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Lula errou, errou feio, errou rude

LULA ERROU

Não dá mais pra tampar o sol com peneira, negar o óbvio, defender o indefensável: Lula errou, errou feio e vai pagar por isso. Cansei de ficar fazendo malabarismo retórico na internet, defendendo quem tá errado.
 
Lula achou que o fosse melhor do que é; achou que o Brasil pudesse ser o que jamais foi, o que jamais será.
Quanta pretensão, quanta ousadia! Que todos os juízes do Brasil condenem o criminoso!
Por:  Rodrigo Perez Oliveira, Do Jornalistas Livres
Paciência é aquele tipo de coisa que tem limite. Errou tem que pagar. Simples assim.
Não é fácil admitir. Conto quase 32 anos. Votei pela primeira vez aos 16, em Lula. É óbvio!
Durante a metade desses 32 anos de vida, olhei para o governo federal e vi o partido dos trabalhadores lá, tocando o projeto político que me formou.
É que sou da geração REUNI, entendem? Me formei como professor e intelectual, da graduação ao doutorado, na universidade pública administrada pelos governos petistas. Todo aquele papo que vocês já conhecem: primeiro universitário da família, e blá, blá blá.
Trabalhei e estudei muito, muito mesmo. Mas tenho certeza, absoluta certeza, de que não chegaria aqui sem as petistas. Sou um entusiasta da ideia de mérito, pois uma sociedade que não se fundamenta no mérito acaba se transformando no império dos privilégios.
Não podemos entregar a ideia de “mérito” numa bandeja de prata para a . Precisamos disputar essa narrativa, e reconhecer que toda a ascensão social da última década se explica pelo encontro virtuoso entre mérito e política pública.
Não foi só mérito. Não foi só política pública. É o encontro entre os dois.Artur Lula Livre que dor
Confesso que é muito difícil pensar o governo federal brasileiro sem o Partido dos Trabalhadores, sem as inaugurações das unidades do Minha Casa Minha Vida. É triste.
Mas o tempo passa, e na medida em que os governos petistas vão cada vez mais se transformando em ausência, vou conseguindo ter uma leitura mais sóbria disso tudo.
E como a sobriedade é o terreno da crítica, cá está a minha crítica ao PT e a Lula. O grande erro do PT foi o grande erro de Lula, pois já há algum tempo, Lula é maior que o PT.
Foi um erro conceitual. Foi um erro de percepção de mundo, de compreensão do que é o Brasil. Justo Lula, tão sagaz, tão sensível para o entendimento da realidade brasileira. Ele errou e errou feio.
Explico.
É que algumas ideias circulam como o ar, entendem?
Algumas ideias estão em todos os lugares, configurando nossos sentidos, mediando nossa relação com o mundo. Se quiserem, podem chamar isso de “senso comum”. A gente nem sabe de onde a ideia veio e por que pensa assim. Mas pensa. É algo tão profundo que se torna quase uma natureza.
O erro de Lula tá aí. Talvez nem dê pra chamar de erro.
Não! Vou chamar de erro sim! Não vou aliviar o sapo barbudo. Não dessa vez! Tô nem aí. Chega! Perdi a paciência! Lula é culpado!
Lula naturalizou uma das principais narrativas de fundação do Brasil, exatamente aquela que define nossas elites como “cordiais”, “paternais”.
Nossos senhores de escravo seriam mais generosos. Por aqui, o teria sido mais brando. Nossos patrões seriam mais bondosos. Nossa Casa Grande seria a morada não apenas da opressão, mas também do cuidado, da proteção.
O mito da cordialidade senhorial brasileira é tão forte, mas tão forte, que, de alguma forma, ele se faz presente em todos nós, prefigura a forma como olhamos e a realidade e interpretamos o Brasil.
O mito da cordialidade senhorial estava em Lula, estimulando sua ação política, a sua interpretação do Brasil.
“Lula gosta de vida boa e cachacinha. Faz tudo pelos pobres, mas nunca quis incomodar os de cima”, disse Marcelo Odebrecht, em delação premiada.
Essa frase merecia mesmo um prêmio, um Oscar! O aforismo define Lula com perfeição: Lula se convenceu de que seria possível melhorar a vida dos pobres sem incomodar os de cima. Lula comprou mito da cordialidade senhorial.
Lula, meus amigos, superestimou as elites brasileiras, achou que essas pessoas fossem capazes de serem melhores do que são. Lula não imaginou que essas pessoas pudessem ser tão baixas, tão ruins.
Lula pensou: “Porra, é só Bolsa Família. Três refeições por dia. O dinheiro vai pro mercadinho, movimenta a economia. Ninguém vai se incomodar com isso”.
Lula pensou: “Qual o problema do pobre estudando na universidade? Quanto mais gente estudando, melhor pra todo mundo, mais educada fica a sociedade”.
Lula pensou: “Quanto mais gente andando de avião, mais as passagens ficam baratas. Melhor pra todo mundo”.
Artur lula camisa vermelha com amighuinho
Lula errou, errou feio, errou rude. Lula não imaginava que as elites brasileiras pudessem ser tão mesquinhas.
Lula estava convencido de que dava pra melhorar a vida dos pobres sem incomodar os de cima. Afinal, uma coisa não necessariamente resulta na outra.
Certo?
Não, não e não.
Não porque o cálculo dessa gente não é objetivo. Nossas elites não são racionais. Nossas elites são de tipo antigo, estão atravessadas pela noção de privilégio.
A madame de Copacabana, viúva de militar, pensionista, não quer saber se é melhor, racionalmente falando, viver em um país onde as pessoas comam três vezes por dia. O simples fato de o pobre “ganhar” alguma coisa, uma merrequinha que seja, incomoda a rentista, a parasita que não trabalha, que não produz nada pra ninguém.
O jornalista do Leblon não quer saber se o aquecimento do consumo é algo positivo pra economia do país. O simples fato de descer do prédio e ver as Tvs expostas nas vitrines das Casas Bahia tocando brega, funk e sertanejo lhe enoja. É isso: ele sente nojo, asco daquela estética, daquele tipo de gente.
A professora universitária não quer saber se a passagem de avião tá mais barata. Ela olha pro lado e vê o mestiço ali, de bermuda e chinelo, quase encostando nela. Tá muito perto, tá igualado pela posição de consumidor.
É outra lógica da luta de classes, entendem? É a luta de classes materializada na forma de convívio nos espaços de consumo, de gozo.
Nossa elite não consegue aceitar o gozo do pobre. Para as nossas elites, o pobre só deve gemer de dor. O prazer é monopólio, é privilégio. Nossas elites são sádicas.
É com esse tipo de gente que Lula achou que dava pra governar. Lula achou que eles seriam capazes de ceder um pouco, só um pouquinho.
Lula vacilou, vacilou muito.
Lula achou que não precisava barbarizar, achou que dava pra todo mundo conviver em harmonia.
Lula não quis ser caudilho. Não quis cultivar um dispositivo militar. Não quis fechar a Globo. Não quis fazer culto à imagem. Não quis botar um busto de bronze em cada buraco desse país. Não quis um terceiro mandato. Não quis rasgar a Constituição.
Lula não quis aparelhar o Judiciário.
Em algum momento, Lula achou que o problema do Brasil estava resolvido, e que era hora de sair de cena. Lula chegou a pensar em abandonar a política, e se tornar uma liderança mundial no combate à fome; um líder identificado com uma agenda humanista, suprapartidária.
Artur Lula Presente Pxeira 3
Tolo!
Lula brincou de republicanismo na terra dos coronéis. Lula errou muito.
Lula achou que nossas elites o perdoariam, o deixariam em paz.
Lula achou que essa gente perdoaria sua ousadia.
Lula achou que poderia se sentar à mesma com eles. Beber o mesmo vinho.
Eles não engolem, eles não aceitam esse peão cachaceiro, insolente. Analfabeto.
Lula errou em se deixar levar pelo mito da cordialidade senhorial, e pagou caro, muito caro.
Pagou com a infelicidade dos filhos e netos, com a morte da companheira de uma vida. Lula sofrerá até o último momento de sua vida.
Lula será odiado por essa gente mesmo depois de morto. O corpo morto de Lula precisará de escolta, de proteção. Eles vão querer mutilar o defunto, arrancar-lhe as vísceras, salgar o terreno onde será cavada a cova, para que nada mais ali brote. Da cova do operário que ousou ser presidente da República fundada pelos bacharéis, do país forjado no escravismo, nada pode brotar.
Lula errou, e errou feio e por isso foi condenado.
O julgamento do dia 24 de janeiro nada teve a ver com o Triplex que não foi comprado. Lula foi julgado e condenado porque superestimou o Brasil.
Lula achou que o Brasil fosse melhor do que é; achou que o Brasil pudesse ser o que jamais foi, o que jamais será. Quanta pretensão, quanta ousadia! Que todos os juízes do Brasil condenem o criminoso!
Artigo de Rodrigo Perez Oliveira – Professor de Teoria da História da Universidade Federal da Bahia
Luiz Inácio Lula da Silva, homem idoso branco, em pé acenando para uma multidão antes de entrar em um carro preto.
(Foto: Ricardo Stuckert Filho/Instituto Lula/Reuters)Fotos: Ricardo Stuckert
Ilustração: Pxeira
Fonte:

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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