Agronegócio: O vilão da crise climática – Live Solidária

Agronegócio: O vilão da crise climática

❤️ LIVE SOLIDÁRIA AGRONEGÓCIO: O VILÃO DA CRISE CLIMÁTICA ⏰ Dia: 11/10, às 21h 📍 Mediação: Andrea Matos 🗣️ Participação: 📌 Gilney Viana – Ambientalista. Professor Universitário. Escritor.


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Agronegócio: O vilão da crise climática

A crise climática é global. Seu principal indicador é a elevação da temperatura média do planeta. E a sua causa é o acréscimo extraordinário das emissões de CO2 e de outros gases do efeito estufa (CO2e) na atmosfera devido à ação humana, desde a revolução industrial, no século XVIII…

Gilney Viana

Cientistas reunidos no Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da Organização das Nações Unidas (IPCC, sigla em inglês) atestam que a principal fonte emissora deste acréscimo de CO2e em escala global é a geração de energia baseada em queima de carvão mineral, e gás natural. Contudo, no Brasil, país de grandes florestas e de baixa industrialização, a principal fonte de emissões de CO2e não é a queima de combustíveis fósseis, mas o desmatamento e as das coberturas florestais naturais e as atividades da agropecuária que se identificam como agronegócio.

O inventário de emissões de gases do efeito estufa do Brasil segue o padrão e as métricas adotadas pelo IPCC. Nele se contabilizam as emissões a partir de cinco setores da , como mostra o quadro abaixo, onde o setor Alterações do Uso do Solo e Floresta ocupa o primeiro lugar, seguido pelo setor da Agropecuária – exatamente os setores que compõem o chamado agronegócio.

EMISSÕES DE CO2e POR SETORES (CO2e (t) GWP – AR 5)

Setor 1990 2000 2005 2019
Agropecuária 402.917.485 451.584.975 536.150.588 598.672.052
Alterações do Uso do Solo e Floresta 1.180.624.976 1.324.959.845 1.615.699.773 968.055.554
Energia 193.676.854 289.823.760 317.657.315 413.673.633
Processos Industriais 51.467.745 74.133.206 80.493.654 99.074.466
Resíduos 33.559.959 58.212.090 70.076.479 96.155.225
Total Brasil 1.862.247.019 2.198.713.876 2.620.077.809 2.175.630.930

Fonte: SEEG – Observatório do Clima.

Comparando-se os totais emitidos em 2005 (ano de referência do Acordo de Paris, pelo qual o Brasil assumiu metas de redução das suas emissões) e em 2019, vê-se que o único setor que reduziu suas emissões foi o das Alterações do Uso do Solo e Floresta, diminuindo suas emissões em 647.644.219 toneladas de CO2e.

Contudo, os outros quatro setores, inclusive o da Agropecuária, aumentaram suas emissões, resultando em acréscimo do total emitido pelo país, em 2019, da ordem de 444.446.879 toneladas de CO2e.

Somando-se as emissões do Setor Mudança do Uso do Solo e Floresta e o da Agropecuária, que compõem o agronegócio, obtemos o quadro abaixo, que mostra o agronegócio como a principal fonte de emissões de CO2e, embora tenha reduzido sua participação relativa de 82,1%, em 2005, para 72,01% em 2019, graças à redução do desmatamento. 

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desmatamento

Indígena Pirititi, Roraima
Ibama combate desmatamento ilegal na Terra Indígena Pirititi, Roraima
Foto: Felipe Werneck/Ibama

EMISSÕES DE CO2 PELO AGRONEGÓCIO

O inventário de 2019 oferece uma vista mais detalhada das emissões de CO2e pelo agronegócio. O setor da Agropecuária é composto por cinco subsetores, dos quais o subsetor mais representativo da pecuária é o da Fermentação Entérica, que nada mais é que o “arroto do gado”, que emite CH4 (metano), contribuindo com 61,15% do setor (contabilizado em equivalentes de CO2); seguido pela , cujo subsetor Solos Manejados contribui com 33,15% do total emitido pelo setor (seguidos por três outros subsetores: Manejo de Dejetos Animais, 3.93%; Cultivo de Arroz, 1.87% e Queima de Resíduos Agrícolas, 0,89%). O setor Mudança do Uso do Solo e Floresta é composto por dois subsetores, o subsetor Alterações do Uso do Solo e Floresta (desmatamento), contribuindo com 93,08%; e o subsetor de manejo dos Resíduos Florestais, com 6,92% do total emitido pelo setor em 2019.

A série histórica dos inventários de emissões de CO2e sintetiza a história do país. Os bens comuns representados pela biodiversidade e naturais foram cercados e apropriados pelo capital. Na lógica extrativista do agronegócio, primeiro se retira a madeira transmutada em mercadoria de baixo custo, depois se destrói todo o ecossistema com o desmatamento, para convertê-lo em meios de produção da pecuária e da agricultura industrial. Assim, bens comuns viram ativos do agronegócio.

Os ecossistemas naturais remanescentes, não passíveis de conversão total porque protegidos por lei, são alvos da exploração dos seus serviços ambientais, transformados em títulos do mercado financeiro (título de carbono, título de refúgio da biodiversidade e outros). De bens comuns, passam a ativos fictícios, do capital financeiro. As contradições impostas pela lógica da reprodução do agronegócio são evidentes tanto do ponto de vista ecológico quanto econômico. Quanto mais expande a conversão total da cobertura vegetal em pastagens e campos de monocultura, mais reduz os serviços ambientais dos ecossistemas naturais. Ao romper a integridade da , esta passa a emitir mais CO2 do que absorver e altera o ciclo das chuvas, em prejuízo da agricultura industrial extensiva do Planalto Central. É o que diz a .

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A curva histórica das emissões de CO2e acompanha a curva histórica do desmatamento da e do Cerrado. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a taxa anual de desmatamento da Amazônia caiu de 19.014 km2 em 2005 para 7.536 km2 em 2018 – em decorrência das políticas de comando e controle e de expansão das unidades de conservação praticadas pelo Estado e das pressões da sociedade civil.

De repente a taxa de desmatamento anual da Amazônia de 7.536 km2 em 2018, atingiu 10.129 km2 em 2019 e 10.851 km2 em 2020, mostrando uma tendência ascendente que obviamente se expressará em taxas anuais mais elevadas de emissão de CO2e. Esta evolução recente da taxa de desmatamento da Amazônia e da taxa de emissões de CO2e está diretamente relacionada à política de desregulação ambiental do governo gerado pelas viciadas de 2018, hegemonizado pelo agronegócio. 

Não obstante as críticas, no Brasil e no Exterior, o agronegócio busca expandir a fronteira agrícola através de três iniciativas insustentáveis social e ambientalmente: a redução das áreas das Terras Indígenas e das Unidades de Conservação; a abertura destas Áreas Protegidas à agricultura industrial; e a regularização das terras ilegalmente apossadas (“grilagem”).

Esta estratégia de reprodução do agronegócio brasileiro baseada no incremento das emissões de CO2e contraria as tendências dominantes do capital internacional, visando a uma economia de baixo carbono e até mesmo de zerar o balanço de carbono até meados do século. Isso levará o Brasil a não cumprir as metas de redução das suas emissões de CO2e em 37% até 2025, em relação ao ano base de 2005, assumidas no Acordo de Paris, de 2015. E o principal responsável desta política suicida é o agronegócio, o vilão do clima.

Gilney Viana – Ambientalista. Professor Universitário. Escritor.


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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