Lula destaca protagonismo familiar e político de Marisa
Ex-presidente homenageou sua companheira: “se não fosse a Marisa, eu não teria virado dirigente sindical, não teria feito as greves que fiz, não teria viajado pelo país”
Por Redação/RBA
O ex-presidente referiu-se a ela como “baixinha teimosa”, lembrando que a família já sabia do risco de que ela sofresse um acidente vascular cerebral – causa de sua morte – há bastante tempo. “A gente fazia check-up todo ano. Ela não aceitava mexer”, contou. Também lembrou de momentos familiares, como o de uma bolada em Fábio, um dos filhos do casal, que Lula só ficou sabendo depois porque Marisa não queria preocupá-lo.
Marisa Letícia Lula da Silva (Alameda Editorial) foi escrito pelo jornalista Camilo Vannuchi, que, emocionado, disse ter cumprido uma “missão” para a família. Contar “a história das histórias da Marisa”, afirmou, foi também uma maneira de narrar um pouco da trajetória recente do país, a evolução do sindicalismo, a construção do PT – que acaba de completar 40 anos – e o período de redemocratização.
Para Camilo, o livro deveria ser lido também por quem “fez piada” sobre Marisa, inclusive quando ela morreu. Ele ressaltou que o lançamento tinha de ser feito em São Bernardo, cidade natal da biografada. Três outros lançamentos já estão previstos: nesta quinta-feira (6), no bar Canto Madalena, em São Paulo, sábado (8) no Armazém da Utopia, no Rio de Janeiro, e segunda-feira (10) na livraria Leonardo da Vinci, também no Rio.
Destruição do país
Lula revelou que as cinzas da ex-companheira ainda estão em sua casa. Ele pretende reunir a família para espalhar as cinzas no sítio do casal, em uma área de São Bernardo “e dar tranquilidade definitiva a dona Marisa”. Encerrou sua fala dizendo “Marisa vive”.
Pouco antes, afirmou que sua maneira de contribuir “é continuar lutando”, ainda mais em um “momento de destruição, de desmoralização internacional do Brasil”. Disse ainda que o PT “foi construído na marra, na porta da fábrica”, e por isso não muda de nome.
“Não nasceu para eleger vereador, governador, presidente, nasceu para transformar a vida do povo trabalhador, para que não haja fome, desemprego. Quem não quiser estender a mão a um pobre que está na sarjeta não precisar estar no PT.”
Mas em sua fala, de 20 minutos, prevaleceram as referências familiares. Logo no início, Lula brincou ao citar os filhos. “Não consegui fazer nenhum deles ser bom de bola, coisa que eu fui, nem fazer discurso, que eu também tinha medo. Na minha primeira entrevista, minha perna começou a tremer e eu fui obrigado a sentar.”
Guarda-chuva da família
Neto mais velho de Lula e Marisa, Thiago, 23 anos, quase não conseguiu falar. “Ela foi um guarda-chuva para a nossa família”, disse, referindo-se à avó. Ele é filho de Marcos, fruto do primeiro casamento de Marisa, que Lula assumiu como pai. Os dois eram viúvos quando se casaram, em 1974.
Outro momento que fez o público – a sede municipal do PT estava superlotada – silenciar foi durante a manifestação de Marlene, mulher de Sandro, outro filho de Lula e Marisa. Ela é mãe do pequeno Arthur, neto de Lula, que morreu em março do ano passado, aos 7 anos.
“Marisa foi uma sogra muito companheira, uma avó maravilhosa”, disse Marlene, que contou ter acompanhado Marisa Letícia “nos primeiros atendimentos”, quando a esposa de Lula foi hospitalizada. Segundo ela, Marisa pediu para mandar um recado justamente ao neto Arthur, de que logo “a vovó está voltando” para cuidar dele.
“Uma avó maravilhosa, presente. Sempre com uma palavra de ânimo para não deixar a peteca cair, neste período de perseguição que a família sofreu”, acrescentou Marlene. “Marisa faz falta, e a gente tem um super orgulho dessa mulher.”
Doce, mas firme
Amigo da família, o presidente do PT paulista, o ex-prefeito e ex-ministro Luiz Marinho, afirmou que Marisa “foi uma pessoa doce, mas muito firme”. Para exemplificar, recordou de uma conversa após a derrota eleitoral de 1998, quando Lula teria mostrado desânimo e falado em desistir. Por isso, teria levado uma “bronca” da companheira.
Para Marinho, a ex-primeira-dama foi “levada à morte pela elite deste país, pela mídia covarde”, o que teria atingido também outros militantes petistas. Ele acrescentou que 2020, um ano eleitoral, “marcará a retomada do crescimento do nosso partido”.
Em texto de Lula a Camilo, divulgado pelo jornalista em rede social, o ex-presidente também fala da “perseguição” a Marisa durante todo o casamento, considerando a Operação Lava Jato como “a gota d´água” desse processo. “Trataram Marisa como criminosa, invadiram sua casa, reviraram suas coisas, divulgaram conversas íntimas, expuseram os filhos e netos.
Você tem noção do que é isso? Não tenho nenhum receio em afirmar que essa caçada foi determinante para a morte precoce da Marisa. Espero do fundo do meu coração que aqueles que a acusaram tenham a dignidade de admitir que erraram e pedir desculpas.”
Temor pela família
Segundo Ana Lucia Sanches, militante do PT de Santo André e amiga de Marisa, ela era “uma mulher forte, simples e reservada, que gostava de simplicidade, mas muito determinada, uma italiana legítima”. Contou que Marisa mostrava “inconformismo” pelo momento politico do Brasil. Narrou uma conversa que tiveram pouco antes da internação, sob o impacto da morte do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, em janeiro de 2017. “Ela estava cheia de vida, mas cheia de medo.”
Outra amiga, Inês Maria de Filippi, também lembrou de conversa com esse tema, durante um jantar – uma moqueca preparada pela própria Marisa, que manifestava “temor pela família”. Mas observou que Marisa “não admitia reclamações”. Inês recordou ainda de “brigas por futebol” no grupo de WhatsApp – ela é palmeirense e Marisa, assim como Lula, corintiana.
Para Nilza de Oliveira, também amiga, a biografia vai ajudar muitas mulheres que “vivem na invisibilidade” e fazer justiça ao protagonismo de Marisa: “Ela também fez parte da construção desse líder”.
Lula disse que não quis ler o livro previamente. “Eu faço questão de não saber o que as pessoas estão escrevendo, para não parecer censor. Nem o do Fernando Morais, que está escrevendo um livro desde 2011”, afirmou.
O escritor e jornalista, autor de obras como Chatô e Olga, prepara uma biografia sobre o ex-presidente. Ele brincou ao dizer que, toda vez que pergunta, Morais responde do mesmo jeito: “Está pronto, só falta escrever”.
Por Rede Brasil Atual
LEIA TAMBÉM:
MARISA LETÍCIA LULA DA SIVLA: UMA GRNDE GUERREIRA, UMA GRANDE LUTADORA
Marisa não tem a vocação política de Lula, mas sua aguçada sensibilidade funciona como um radar que lhe permite captar o âmago das pessoas e discernir as variáveis de cada situação. Por isso, é capaz de dizer a Lula verdades que o ajudam a não se afastar de sua origem popular nem ceder ao mito que se cria em torno dele. A simplicidade talvez seja o predicado que ela mais admira nas pessoas.
Por Frei Betto
Nascida em São Bernardo do Campo, numa família de pequenos sitiantes, ela guarda a firmeza de caráter de seus antepassados italianos. Comedida nas palavras, a ponto de preferir não dar entrevistas, não faz rodeios quando se trata de dizer o que pensa, doa a quem doer.
Por isso não pode ser incluída entre as tietes do marido. Nos palanques, prefere ficar atrás e não ao lado de Lula. A admiração recíproca que os une não impede que, ao vê-lo retornar de uma maratona de reuniões, às 3 da madrugada, ela o convoque para criticar o desempenho dele numa entrevista na TV ou compartilhar decisões domésticas.

Foto: Revista Cult
Marisa é, com certeza, a única pessoa que, no cara a cara, não corre o risco de se deixar enredar pela lógica política do marido. Defensora intransigente de seu próprio espaço, não chega a ser o tipo de esposa que compete com o parceiro. Sabe que seus papéis são diferentes e complementares. Mas ninguém é aceito na intimidade dos Silva sem passar pelo crivo dela, que sabe distinguir muito bem quem são os amigos do casal e quem são os amigos de Lula.
Tanto quanto Lula, Marisa conhece as dificuldades da vida. Décima filha de Antônio João Casa e Regina Rocco Casa, cresceu vendo o pai carregar a charrete de verduras e legumes que ele plantava e vendia no mercado.
Se o sítio era pequeno, suficiente para assegurar a precária subsistência da família de onze filhos, o coração dos Casa era grande o bastante para acolher os necessitados. Dona Regineta – como era tratada sua mãe – ficou conhecida como benzedora em São Bernardo do Campo pois, na falta de médicos e de recursos, muitas pessoas a procuravam, especialmente quem padecia de bronquite.
A filha estudou até a 7ª série. Ainda criança, viu-se obrigada a conciliar a escola com o trabalho, empregando-se como babá na casa de um sobrinho de Portinari. Aos 13 anos de idade, tornou-se operária na fábrica de chocolates Dulcora.
Do setor de embalagem Marisa foi promovida a coordenadora de seção antes de, aos 20 anos, trocar a Dulcora por um cargo na área de educação da prefeitura de São Bernardo do Campo, onde trabalhou enquanto solteira.

Foto: Acervo PT
Em 1970, ela se casou com Marcos Cláudio dos Santos, motorista de caminhão. Seis meses depois, ele morreu assassinado, quando dirigia o táxi do pai, deixando Marisa grávida do filho Marcos, que Lula considera seu primogênito.
Em 1973, ao recorrer ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo para obter um pecúlio deixado pelo marido, Marisa conheceu Lula. De fato, foi paquerada dentro de um verdadeiro cerco estratégico montado pelo presidente do sindicato, que ouvira falar de uma “lourinha muito bonita” que andava por ali.
Lula tentou convencê-la de que também era viúvo, sem que a moça acreditasse, até ver o documento que ele, de propósito, deixara cair no chão. A primeira mulher de Lula, Maria de Lourdes, morrera em 1971, com o filho que trazia no ventre, em consequência de uma hepatite mal curada. Em maio de 1974, Lula e Marisa se casaram. Da união nasceram os irmãos de Marcos: Fábio, Sandro e Luís Cláudio.
Depois de deitar os filhos, ela acompanhava as telenovelas sem entusiasmo. E, com razão, se queixava da difícil tarefa de atender a mais de cem telefonemas por dia, muitas vezes sem conseguir convencer os interlocutores de que ela não controla a agenda do marido, não sabe se ele poderá ou não participar de um evento em Porto Alegre ou no Recife e, muito menos, o que ele pensa do último pronunciamento do ministro da Fazenda.
Em abril de 1980, ela passou pela prova de fogo, quando Lula esteve preso no DEOPS de São Paulo, devido à greve de 41 dias. Preocupada com a segurança dele, sempre fez questão de abrir a porta quando estranhos batiam, evitando expor o marido.
No mesmo ano, fez o curso de Introdução à Política Brasileira, promovido pela Pastoral Operária de São Bernardo do Campo. Filiada ao Partido dos Trabalhadores, abriu sua casa para as reuniões do núcleo petista que se organizara no bairro Assunção, onde moravam. O engajamento da mulher levou Lula a participar mais diretamente das tarefas domésticas. Mas é ela quem cuida das finanças da casa.
Embora Marisa prefira, em política, o papel de assessora mais íntima do marido e não goste de fazer discursos e nem mesmo ser o centro das atenções, ela não dispensa a oportunidade de participar de conversas políticas. Seja qual for o interlocutor, Lula jamais pede a Marisa que se retire, exceto para buscar um café.
No fogão, ela prefere o trivial: arroz, feijão, bife e salada de alface com tomate, embora o seu prato predileto seja camarões e um bom copo de vinho. O cardápio especial fica por conta do marido que, de italiano, só tem o apetite: espaguete a carbonara.
Para quem chega, há sempre uma xícara de café. Sair sem aceitá-la é considerado quase uma ofensa. E ela se compraz em ler toda a correspondência que o marido recebe nos comícios, bem como em distribuir estrelinhas do Partido às crianças.
Habilidosa na arte do silk-screen, Marisa fez a primeira bandeira do PT, num tecido vermelho trazido da Itália. Em 1981, montou em casa uma pequena oficina para estampar camisetas com símbolos do Partido, inclusive criações de Henfil. Para a campanha de Lula a deputado federal, em 1986, ela chegou a estampar cerca de vinte mil camisetas, vendidas para angariar fundos. Ciosa de sua privacidade familiar vira uma fera quando a imprensa tenta entrar pela porta de sua casa ou incluir seus filhos no noticiário. Em tais situações, só o cuidado das plantas é capaz de acalmá-la.

Foto: Ricardo Stuckert
Desprovida de vaidade, Marisa se veste pelo figurino do bom gosto, evitando a sofisticação. Compra a roupa que lhe agrada, sem conferir a etiqueta. Ela sempre foi sua própria manicure e pedicure.
Avessa a protocolos, gosta mesmo é de ficar entre amigos, cercada de muita planta e água, em qualquer lugar em que os filhos possam se divertir, livres das normas de segurança. Um bom jogo de buraco, o papo solto, o marido de bermudas ao seu lado e o telefone desligado – é o que basta para deixá-la em paz.
Este texto de Frei Betto, amigo pessoal de Marisa e da Família Lula da Silva, faz um justo retrato dessa mulher gigante que hoje parte dos espaços deste mundo. Frei Betto é um escritor e religioso dominicano brasileiro. Autor de Batismo de Sangue, a mosca azul e Fidel e a religião.
Fonte: BrasilPost

Foto: Acervo PT
LEIA TAMBÉM:
“MARISA LETÍCIA LULA DA SILVA: AS PALAVRAS QUE PRECISAVAM SER DITAS”
Texto publicado originalmente no site de Hildegard Angel. A procura por ele foi tão grande – 11 mil acessos ao mesmo tempo – que o site saiu momentaneamente do ar. A Xapuri reproduz esta matéria em homenagem e respeito a esta cidadã brasileira que, nesse momento de difícil de dor, vem sofrendo o ódio de segmentos desumanizados da sociedade brasileira. Expressamos, assim, nossa solidariedade à Marisa Letícia e à sua família.
…
Foram oito anos de bombardeio intenso, tiroteio de deboches, ofensas de todo jeito, ridicularia, referências mordazes, críticas cruéis, calúnias até. E sem o conforto das contrapartidas. Jamais foi chamada de “a Cara” por ninguém, nem teve a imprensa internacional a lhe tecer elogios, muito menos admiradores políticos e partidários fizeram sua defesa.
À “companheira” número 1 da República, muito osso, afagos poucos. Ah, dirão os de sempre, e as mordomias? As facilidades? O vidão? E eu rebaterei: e o fim da privacidade? A imprensa sempre de olho, botando lente de aumento pra encontrar defeito? E as hostilidades públicas? E as desfeitas? E a maneira desrespeitosa com que foi constantemente tratada, sem a menor cerimônia, por grande parte da mídia? Arremedando-a, desfeiteando-a, diminuindo-a?
E as frequentes provas de desconfiança, daqui e dali? E – pior de tudo – os boatos infundados e maldosos, com o fim exclusivo e único de desagregar o casal, a família? Ah, meus queridos, Marisa Letícia Lula da Silva precisou ter coragem e estômago para suportar esses oito anos de maledicências e ataques. E ela teve.
Começaram criticando-a por estar sempre ao lado do marido nas solenidades. Como se acompanhar o parceiro não fosse o papel tradicional da mulher mãe de família em nossa sociedade. Depois, implicaram com o silêncio dela, a “mudez”, a maneira quieta de ser. Na verdade, uma prova mais do que evidente de sua sabedoria.
Falar o quê, quando, todos sabem, primeira-dama não é cargo, não é emprego, não é profissão? Ah, mas tudo que “eles” queriam era ver dona Marisa Letícia se atrapalhar com as palavras para, mais uma vez, com aquela crueldade venenosa que lhes é peculiar, compará-la à antecessora, Ruth Cardoso, com seu colar poderoso de doutorados e mestrados.
Agora, me digam, quantas mulheres neste grande e pujante país podem se vangloriar de ter um doutorado? Assim como, por outro lado, não são tantas as mulheres no Brasil que conseguem manter em harmonia uma família discreta e reservada, como tem Marisa Letícia.
E não são também em grande número aquelas que contam, durante e depois de tantos anos de casamento, com o respeito implícito e explícito do marido, as boas ausências sempre feitas por Luís Inácio Lula da Silva a ela, o carinho frequentemente manifestado por ele. E isso não é um mérito? Não é um exemplo bom?
Passemos agora às desfeitas ao que, no entanto, eu considero o mérito mais relevante de nossa ex-primeira-dama: a brasilidade. Foi um apedrejamento sem trégua, quando Marisa Letícia, ao lado do marido presidente, decidiu abrir a Granja do Torto para as festas juninas.
A mais singela de nossas festas populares, aquela com Brasil nas veias, celebrando os santos de nossas preferências, nossa culinária, os jogos e as brincadeiras. Prestigiando o povo brasileiro no que tem de melhor: a simplicidade sábia dos Jecas Tatus, a convivência fraterna, o riso solto, a ingenuidade bonita da vida rural.
Fizeram chacota por Lula colar bandeirinhas com dona Marisa, como se a cumplicidade do casal lhes causasse desconforto. Imprensa colonizada e tola, metida a chique. Fazem lembrar “emergentes” metidos a sebo que jamais poderiam entender a beleza de um pau de sebo “arrodeado” de fitinhas coloridas. Jornalistas mais criteriosos saberiam que a devoção de Marisa pelo Santo Antônio, levado pelo presidente em estandarte nas procissões, não é aprendida, nem inventada.
É legitimidade pura. Filha de um Antônio (Antônio João Casa), de família de agricultores italianos imigrantes, lombardos lá de Bérgamo, Marisa até os cinco de idade viveu num sítio com os dez irmãos, onde o avô paterno, Giovanni Casa, devotíssimo, construiu uma capela de Santo Antônio.
Até hoje ela existe, está lá pra quem quiser conferir, no bairro que leva o nome da família de Marisa, Bairro dos Casa, onde antes foi o sítio de suas raízes, na periferia de São Bernardo do Campo. Os Casa, de Marisa Letícia, meus amores, foram tão imigrantes quanto os Matarazzo e outros tantos, que ajudaram a construir o Brasil.
Outro traço brasileiro dela, que acho lindo, é o prestígio às cores nacionais, sempre reverenciadas em suas roupas no Dia da Pátria. Obras de costureiros nossos, nomes brasileiros, sem os abstracionismos fashion de quem gosta de copiar a moda estrangeira.
Eram os coletes de crochê, os bordados artesanais, as rendas nossas de cada dia. Isso sim é ser chique, o resto é conversa fiada. No poder, ao lado do marido, ela claramente se empenhou em fazer bonito nas viagens, nas visitas oficiais, nas cerimônias protocolares.
Qualquer olhar atento percebe que, a partir do momento em que se vestir bem passou a ser uma preocupação, Marisa Letícia evoluiu a cada dia, refinou-se, depurou o gosto, dando um olé geral em sua última aparição como primeira-dama do Brasil, na cerimônia de sábado passado, no Palácio do Planalto, quando, desculpem-me as demais, era seguramente a presença feminina mais elegante.
Evoluiu no corte do cabelo, no penteado, na maquiagem e, até, nos tão criticados reparos estéticos, que a fizeram mais jovem e bonita. Atire a primeira pedra a mulher que, em posição de grande visibilidade, não fez uma plástica, não deu uma puxadinha leve, não aplicou uma injeçãozinha básica de botox, mesmo que light, ou não recorreu aos cremes noturnos. Ora essa, façam-me o favor!
Cobraram de Marisa Letícia um “trabalho social nacional”, um projeto amplo nos moldes do Comunidade Solidária de Ruth Cardoso. Pura malícia de quem queria vê-la cair na armadilha e se enrascar numa das mais difíceis, delicadas e técnicas esferas de atuação: a área social.
Inteligente, Marisa Letícia dedicou-se ao que ela sempre melhor soube fazer: ser esteio do marido, ser seu regaço, seu sossego. Escutá-lo e, se necessário, opinar. Transmitir-lhe confiança e firmeza. E isso, segundo declarações dadas por ele, ela sempre fez.
Foi quem saiu às ruas em passeata, mobilizando centenas de mulheres, quando os maridos delas, sindicalistas, estavam na prisão. Foi quem costurou a primeira bandeira do PT. E, corajosa, arriscou a pele, franqueando sua casa às reuniões dos metalúrgicos, quando a ditadura proibiu os sindicatos. Foi companheira, foi amiga e leal ao marido o tempo todo.
Foi amável e cordial com todos os que dela se aproximaram. Não há um único relato de episódio de arrogância ou desfeita feita por ela a alguém, como primeira-dama do país. A dona de casa que cuida do jardim, planta horta, se preocupa com a dieta do maridão e protege a família formou e forma, com Lula, um verdadeiro casal. Daqueles que, infelizmente, cada vez mais escasseiam.
Este é o meu reconhecimento ao papel muito bem desempenhado por Marisa Letícia Lula da Silva nesses oito anos. Tivesse dito tudo isso antes, eu seria chamada de bajuladora. Esperei-a deixar o poder para lhe fazer a Justiça que merece.







