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Benki Piyãko pode ser preso por defender seu povo

Benki Piyãko pode ser preso injustamente por defender seu povo

Por Zezé Weiss

Exceto pela clara opção pela defesa dos interesses de uma minoria opressora,  em evidente detrimento dos humanos direitos da grande maioria oprimida, difícil, muito difícil de entender a lógica desse golpe e do judiciário que o respalda.

Justo nesse momento em que, no Rio de Janeiro, o morro enterra , cria preta da da Maré, como ele mesma gostava de dizer, barbaramente executada por denunciar os violentos abusos de uma polícia empoderada pela presença ostensiva da botas de uma Intervenção Militar, do Acre chega o pedido de socorro do indígena  Benki Pyiãko, líder espiritual e representante político do povo Ashankinka da região acreana do rio Amônia, na divisa do com o Peru.

Denunciada por suas amizades nacionais e internacionais nas mídias alternativas, a história da Benki beira ao absurdo: Ameaçado por mineradores e madeireiros por defender as comunidades indigenas do Acre da ação nefasta dos mineradores e dos madeireiros que teimam em fazer da terra arrasada pelo veneno do mercúrio e pela pata do boi, Benki buscou a proteção da justiça brasileira nos tribunais do estado do Acre.

“Essa é minha sentença. É muito triste ver um país nessa situação onde pedimos proteção e somos incriminados pela justiça. Vamos colocar nas redes sociais para cobrar do Estado essa injustiça contra a minha pessoa. Vou divulgar uma carta de repúdio pedindo apoio de assinaturas de todo mundo que conheci sempre lutando por um mundo melhor. Escreva nas redes sociais pedindo ao Estado responsabilidade [na reparação] deste erro cometido. Tantas mortes e tantos líderes humilhados em nosso país. Sou um ser humano que luta com consciência para defender os direitos dos menos favorecidos nesta terra.

Respeitado por sua comunidade e  premiado no Brasil e no mundo por seu trabalho incansável na defesa da e de meios de vida sustentáveis para os , depois de enfrentar conflitos na cidade acreana de Marechal Thaumaturgo, distante cerca de 630 km da capital do estado, Benki protocolou, em abril de 2015,  pedido de proteção à sua integridade física junto à 1a  Vara Criminal da Comarca de Cruzeiro do Sul, na região acreana do Alto Juruá.

Durante o processo de tramitação do caso, o judiciário local decidiu por arquivar a denúncia, e foi além: propôs o indiciamento do líder indígena por “acusações caluniosas.” Lamentavelmente, o Ministério Público do Acre aceitou a causa e propôs ação judicial contra Benki que, como em outros casos recentes na justiça brasileira, poderá, sem crime e sem provas, ser  injustamente condenado a oito anos de prisão.  Ou seja, Benky foi ao estado brasileiro em busca de proteção e pode sair desse processo condenado por um crime que não cometeu.

Em defesa de Benki, circula na internet uma petição (ver abaixo). Você pode expressar sua solidariedade assinando e compartilhando este abaixo-assinado entre suas amizades e em suas redes sociais. É preciso ter força para lutar contra esta e contra todo e qualquer tipo de injustiça porque ontem foi a Marielle e seu motorista Anderson Gomes, na próxima semana será o , condenado sem crime e sem provas, depois pode ser o Benki, depois pode ser qualquer um/a de nós.

Benki Pianko Ashaninka3

Vale lembrar os versos do grande Bertolt Brecht em seu INTERTEXTO:

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

 

TODA NOSSA SOLIDARIEDADE A BENKI ASHANNINKA!

Uma resposta

  1. Exterminar populações nativas para ocupar seus territórios é uma tradição brasileira. Começou no ano de 1500, quando o conquistador português desembarcou da caravela e avistou no litoral da Bahia índios que habitavam há séculos as terras anunciadas como recém-descobertas. Apesar de hoje ser tratado como herói por ter percorrido epicamente longas extensões do território brasileiro, o bandeirante foi, antes de tudo, um genocida. Entrava nos sertões à frente de uma comitiva armada e buscava populações indígenas. Ao encontrá-las, destruía aldeias, trucidava homens, mulheres e crianças indistintamente e conduzia os sobreviventes – acorrentados – até os engenhos de cana-de-açúcar onde os vendia como escravos. O extermínio dos povos originários foi amparado na Doutrina da Guerra Justa, utilizada pelo colonizador para banalizar a morte dos pagãos resistentes à chegada do progresso. Pagãos, infiéis, gentios bárbaros, tapuios, caboclos, caiçaras ou bugres eram pejorativamente chamados os povos que não compartilhavam com o colonizador religião, idioma e costumes e chegada do progresso significava a ocupação de suas terras pelo estrangeiro invasor. A História do Brasil precisa ser revista para se resgatar a verdade negligenciada nos livros didáticos, omissos em relação à política genocida praticada há 500 anos pelo Estado Brasileiro contra os povos originários. Índios avistados nos semáforos das cidades brasileiras, pedindo esmolas para garantir a sobrevivência, provam que a tradição continua, porém com versão atualizada. Chegada do progresso significa, hoje, expulsar populações indígenas de suas terras, derrubar a floresta e implantar nelas atividades altamente lucrativas que destroem o meio ambiente e desestruturam a organização social indígena. Quem lucra com a mineração à base de mercúrio que contamina rios e lagos onde os índios pescam e bebem; com o comércio clandestino de madeira e carvão que reduz florestas inteiras a montes de toras e brasas; com a plantação extensiva de milho e soja que abusa dos agrotóxicos e torna o Brasil o maior consumidor de venenos do planeta; com hotéis de luxo construídos em praias de beleza paradisíaca à custa da expulsão de comunidades tradicionais que habitavam a região há séculos, e com os projetos de usinas hidrelétricas executados sem respeitar estudos de impacto ambiental e social ?

    https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/04/19/interna_politica,373440/documento-que-registra-exterminio-de-indios-e-resgatado-apos-decadas-desaparecido.shtml
    http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2013-09-25/construcao-de-rodovias-no-governo-militar-matou-cerca-de-8-mil-indios.html
    http://vladimirherzog.org/minidocumentario-revela-que-ditadura-criou-campos-de-concentracao-indigenas/

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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