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Lições eleitorais: o novo era velho

Lições eleitorais: o novo era velho

Por Helena Chagas

Não chega a ser uma supresa a constatação de que o discurso da “nova política”que elegeu tanta gente em 2018 era, na verdade, um grande engodo. Com raras exceções — porque elas existem –, seus representantes, muito mais cedo do que se previa, perderam a maquiagem e a aura do bom-mocismo. Estão expostos, agora, com todas suas rugas, pelancas e banhas que tentaram esconder na eleição — e que talvez tenham passado despercebidas porque aqueles que se espremiam dentro de cintas modeladoras eram desconhecidos do grande público, “outsiders”, como muitos gostam de dizer.

 
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Wilson Witzel – Foto Orlando Brito

Desse período triste da nossa história, em que a política foi criminalizada e o fato de o candidato nunca ter sido visto mais gordo pelo eleitor passou a ser vantagem, restaram apenas a perplexidade e, ainda bem, as lições. Quem sabe o eleitor não pensará melhor e vai desconfiar de que há algo errado quando se deparar com outros juízes Witzels da vida prometendo atirar “na cabecinha” nos bandidos?

Ou perderá aquela ingenuidade de acreditar que alguém eleito sob a égide do O novo que era velhopresidencialismo à brasileira conseguirá governar sem o toma-lá-dá-cá com o Congresso? A não ser que se eleja com uma bancada de 400 deputados — o que o nosso sistema nunca permitiu — o presidente da República só governará se fizer acordos com o Congresso. Obviamente, Bolsonaro, com seus sete mandatos nas costas, sabia disso e mentiu quando disse outra coisa.

Assim como, no governo, passou a atirar naquilo que todo mundo achava ser um dos pilares de sua eleição — a Lava Jato e o combate à corrupção. Bem feito pra quem acreditou — na Lava Jato e em Bolsonaro. Entre os bem intencionados que povoam o inferno e os que se utilizaram desse discurso com absoluta má-fé, o fato é que a nova política nunca existiu, e estamos tendo provas disso todos os dias.

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João Amoedo

É uma piada pronta assistir o barraco velho no Partido Novo — aquele que sempre teve pose de quem se acha melhor do que os outros. O partido rachou em torno do bolsonarismo e suspendeu seu candidato à prefeitura de São Paulo, Filipe Sabará. Além de ter defendido Paulo Maluf — que não é exatamente um símbolo de probidade na política — ele está sendo acusado pelos colegas de “inconsistências”no processo seletivo de escolha de candidatos. E já saiu se declarando perseguido pelo dirigente da legenda, João Amoêdo.

No mundo da velha política, vemos todos os dias esse tipo de futrica dentro dos partidos, que normalmente sobrevivem a elas. Para quem se criou em cima da balela de que inaugurou novas práticas na política, pode ser fatal. E é por aí que, quem sabe, a eleição municipal de 2020 represente uma espécie de fim das ilusões, ou seja, o retorno do eleitor à sua realidade política — que, de fato, é muito dura, mas tem que ser encarada sem maquiagens e disfarces. Em outras palavras: fora, ousiders!

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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