Mais de mil atingidos por barragens reivindicam reparação justa em Belo Horizonte
Em Belo Horizonte, cerca de 1,2 mil pessoas, famílias e trabalhadores atingidos por barragens, se reuniram para exigir justiça e a reparação dos crimes cometidos pelas mineradoras Vale, Samarco e BHP Billiton em Minas Gerais e no Espírito Santo.
Por Redação/Mídia Ninja
O protesto também abordou os impactos da privatização de empresas estatais, destacou a busca por indenizações individuais na Bacia do Rio Paraopeba e na represa de Três Marias, e continuou a pressão por uma maior participação no processo de recuperação ambiental da Bacia do Rio Doce.
Os participantes realizaram uma marcha que passou por várias instituições públicas, incluindo a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o Tribunal Regional Federal (TRF), o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e a 2ª Vara da Fazenda do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG).
Hélia Maria Baeça, moradora de Esmeraldas e membro da Comissão de Atingidos de Vista Alegre e Fazenda da Ponte, ressaltou a importância desse momento para aqueles que enfrentam as consequências dos atos da Vale. Ela enfatizou a expectativa por uma decisão judicial que reconheça danos coletivos e individuais, bem como a natureza difusa desses danos.
Essa perspectiva está alinhada com uma decisão do juiz Murilo Silva Abreu, do TJMG, relacionada ao caso de Brumadinho, que determinou que o processo de indenização individual deve ocorrer por meio de uma liquidação coletiva dos direitos. Isso envolve a realização de uma perícia judicial pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o trabalho das assessorias técnicas independentes (ATI) na identificação, valoração e estabelecimento de critérios para a inclusão dos afetados nos direitos.
Além disso, o juiz implementou a inversão do ônus da prova, tornando a Vale responsável por apresentar evidências caso queira contestar que alguém não seja afetado. O juiz deve emitir uma nova decisão após ouvir a mineradora Vale até o dia 2 de outubro.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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