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Legado de Lênin permanece vivo após cem anos de sua morte

Legado de Lênin permanece vivo após cem anos de sua morte

O legado e obra teórica e política de Lênin são de um gigantismo ímpar na história mundial. Lênin foi organizador de uma força política voltada para a tarefa revolucionária e construiu a teoria para um partido revolucionário

Por Altair Freitas/Portal Vermelho

A revolução proletária perdeu Lênin em 21 de janeiro de 1924. Uma perda imensa, ainda jovem, aos 53 anos. Muito ainda poderia contribuir com a construção da jovem União Soviética e com o movimento comunista em geral, não tenho dúvida. No entanto, seu legado, sua obra teórica e política, são de um gigantismo ímpar na história mundial.

Afinal de contas qual personagem da história conseguiu unir em si as capacidades de filósofo, organizador de uma força política revolucionária, comandar uma revolução e iniciar a construção de uma sociedade baseada em novas relações sociais de produção? Sem desconsiderar outros grandes filósofos, políticos e revolucionários.

A questão concreta é que para além de ser um pensador, organizador, líder revolucionário, o impacto profundo de cada uma dessas características, se as olhássemos isoladamente, já seriam inusitadas. Somadas, criam um ineditismo histórico. Para efeito de simplificação do raciocínio e entendimento, considero que Lênin cumpriu esses três papéis e é em cada um deles que quero me deter.

Muito tem sido escrito e debatido sobre o “Lênin teórico” ou ainda o “Lênin Marxista”. Da forma como enxergo sua produção intelectual, ele foi um estupendo aprendiz da obra de Marx e Engels, mas também da obra de Hegel, que estudou com afinco, especialmente entre 1914 e 1915, o que lhe possibilitou rever e alterar algumas conclusões anteriores sobre o pensamento dialético e o materialismo histórico, sofisticando ainda mais a sua produção teórica e política nos anos seguintes.

Na condição de continuador essencial do pensamento de Marx e Engels, Lênin enfrentou enormes embates teóricos contra o que ele costuma chamava chamar de “marxismo vulgar”, pensadores e movimentos políticos que, ao se dizerem “marxistas”, pouco compreenderam a riqueza do pensamento original dos dois filósofos alemães.

Ao mesmo tempo, enfrentou os detratores do marxismo, especialmente pensadores e movimentos alinhados com a burguesia e que rechaçavam a teoria revolucionária criada por eles.

Lênin não foi um mero reprodutor do marxismo. A partir do estudo profundo do pensamento marxista original, teve a imensa capacidade de compreender os novos fenômenos que as contradições do capitalismo haviam engendrado, desde as décadas finais do século XIX.

Marx e Engels, especialmente Marx, falecido em 1883, não haviam vivenciado plenamente os horrores do Imperialismo, fenômeno que se consolidou de modo avassalador a partir da “Conferência de Berlim” (1885).

É claro que o colonialismo europeu era mais antigo, remontando ao século XVI, mas é nas últimas décadas do século XIX que o neocolonialismo/imperialismo um fenômeno de abrangência efetivamente global, especialmente na África e Ásia, mas com a estreita vinculação entre os recém-formados países da América Latina com o capitalismo britânico, associado diretamente à consolidação de um núcleo de países primordialmente capitalistas e altamente industrializados.

É nesse contexto de consolidação econômica, política e ideológica do capitalismo e sua brutal agressão imperialista aos povos do mundo, que Lênin inicia sua trajetória como pensador e revolucionário na “Velha Russa”.

Novos fenômenos exigiam interpretações novas, proposituras políticas renovadas, evidentemente à luz do guia essencial produzido por Marx e Engels, o materialismo histórico-dialético. Múltiplas foram as contribuições de Lênin para o entendimento dessa “fase superior do capitalismo” como bem expressa sua mais conhecia obra sobre o tema.

Diante dessas condições históricas, e a partir das contradições profundas da sociedade russa do seu tempo, desde a juventude Lênin se pôs a enfrentar o ainda predominante absolutismo monárquico czarista e o atraso fenomenal do seu país, especialmente na economia, de base profundamente agrária com resquícios do feudalismo.

A “Velha Rússia” era uma vastidão geográfica assentada em uma economia bem atrasada em relação às demais potências europeias. Para o jovem Lênin, a única forma de transformar, modernizar e criar uma sociedade mais justa, era construir uma organização política que conseguisse organizar parcelas do povo para alterar a situação vigente.

Influenciado diretamente pelo marxismo. Em 1895 ele funda um pequeno grupo intitulado “Liga de Luta Pela Emancipação da Classe Trabalhadora”. Nos anos vindouros, juntando esforços com outros jovens militantes russos inspirados pelo marxismo, daria vida ao Partido Operário Social Democrata Russo, processo que se deu entre 1898 e 1903.

Como é amplamente sabido, o POSDR ficou conhecido como Partido Bolchevique, e após a revolução socialista de 1917, tornou-se o Partido Comunista da União Soviética.

O que nos importa aqui é exatamente o papel de Lênin como organizador de uma força política voltada para a tarefa revolucionária. Grande parte do esforço teórico de Lênin, desde a fundação do POSDR, foi no sentido de construir uma “teoria para um partido revolucionário”, o que era de fato um vácuo na produção marxista original.

Nessa fase de duas décadas de construção partidária, Lênin enfrentou toda sorte de atribulações, perseguições, prisões, exílios, enquanto construía o partido na luta, por um lado, e desenvolvia os novos aspectos teóricos do marxismo, à luz dos novos fenômenos e dos novos embates.

De um lado, com a burguesia; de outro e da luta de ideias no seio do próprio partido e em relação a outras correntes de opinião, sempre buscando agregar para a luta pensadores (as) marxistas e formar através do partido novos (as) intelectuais forjados diretamente a partir das lutas proletárias e do campesinato, estimulando com afinco para que seus militantes estudassem, desenvolvessem suas capacidades intelectuais, não ficando apenas no ativismo.

Levando isso em conta, Lênin foi também um grande professor!

Por fim, temos o terceiro grande pilar da obra leninista, que é a condução do processo revolucionário e a construção de uma nova sociedade especialmente no ano de 1917, quando a Rússia foi sacudida inicialmente pela “revolução de caráter burguês” de fevereiro, passando pela Revolução de Outubro, avançando pela brutal guerra civil contra os “russos brancos” e nada menos do que ao menos sete exércitos estrangeiros que visavam destruir o jovem país socialista que estava sendo gestado, guerra que durou até 1923!

O processo revolucionário no ano de 1917 exigiu do pequenino Partido Bolchevique, em fevereiro, uma mudança drástica de rumos na sua organização interna e Lênin liderou um dos maiores movimentos da história de reconfiguração orgânica, possibilitando a “abertura” do partido para centenas de milhares de operários, camponeses, soldados e marinheiros em um curtíssimo período de tempo.

Eis aqui um exemplo absolutamente cristalino sobre a importância de contar com uma força revolucionária, de vanguarda, preparada para estabelecer os rumos de um processo político em momentos de extrema radicalização da luta de classes.

Além de receber a adesão massiva e orgânica de uma grande quantidade de novos (as) militantes, o Partido Bolchevique estabeleceu um grande número de alianças políticas com outros partidos de extração revolucionária e grupos políticos, como o liderado por Leon Trotsky, em julho daquele ano.

Coube ainda uma brevíssima aliança com o “Governo Provisório” liderado por Kerenski – que perseguia brutalmente os bolcheviques após uma primeira tentativa de insurreição em julho – diante da ameaça de um golpe militar liderado pelo czarista general Kornilov.

E em pleno fervor revolucionário que tomava as cidades, os campos e os quarteis, ainda produziu um dos mais memoráveis tratados sobre tática e estratégia, as “Teses de Abril”, um conjunto de considerações e orientações ao Partido Bolchevique, que, ao fim e ao cabo, resultaram na revolução vitoriosa.

Finalmente, temos o Lênin dirigente de uma nação devastada, conflagrada pela primeira guerra e desorganizado ainda mais pela Guerra Civil. Ainda mais, construindo sobre os escombros – inclusive os literais – da velha sociedade russa e do capitalismo europeu devastado pela violência da guerra mundial de 1914-1918.

É o “Lênin governante”, tendo que enfrentar junto com seu Partido Bolchevique e aliados, a organização de um “Estado de Novo Tipo”, com essência proletária em aliança com o campesinato e as forças militares que aderiram à Revolução de Outubro.

Muito haveria a ser dito sobre esse período, de outubro de 1917 até o seu adoecimento precoce a partir de 1922, atingido por derrames cerebrais. Muitos pesquisadores afirmam que tais derrames estavam ligados ao atentado a tiros contra ele em 1918.

Sob o comando de Lênin, iniciou-se a estruturação de um “Estado Proletário”, que visava “quebrar as estruturas do Estado burguês” e edificar a sociedade socialista.

Durante esse curto período, Lênin comandou o duríssimo período do “Comunismo de Guerra” (1917-1921) e, vencida a contrarrevolução, a implantação da NEP (Nova Economia Política), na prática, duas estruturas econômicas, em um período de seis anos, até o seu falecimento no fatídico 24 de janeiro de 1924.

E como se as tarefas de edificação do Socialismo e defesa armada da revolução não bastassem, sob sua inspiração e direção, estruturou-se a Internacional Comunista, que foi essencial para a expansão das ideias revolucionárias e da fundação de dezenas de Partidos Comunistas pelo mundo, inclusive o nosso Partido Comunista do Brasil, em março de 1922.

Lênin comandou pessoalmente esse esforço internacionalista histórico. Entre 1919 e 1922, foram realizados nada menos do que quatro congressos da Internacional.

Claro, é preciso destacar que a maior parte disso não teria sido possível, especialmente a construção de um partido revolucionário, a revolução em si e a construção do Socialismo, sem a participação decisiva de milhares, dezenas de milhares de revolucionários e revolucionárias, sem a ação decisiva de amplas massas populares da cidade e do campo que se engajaram na luta de resistência à contrarrevolução e à edificação do socialismo.

Se concordamos com Marx de que a luta de classes é o motor da história, as mudanças históricas necessitam do engajamento coletivo, da classe essencialmente revolucionária a cada tempo histórico.

Contudo, é preciso considerar que as massas populares sempre necessitaram de organizações políticas apontando os rumos das lutas, das mudanças.

E essas organizações são compostas e lideradas por expoentes da história. Lênin, portanto, foi um dos expoentes mais proeminentes da nossa história.

Fonte: Portal Vermelho Capa: Reprodução

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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