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MANIFESTAÇÕES RUPESTRES NA ILHA DOS MARTÍRIOS

MANIFESTAÇÕES RUPESTRES NA ILHA DOS MARTÍRIOS

Manifestações Rupestres na Ilha dos Martírios, no

Dentro das manifestações rupestres que caracterizam a brasileira, podem ser classificados dois grandes grupos: as pinturas rupestres e os grandes conjuntos de petroglifos. As pinturas se nos apresentam de diversas formas e em cores variadas. Geralmente estão situadas em locais mais abrigados, o que tem permitido maior conservação.

MANIFESTAÇÕES RUPESTRES NA ILHA DOS MARTÍRIOS
Imagem: Pedra Escrita

Por Altair Sales Barbosa 

As pinturas rupestres eram classificadas por estilos, e alguns ainda se utilizam desse artifício. Entretanto, os estilos explicitados são aqueles visíveis a olho nu, mas com a utilização de técnicas que usam a fotografia infravermelha esta classificação cai por terra, pois só revela os estilos recentes.

Os petroglifos são sinalações rupestres representadas por sulcos feitos sobre uma superfície rochosa e tanto podem ser encontrados dentro de grutas como fora destas e em grandes lajedos horizontais ou em grandes blocos existentes nos rios ou nas margens destes. Alguns apresentam vestígios de pinturas nos sulcos.

Uma das manifestações rupestres mais conhecidas no está localizada na Ilha dos Martírios, no rio Araguaia, no atual município de São Geraldo, Tocantins.

Esta manifestação integra todo um conjunto de outras manifestações rupestres localizadas à margem do rio Araguaia, na Serra das Andorinhas, no estado do Pará. Esta serra é formada por granitos bastante antigos, de idade pré-cambriana, alguns com alto grau de metamorfismo.

A mesma formação rochosa caracteriza os matacões que formam a Ilha dos Martírios, no Tocantins. Provavelmente, a irradiação de seu conhecimento esteja marcada por questões ligadas à , das sinalizações de algum tipo de Eldorado, principalmente o aurífero.

Seu conhecimento parece remeter ao ano de 1613, quando a primeira expedição chefiada por André Fernandes chegou ao local, em busca de ouro. Os registros também apontam a presença de Bartolomeu Bueno da , no final do século XVII, à busca de pepitas douradas, mas principalmente de índios para escravizar.

Martirios gravuras cobertas com areia branca
Ilha dos Martírios, gravuras cobertas com areia branca – Acervo da FCCM

Atribui-se a Bartolomeu Bueno e a outro bugreiro chamado Manoel Bicudo o nome de Martírios, porque quando chegaram ao local, em 1682, notaram semelhanças entre inscrições rupestres ali encontradas com os instrumentos utilizados na crucificação de Cristo. Há, também, o registro de uma corrida do ouro entre 1719 e 1725, próxima ao rio Paraupava, antigo nome do rio Araguaia.

No século XIX, a visita de aventureiros à região foi também muito intensa. Consta também nos registros históricos que em 1844 o viajante francês Castelnau esteve nos Martírios e chegou a relatar nas suas anotações dados sobre a região.

Em 1888, o antropólogo alemão Paul Ehrenreich, que já havia desenvolvido estudos sobre os Karajá da Ilha do Bananal, decidiu descer o rio e chegou até os Martírios, sobre os quais fez minucioso . Ehrenreich copiou a maioria das figuras, divulgando-as nos seus trabalhos, mas sempre as associava a conhecimentos astronômicos dos .

Por essas e outras razões, a região arqueológica dos Martírios é bastante conhecida e procurada por turistas, principalmente quando o rio se encontra no nível mais baixo, expondo os matacões.

Com a criação do estado do Tocantins e de suas universidades, alguns pesquisadores continuam a conduzir trabalhos de busca de informações na região. Pelo que conhecemos do atual panorama da arqueologia brasileira, essas manifestações rupestres são comuns em diversas áreas do Brasil.

No caso específico de Martírios, devem ter sido confeccionadas por índios em atividades sazonais de pesca, com o rio baixo, o que coincide com o período de pesca no Araguaia e com a na região.

Um outro atributo quanto à sua confecção deve estar associado a horas de ociosidade. Como à época, segundo relatos, havia fartura de peixe, este fato deveria proporcionar aos indígenas tais situações, que deveriam ser preenchidas por alguns, com dotes artísticos.

Atualmente, os índios que habitam a região são os Xambioá, que falam língua Karajá e têm forte relação com outros Karajá da Ilha do Bananal.

Com relação à interpretação dos símbolos rupestres do Brasil, há duas correntes bem definidas. Há aquela corrente que reúne defensores de que todas essas manifestações, feitas com marcas que os próprios indígenas conhecem, são marcadores de território.

E há aquela corrente que classifica essas manifestações rupestres como representações artísticas de determinados grupos, sendo assim, não há como interpretá-las, porque a não é feita com esse objetivo e, sim, como expressão simbólica que deve ser apreciada.

Altair Sales Barbosa –  Doutor em Antropologia – Pesquisador do CNPQ. 

martirios gravuras 2
Ilha dos Martírios, gravuras – Acervo da FCCM

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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