Lula: De operário a presidente – De presidente a preso político

Lula: De operário a presidente – De presidente a preso político

De Rodrigo Willian Costa de Oliveira  para Lula

Lula,

Com a vitória na urnas em 2002, você conquistou o cargo mais alto já alcançado por um operário no Brasil. É claro que um cargo que sempre foi ocupado por representantes da elite, como homens, brancos, de uma linhagem nobre, pertencentes às camadas mais privilegiadas, jamais essa mesma elite aceitaria um presidente de origem popular ascender ao poder, pois representaria a perda de privilégios dos interesses da classe dominante.

Mesmo você, Lula, fazendo um governo de conciliação, gerando milhões de empregos formais, com distribuição de , incentivo ao  crédito e  ao consumo, contribuindo para que o Brasil se tornasse a sexta maior economia do planeta, e mesmo sem profundas reformas que ameaçassem os privilégios da classe dominante, isso não foi suficiente para a elite aceitar ser governada por um presidente que, ainda assim, simbolizava a classe trabalhadora. Os oito anos de sucesso do seu governo a gerou um ressentimento na classe média e alta do país, pois a camada excluída da sociedade passou a frequentar ambientes que representavam status apenas para a elite nacional, como aeroportos, restaurantes finos,e viagens para o exterior. Além disso, o poder de consumo possibilitou a compra de smartphones, carros, financiamento de automóvel e imóvel. Essa diminuição da desigualdade material representou um abalo na autoestima e no ego da elite que sempre pôde ostentar o que era exclusivo a eles. Faltava então um pretexto para retirar do poder o Partido dos e a figura que representava o povo: Lula.

Foi aí que a mídia golpista associada com o judiciário partidário e aliados com o poder econômico nacional e internacional se prontificaram em denunciar casos de corrupção, como foi o caso do mensalão, em 2006. De modo sistemático tentaram associar a imagem de Lula como o maior responsável, juntamente com o PT, da corrupção instalada no país. Inicialmente a tática não surtiu efeito devido à alta popularidade de Lula (87% no final de 2010), que conseguiu eleger e reeleger Dilma.

A presidente, ao longo de seus dois mandatos, resistiu às reformas que prejudicariam as classes populares para atender o setor financeiro e das grandes corporações. O crescimento econômico torna-se tímido, comparado ao do governo Lula; A descoberta do pré-sal, juntamente com o monopólio da exploração por parte da Petrobras, faz surgir pressões internas e externas do capital financeiro querendo lucrar sobre o brasileiro, pedindo pela privatização da estatal. É nesse momento, em 2014, que a elite econômica, o judiciário e a grande mídia tradicional traçam outro plano para voltar ao poder: com a operação Lava-Jato. Por essa operação legal e estatal será traçada a tentativa de golpe institucional contra a presidenta eleita democraticamente. Os escândalos envolvendo altos dirigentes da Petrobras e de empresas privadas ganham um rumo direcionado, com viés político, pelos membros do judiciário que tentam responsabilizar Lula e a presidenta. ou seja, precisam de delações para desgastar mais ainda a imagem do partido e dos seus maiores líderes, para que a direita pudesse voltar ao poder e defender sua agenda elitista, privatista e antinacionalista.

 

Além disso, com as denúncias da operação Lava-Jato, a nossa maior companhia nacional: a Petrobras é desvalorizada na bolsa de valores, diminuindo seu valor de mercado, impulsionando o discurso de privatização e aos poucos atendendo a pauta dos interesses financeiros internacionais. Não se pode esquecer que o juiz foi treinado pelo FBI para atender aos interesses estadunidenses, segundo consta de um documento vazado pela Wikileaks em 30 de outubro de 2009. A mídia vazava informações da operação Lava-Jato constantemente, com o intuito de desgastar o governo federal, a imagem de Lula e acelerar o processo do golpe, chamado sofisticadamente de impeachment. O plano da elite econômica prossegue com apoio dos Estado Unidos (onde os coordenadores do MBL, responsável por muitas manifestações, receberam treinamento e financiamento). Articularam para inviabilizar a candidatura de Lula nas eleições de 2018, que no ano anterior foi condenado pela teoria do domínio do fato.

O fato é que você, Lula, ficou impedido de participar das eleições: o franco-favorito isolado nas pesquisas de intenção de voto. E assim a elite volta ao poder com um representante da extrema direita deixando as portas abertas para as reformas que o setor financeiro tanto almejava.

Mesmo com tamanha difamação, Lula já se tornou um . Reconhecido nacionalmente e internacionalmente como aquele que conseguiu dar ao faminto, ao analfabeto, direitos aos  excluídos e voz aos calados. Resgatou a vontade de sonhar do povo brasileiro, devolveu a autoestima ao flagelado e a dignidade às minorias. Eis o brasileiro mais brasileiro que todos os brasileiros: Luis Inácio Lula da , ex-operário que se tornou presidente. Mesmo com sua prisão, jamais aprisionarão suas ideias. Somos milhões de Lulas espalhados pelo país, multiplicando o desejo de justiça social e luta pelos mais humildes. Sua história de vida se eternizou na história da . Assim como todo grande líder mundial, os desafios em sua vida jamais foram fáceis. Cada percepção sofrida, cada difamação vivida, só servem para elevá-lo a uma categoria dos grandes líderes que o Brasil teve o privilégio de conhecer. Falar de Lula e de sua vida é resumir a história do povo sofredor que ajudou a construir o Brasil. Eis a síntese perfeita do povo brasileiro: Luis Inácio Lula da Silva.

Curitiba-PR, 29 de março de 2019

Fonte: As cartas que Lula não recebeu, p 220, Coletânea organizada por Cleusa Slaviero e Fernando Tolentino

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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