz

Nesses versos que a alma revela

Quero ver a poesia da vida

E o amor refletidos na tela

Semear quantas flores puder

Abolindo os espinhos do mal

Quero ser portador da esperança

Dar exemplos por meu ideal

Fazer versos de luz e verdade

Ir além deste corpo animal

Em defesa do meio ambiente

(…)

Constrangidos com a banalidade

Publicada em todos os jornais

O extermínio de um ecologista

Empecilho de alguns anormais

Este tema por mim escolhido

É tributo ao bravo soldado

Grande mártir da ecologia

Chico Mendes, meu muito obrigado!

Grande mártir da ecologia

Chico Mendes, meu muito obrigado!

 

Em destaque o vermelho se expande

Pelo verde da nossa bandeira

No sinistro final desta era

Que confisca a paz brasileira

Que as abelhas da publicidade

Permaneçam sempre sem em evidência

Pra que a morte do ecologista

Não se afaste de nossa consciência

A razão está fora de uso

A justiça que o mundo recusa

Permanece no esquecimento

A consciência já nem mais acusa

Este tema por mim escolhido

É tributo ao bravo soldado

Grande mártir da ecologia

Chico Mendes, Meu muito obrigado!

Grande mártir da ecologia

Chico Mendes, Meu muito obrigado!

João Rezende

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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