KEREPIYUIA: A MÃE DO SONHO

Kerepiyua: A mãe,  a origem do sonho 

Para os Tupi é uma velha que desce do céu, mandada por Tupana, e que entra no coração da gente, enquanto a foi por este mundo afora, para voltar quando a gente acorda.

Então a alma, de volta, encontra no coração o recado de Tupana e que a velha deixou, esquecendo tudo o quanto viu durante a vadiação.

Como, porém, nem sempre Tupana manda recados, e a alma quando volta relembra muitas vezes, senão sempre, o que viu no em que estava fora, temos duas espécies de sonhos: uns que representam a vontade de Tupana e que o Tapuio acata e cumpre, procurando conformar-se com a vontade neles expressa como avisos divinos; e outros que nada são, e nada valem.

A dificuldade está em distinguir uns dos outros, ofício que pertence aos pajés, embora eles também nem sempre acertem.

As tribos Banivas, Manaus, Tarianas, Barés, etc. dizem que a que desce do céu não é uma velha, mas é uma moça sem pernas, que os Banivas chamam de Anabaneri e que desce de preferência nos raios das estrelas, pelo caminho do arco-íris, pelo que os sonhos mandados por Tupana são os que se fazem de dia.

Para os Tupis, pelo contrário, eram de madrugada, quando a velha descia nos últimos raios das estrelas.

Ermando de Stradelli (1852–1926) – Conde de Stradelli, nasceu em Borgotaro, Piacenza, Itália, a 8 de dezembro de 1852, e faleceu em Umirisal, perto de Manaus, a 24 de março de 1926. Estudou otimamente costumes, superstições e lendas dos indígenas amazonenses, em cujo ambiente se adaptou. Seu trabalho principal, publicado depois de morto o autor, com o simples título de “Vocabulários”, é indispensável pela variedade da informação.

Fonte: e Biografia de Stradelli. Luís da Câmara Cascudo, Antologia do Brasileiro – Volume 2, Editora Global, 2002.

Ermanno Stradelli: um olhar sensível e respeitador sobre as culturas indígenas do Amazonas

Por Clarissa Bacellar/Portal da Amazônia 

O conde naturalista Ermanno Stradelli é conhecido por ter sido pioneiro nos estudos e publicações sobre os relatos dos do .

Conde naturalista ítalo-brasileiro, nascido em meados do século XIX, em 1852, na cidade de Borgotaro em Piacenza, Ermanno Stradelli era o primogênito de uma família nobre de sete irmãos, renunciou um estilo de vida confortável e aos estudos da faculdade de direito na Universidade de Pisa para viver no coração da selva amazônica.

Para que esta aventura fosse possível, dedicou-se, de forma autodidata, aos estudos das línguas espanhola e portuguesa, além de topografia, design, astronomia, meteorologia, ornitologia, botânica, farmácia, homeopatia, etnologia e fotografia, que serviram de base para as observações tecidas em suas expedições.

Brasil 

Em 1889, Stradelli chegou ao Brasil com o apoio da Real Sociedade Geográfica Italiana, instituição para a qual enviava os relatórios, alguns deles eram acompanhados por fotografias de autoria do próprio naturalista. Foi em junho deste mesmo ano que aportou na cidade de Manaus, local que serviu como ponto de partida de diversas expedições, que tiverem como objetivo a investigação da geografia Amazônica e da cultura dos povos indígenas que ali habitavam.

Naquele período, a cidade de Manaus passava por transformações em decorrência do Ciclo da Borracha, cujas mudanças eram refletidas principalmente em seu conjunto arquitetônico que ostentava os reflexos da prosperidade econômica da região. construções, valorizando principalmente a arquitetura neoclássica, são apresentadas em algumas das fotografias de Stradelli.

Além de paisagens urbanas, o conde registrou suas passagens em diversas expedições. A primeira delas ocorreu em 1880, seguindo os cursos do rio Purus e seus afluentes, Mamoré e Ituxi. Parte dessa expedição teve a companhia dos missionários franciscanos Venanzio Zilochi, Matteo Canioni e Francesco Sidane.

Foi durante esta viagem que também conheceu Alessandro Sabatini, que o influenciou a estudar a língua nheengatu, língua nativa da região do Alto Amazonas.

Expedições 

Dentre as principais expedições acompanhadas por Stradelli, também se destaca a Pacificação dos Crichanás, ocorrida no ano de 1884. Uma missão coordenada por João Barbosa Rodrigues, então diretor do Museu Botânico de Manaus.

A expedição percorreu o rio Jauperi e, a partir dela, Stradelli fez importantes registros manuscritos e fotográficos, alguns dos quais estão preservados nos arquivos da Sociedade Geográfica Italiana.

Outras expedições significativas de Ermanno Stradelli ocorreram ao longo do rio Uaupés e seus afluentes. Ao todo, foram três expedições pelas águas deste rio, percorrendo cerca de 700 quilômetros. Na última delas, iniciada em 1890 e finalizada em 1891, o fotógrafo teve a companhia de Maximiliano José Roberto, um índio mestiço, que o auxiliou no registro de mitologias indígenas, dentre elas a Lenda do Jurupari, publicada em italiano, em 1890, pelo Boletim da Sociedade Geográfica Italiana.

Stradelli foi pioneiro ao registrar, de forma textual, e respeitando o contexto da mitologia com base na mitologia . Jurupari, nesse sentido, aparece como figura legisladora, diferente da visão dos missionários católicos que o consideravam como demônio.

Por ter tido um olhar sensível e respeitador com os indígenas ele foi apelidado de O filho da Cobra Grande.

Amazonas 

Stradelli viveu 43 anos no Amazonas, recebeu brasileira no ano de 1893. Atuou como promotor público em Tefé, após ter retornado à Itália e finalizado os estudos em Direito.

Sua última expedição ocorreu no Alto Rio Branco, organizada pelo governador do Amazonas Constantino Nery. Dessa expedição, Stradelli organizou um mapa da Bacia do Rio Branco, publicado junto ao álbum O Valle do Rio Branco, com fotografias de autoria de George Huebner.

Ermanno Stradelli faleceu, em 1926, em Manaus, após contrair lepra. Na contramão dos moldes daquela época, desenvolveu uma compreensão humanizada em relação as culturas indígenas

Além de ter sido pioneiro no registro fotográfico desses povos, Stradelli foi precursor na coleta, documentação e divulgação de narrativas mitológicas indígenas. Além de ter registrado, de forma escrita, a língua Nheengatu.

Este foi criado com base na publicação de: RAPONI, Lívia (org.). A única vida possível: itinerários da vida de Ermanno Stradelli na Amazônia. São Paulo: Editora Unesp, 2016.

KEREPIYUIA: A MÃE DO SONHO
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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