Maria Conga vem contando a sofrida história do Povo Preto.
Fala das dores de ser mulher, mulher preta e da subjugação imposta pelo patriarcado a um gênero e raça por um dono branco, cruel e colonizador.
Entretanto, fala também de resistência e de liberdade (ainda que tardia e sem condição de sobrevivência).
Por José Gil Barbosa Terceiro
Aproximadamente nos idos de 1800, viveu no Povoado Isidória, na antiga Vila de Valença, um senhor de escravos muito cruel, que tinha entre os seus cativos uma negra chamada Maria Conga.
Maria era uma mulher de espírito livre, forçada a viver em escravidão, mas que, nem por isso, se submetia.
Assim, era considerada pelo seu senhor como uma negra desobediente, rebelde e respondona.
Um dia, seu proprietário ordenou um serviço a Maria, mas esta recusou-se a fazer. Foi a gota d’água:
Maria Conga foi condenada a viver por toda a vida presa a um tronco, para servir de exemplo a outros negros que porventura pensassem em desobedecer às ordens de seu proprietário.
Depois de muito tempo, Maria foi libertada no dia da morte do senhor de escravos, pois era praxe naquela região que os negros cativos beijassem os pés do seu senhor morto no caixão.
Durante um bom tempo, os negros ficaram ali em fila beijando os pés do proprietário falecido, mas Maria recusou-se dizendo:
– Boca que beija santo não beija pé de defunto!
A família do morto considerou aquilo uma afronta imperdoável em um momento de dor e condenou Maria a retornar ao tronco, vivendo ali presa por toda uma vida, só sendo libertada em 1888, após a abolição da escravidão no Brasil.
Por conta de sua história de coragem e resistência, bem como pela vida sofrida, Maria passou a ser considerada exemplo de resistência negra à escravidão.
Contam que, quando libertada, ficou vagando sem rumo na região do povoado até o dia de sua morte, pois, ao lhe darem a liberdade, não lhe deram condições de vida.
Maria não tinha casa, nem família, nem emprego, nem nada.
Ficou vagando por aí até o dia de sua morte, mas sempre pregando contra a injustiça dos brancos.
Dizem que o seu espírito ainda vaga por ruas desertas e trilhas rurais da região de Valença do Piauí, assombrando e perseguindo pessoas preconceituosas que discriminem os negros ou cometam outras injustiças.
José Gil Barbosa Terceiro – Folclorista, em https://causosassustadoresdopiaui.wordpress.com/. O autor cita como fonte: NOLÊTO, Rafael. Mitologia Piaga: Deuses, Encantados, Espíritos e outros Seres Lendários do Piauí. Teresina: Clube de Autores, 2019.
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