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A lama da Samarco

A lama da Samarco

A lama da Samarco

Aos 13 dias do mês de junho destes tempos temerários, um dia antes do criminoso  ataque do latifúndio aos Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul, João Lara Mesquita publicou em seu blog  Mar Sem Fim  (marsemfim.com.br) o texto “A lama da Samarco“, com um resumo dos últimos acontecimentos nesta tragédia do rio que os Krenak chamam de Watu, e que nós conhecemos como rio Doce, esse riozinho mineiro que passou pelo maior  desastre ambiental e pelo maior crime ecológico da história do Brasil, e que continua agonizando, quase sem respirar, por conta da omissão e dos desmandos de quem devia cuidar – mas não cuida – do nosso patrimônio ambiental e de todos os seres viventes que nele habitam. Por essa razão, reproduzimos  aqui, na íntegra, o texto de Mesquita.

Passados cinco meses do acidente na barragem de Mariana, a lama tóxica produzida pelos rejeitos da mineradora Samarco continua a poluir córregos da bacia do Rio Doce. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais deu prazo de cinco dias para que a Samarco acabe com o vazamento. A mineradora fica também impedida de retomar qualquer empreendimento no complexo  de Germano até que a lama seja totalmente contida. A decisão, proferida em 6 de abril em caráter liminar, foi tomada pelo pelo juiz Luis Fernando Benfatti.

A lama da SamarcoFoto:opiniaoenoticia.com.br

Morosidade e falta de articulação redundam em mais prejuízo

É inacreditável como as autoridades vêm reagindo ao “maior acidente ecológico do Brasil”. Mesmo tendo sacudido a opinião pública, e gerado clamor de justiça, passados cinco meses a poluição continua.

O que você leu acima foi escrito em Maio de 2016. Dois meses depois, em junho, continua a palhaçada

Em primeiro de junho o Estadão publicava a matéria “Samarco não controlava lama da Vale em barragem (pag A 13).” A matéria foi baseada nas conclusões de relatório de investigação da Polícia Federal. No corpo dela a explicação:
A Vale, dona da Samarco junto com a inglesa BHP Billiton, mantém próxima da área de Fundão a mina da Alegria. Segundo o relatório da polícia, foi constatada diferença entre o volume declarado pelas empresas Vale e Samarco, e a quantidade real de rejeitos de lama despejada na barragem de Fundão

Primeiro de junho de 2016: “Samarco não fazia medição de lama depositada pela Vale na barragem de Fundão”

A matéria prossegue com a declaração acima, feita pelo gerente- geral de Operações da Samarco, Wagner Millagres. De acordo com a Polícia Federal, este pode ser um dos motivos que provocaram a a ruptura da represa.

Samarco e Vale mentem

O relatório da PF mostra que o volume de rejeitos de minério lançados pela Vale em Fundão seria superior ao declarado. Há suspeita que os registros de lavra tenham sido adulterados.

Sete messe depois da tragédia, Samarco não começou obras para evitar  novas tragédias

“Samarco trava ação para evitar vazamento”, foi o título da matéria da Folha, que trouxe a informação acima.

Rejeitos continuam sendo carregados pela água

A matéria informava que
até agora as estruturas provisórias feitas pela mineradora têm sido ineficientes para evitar que os rejeitos sejam carregados pela água.

60 milhões de metros cúbicos de lama despejados

No total, o acidente liberou cerca de 60 milhões de metros cúbicos de lama, que destruiu distritos da cidade de Mariana, escorrendo ao longo dos quase 700 km entre o local da ruptura e a foz do rio Doce.

Cara- de- pau, mesmo com as informações acima, a Samarco faz campanha para retomar atividade

O pior é que o prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS), esteve com Temer para pedir que o governo federal autorize a volta das operações da Samarco.

10 de junho de 2016

Passados sete meses da tragédia, só agora a PF indiciou oito pessoas. Sete delas, executivos da Samarco, foram indiciadas pela Polícia Civil; uma, também funcionário, pela Polícia Federal.

Samarco usou material mais barato que o previsto no projeto original

Roger Lima, delegado que preside o inquérito, chegou à conclusão acima no mesmo laudo. Segundo ele, em vez de brita, foi usado ‘resto de minério’. Tanto a Samarco como, com a Vale, ‘repudiaram o inquérito’.

12 de junho de 2016, Folha de S. Paulo: “licença de barragem da Samarco foi fraudada”

A novela continua…Segundo a Folha, a informação sobre a fraude é do Ministério Público de Minas Gerais. De acordo com a denúncia, a barragem também não tinha licença ambiental para receber rejeitos de minério da Vale. Cálculo da Polícia Federal mostra que 28% da lama jogada em Fundão era da Vale.
As denúncias foram aceitas pela Justiça de Minas Gerais, dia 9 de junho. As empresas, e oito funcionários, são agora réus no processo. Enquanto isso, a Samarco, certa da tradicional impunidade, diz que sempre cumpriu a legislação relativa ao licenciamento e à operação barragem.

A lama da SamarcoFoto:portaltemponovo

Onde está o Sérgio Moro deste caso???
Quanto tempo vamos aguardar até que a palhaçada termine, e os responsáveis sejam punidos?

Nada de punição, empresa usa recursos para evitar multas

Ninguém foi punido até agora. Os processos na justiça caminham lentos e as multas do Ibama, e da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, de Minas Gerais, seis no total, somando R$ 362 milhões, foram todas contidas através de recursos jurídicos feitos pela empresa.

Enquanto isso o Prefeito, e a própria Samarco, pedem para o trabalho voltar

A despeito dos 19 assassinatos de pessoas, e o do rio Doce, provocado pela canalhice da empresa, o prefeito de Mariana, e a própria empresa, pedem para voltar ao trabalho. E é bem possível que isso aconteça, tal qual no episódio da Lava Jato, e das empreiteiras corruptas que, ao que tudo indica, continuarão a trabalhar em obras do governo federal. Só mesmo no país de Macunaína!!!

Samarco, Vale, e BHP Billiton: três empresas calhordas!

A Samarco é de propriedade das duas gigantes do setor de mineração. Ao menos uma delas, a BHP Billiton, tem enorme ficha policial por estragos causados. A empresa é especialista em matar rios, detonou dois de uma só vez em Papua Nova Guiné, depois, para não ser acionada, foi acusada de assinar acordos que extinguiram as indenizações com aborígenes que sequer sabiam o que estavam assinado. E mesmo assim o Brasil a recebe de braços abertos…

A lama da SamarcoFoto:diariodocentrodomundo

ANOTE:

  • O Rio Doce nasce na Serra da Mantiqueira,  em uma fazenda de nome Morro Queimado, no município de Ressaquinha.
  • O Watu passa a se chamar Rio Doce a partir do município de Ponte Nova, onde o Rio Piranga encontra o Rio do Carmo.  No total, tem 853 km de extensão e banha os estados de Minas Gerais e Espírito Santo.
  • O Rio Doce  tem por principais afluentes os rios Xopotó, Piraciaba, Casca, Santo Antonio, Corrente Grande, Suaçuí Pequeno, Grande, Manhuaçu, Guandu e são José.
  • Abrangendo uma área de  83.400 km2 ( o que equivale a duas vezes a área do estado do Rio de Janeiro),  a bacia hidrográfica do Rio Doce está totalmente inserida  na Região Sudeste.
  • O Watu deságua no Oceano Atlântico.

SOBRE O DESASTRE ECOLÓGICO QUE SE ABATEU SOBRE O RIO DOCE:

  • O desastre ocorreu na tarde do 5 de novembro de 2015, com o rompimento da barragem do Fundão, localizada próxima à cidade de Mariana, em Minas Gerais.
  • Com o acidente, 60 milhões de m³ de lama, resultantes da produção de minério de ferro pela mineradora Samarco –empresa controlada pela Vale e pela britânica BHP Billiton, foram lançados no meio ambiente.
  • 207 de 251 edificações, a maioria residências de funcionários/as ficaram soterradas no Distrito de Bento Rodrigues, também em Mariana.
  • 663 km de córregos e rios foram atingidos.
  • 1.469 hectares de vegetação foram danificados.
  • Morreram milhares de peixes e outros animais. Das mais de 80 espécies nativas de peixes da região, 11 estão consideradas em risco de extinção, e 12 só existem na bacia do Rio Doce (dados do IBAMA).
  • 600 famílias ficaram desabrigadas.
  • 17 pessoas foram confirmadas como mortas.

OBSERVAÇÃO: Os dados sobre o Rio  Doce e sobre a tragédia de Mariana vieram de fontes diversas, disponíveis na interet. As impressionantes e maravilhosas fotos desta matéria aparecem publicação original do Mar Sem Fim e foram “importadas” junto com o texto do João Lara Mesquita (marsemfim. Gratidão.

Obs.: publicado originalmente em 19 de jun de 2016


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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