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Mapa interativo centraliza dados sobre violência de gênero no Brasil

Mapa interativo centraliza dados sobre violência de gênero no Brasil – Plataforma permite cruzamento de informações relacionadas a gênero, raça e regiões, estado por estado

 Por Lu Sudré – de Fato

Em 2017, 26.834 mil estupros foram registrados pelo Sistema de de Agravos de Notificação (Sinan) no país, o equivalente a 73 por dia. As mulheres foram vítimas de 89% das violações sexuais.

Elas também representam 67% dos registros de violência física no mesmo ano, sendo que o Distrito Federal registrou o maior índice: 75%.

Esses são apenas alguns entre os muitos dados apresentados pelo Mapa da Violência de Gênero, lançado neste mês pela organização Gênero e Número, com apoio da Alianza Latinoamericana para la Tecnología Cívica (Altec). A plataforma interativa reúne informações de homicídios, agressões, violências sexuais e físicas contra mulheres, homens e LGBTs em todo território brasileiro.

 

Quem acessa o site mapadaviolenciadegenero.com.br tem a possibilidade de cruzar e explorar várias informações, que podem ser selecionadas de acordo com gênero, raça, ano e região, possibilitando a compreensão sobre o cenário de violência de cada unidade federativa do país. Os índices foram organizados com base nas séries históricas do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/DATASUS) de 1996 a 2016, e do Sinan, de 2014 a 2017.

Os resultados obtidos, após a seleção das variáveis, pode ser baixado em formato excell ou similar.

Lutterbach, cofundadora da Gênero e Número, primeira organização de mídia orientada por dados com foco em gênero da América Latina, explica que o foi desenvolvido ao longo de um ano por uma equipe multidisciplinar. O objetivo do é tornar as informações sobre o cenário de violência extrema e acentuada contra mulheres e LGBTs mais acessíveis.

“Acreditamos que a maior contribuição do Mapa da Violência de Gênero é aproximar a população desses dados sobre violência. Em geral, são dados que ficam restritos a pesquisadoras e pesquisadores, jornalistas, que precisam ou querem se aprofundar nesse tema. Com o Mapa, esses dados ficam disponíveis para qualquer pessoa que se interesse ou que seja sensível a esse problema”, afirma Lutterbach.

Segundo ela, o projeto encontrou fragilidades em relação às informações disponibilizadas pelas bases públicas, que podem ser verificadas detalhadamente nas notas metodológicas do Mapa.

“Quanto mais pessoas tiverem acesso a esses dados e conhecerem o cenário de violência contra mulheres e pessoas LGBT, mais possibilidade teremos de denunciar esse problema no país e exigir uma melhor coleta e produção de dados sobre essa questão. Mais possibilidade temos de fazer pressão por melhores dados porque afinal de contas são eles que estruturam ou deveriam estruturar as políticas de prevenção e enfrentamento à violência”, avalia a jornalista.

 

Legislação

O Mapa também disponibiliza um levantamento sobre as leis brasileiras relacionadas à violência de gênero. Foram encontradas 531 normas legislativas nos 26 estados e no Distrito Federal.

Tocantins, Roraima e Acre estão entre os estados com o menor número de leis sobre o tema, com quatro, cinco e nove, respectivamente. O estado com a legislação mais robusta é o Rio de Janeiro, com 47 normas, seguido pela Paraíba, com 40, e pelo Rio Grande do Sul, com 36.

A plataforma evidencia que grande parte da legislação trata da violência após seu registro. A prevenção dos crimes por meio da ou da reabilitação de autores da violência corresponde apenas a 143 das normas, 27% do total.

“Para além das leis que foram marcos no combate à violência, como a Lei do Feminicídio e Maria da Penha, temos a possibilidade de visualizar quais foram os esforços no âmbito legislativo de criar mecanismos legais para prevenir esse tipo de violência que acometem mulheres e pessoas LGBTs no país, assim como para acolher as vítimas que sofrem essas violências”, comenta Maria Lutterbach.

De acordo com o Mapa, em 2017, houve 12.112 registros de violência contra pessoas trans e 257.764 casos de violência contra homossexuais ou bissexuais no Brasil. Por dia, foram 11 agressões às pessoas trans e 214 contra homossexuais ou bissexuais.

Fonte: Brasil de Fato

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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