MARIA MAIA: PALAVRAS DE DESPEDIDA NO ADEUS DE SAMUEL

Maria Maia: Palavras de despedida no adeus de Samuel Pinheiro Guimarães

Agradeço ao presidente Lula, com o qual Samuel teve a honra de colaborar na Secretaria de Assuntos Estratégicos.

Agradeço ao ministro Celso Amorim, amigo e colaborador da vida toda. 

Por Maria Maia 

Ao ministro Mauro Vieira que, sabendo da partida dele, ofereceu o Palácio do Itamaraty para recebê-lo de corpo presente, nesta casa que ele tanto dignificou, dedicando 53 anos de sua vida.

Ao presidente José Sarney, com o qual deu os primeiros passos políticos para a integração sul-americana.

E agradeço a todos os familiares e amigos aqui presentes.

Samuel é o Amor estendido: amava a família, os amigos, o trabalho, a integração sul-americana, o Brasil e o povo brasileiro.

Pelo desenvolvimento do Brasil trabalhou até o final da sua vida. Seja como homem de ação, seja como pensador, escritor, professor.

Combateu com vigor o bolsonarismo, nominou o inominável como destruidor do Brasil. Teve a felicidade de ver em vida o retorno do presidente Lula à presidência da República. 

Saudou com alegria a volta do Brasil aos trilhos do trabalho, do desenvolvimento, da superação das desigualdades sociais e do retorno das políticas públicas de geração de emprego, de promoção da saúde, da educação e da cultura.

Agradeço à presença de todos neste ato que celebra a memória deste brasileiro raro, com quem tive a sorte de conviver, com Amor e admiração mútuas, nestes últimos 27 anos!

Gostaria de terminar com um breve e essencial poema de Carlos Drummond de Andrade:

Amar o perdido deixa confundido este coração

Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do não.

As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão

Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão.

Obrigada! 

WhatsApp Image 2021 07 14 at 10.15.45Maria Maia Cineasta. Poeta. Conselheira da Revista Xapuri. Palavras de Despedida durante os funerais de seu companheiro, o embaixador e conselheiro da Revista Xapuri, Samuel Pinheiro Guimarães (30.10.1939–29.01.2024), realizado no Palácio do Itamaraty, em Brasília, com presença do Presidente Lula, seu amigo e companheiro de tantas lutas, na manhã do dia 31 de janeiro de 2024.  Foto: Arquivo Pessoal.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Samuel Pinheiro Guimarães, embaixador

Samuel Pinheiro Guimarães, embaixador

Foto: Renato Araújo /Agência Brasil
Samuel Pinheiro Guimarães foi um dos mais importantes diplomatas da sua geração, com um extenso currículo de serviços prestados ao Brasil. Entre as diversas funções que exerceu, atuou como secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores entre 2003 e 2009, além de Ministro Chefe de Assuntos Estratégicos entre 2009 e 2010, e Alto-Representante Geral do Mercosul entre 2011 e 2012.
Vice-presidente da Embrafilme na gestão Celso Amorim – amigo e parceiro de toda uma vida – foi obrigado a deixar o cargo por conta do impacto do filme “Pra Frente Brasil”, uma crítica contundente à tortura de presos políticos no país durante a ditadura militar.
Ao longo da vida defendeu o desenvolvimento, a democracia e as causas populares, resistindo a diversas tentativas de interferência externa no nosso país e atuando para uma política externa ativa e altiva, na promoção dos interesses e da soberania brasileira.
Foi autor de artigos e livros, como “Quinhentos Anos de Periferia” e “Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes”, onde registrou e compartilhou suas reflexões sobre geopolítica e o lugar do Brasil nas relações internacionais.
Tive o prazer e a honra de conviver e trabalhar com Samuel nos meus dois primeiros mandatos como presidente da República e depois como ex-presidente. Nesse momento de despedida, meus sentimentos e solidariedade aos familiares, amigos, alunos e colegas de Samuel Pinheiro Guimarães.
Luiz Inácio Lula da Silva,
presidente da República

Fonte: Agência Gov, 29/01/2024

Nota do Partido dos Trabalhadores: Samuel Pinheiro Guimarães, presente!

Perseguido desde a ditadura militar, Samuel marcou sua carreira diplomática pela coragem de assumir posições independentes

Felipe L. Gonçalves
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Como professor do Instituto, inspirou e formou toda uma nova geração de diplomatas brasileiros

O embaixador e ex-ministro Samuel Pinheiro Guimarães foi um dos principais formuladores e executores da política externa altiva e ativa dos governos do PT.
Foi secretário-executivo do Ministério das Relações Exteriores e ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos nos dois primeiros governos Lula e Alto Representante-Geral do Mercosul, no primeiro governo Dilma Rousseff. Militante e filiado ao PT, foi também assessor da bancada do partido no Senado Federal, sempre defendendo a soberania nacional e a integração regional.
Perseguido desde a ditadura militar, Samuel marcou sua carreira diplomática pela coragem de assumir posições independentes. Em 2001, foi o primeiro diplomata brasileiro a denunciar a Alca, apontando a relação de subserviência aos Estados Unidos que a proposta representava para o Brasil e demais países da América Latina.
No Itamaraty, implantou o sistema de cotas para negros e negras no concurso do Instituto Rio Branco, que dá acesso à carreira diplomática. Como professor do Instituto, inspirou e formou toda uma nova geração de diplomatas brasileiros. Sua contribuição para o país e para a integração da América Latina é inestimável.
O PT expressa condolências à família de Samuel Pinheiro Guimarães, amigos e amigas, ex-alunos e incontáveis admiradores deste grande brasileiro.
Samuel Pinheiro Guimarães, presente!
Brasília, 29 de janeiro de 2024
Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores

Ex-secretário-geral da pasta foi um dos responsável pela política externa dos dois mandatos de Lula

 
Samuel Pinheiro Guimarães es diplomático y autor del libro "Desafíos Brasileños en la Era de los Gigantes"
Samuel Pinheiro Guimarães es diplomático y autor del libro “Desafíos Brasileños en la Era de los Gigantes”| Crédito: Samuel Pinheiro Guimarães es diplomático y autor del libro “Desafíos Brasileños en la Era de los Gigantes”

Morreu nesta segunda-feira, (29),  em Brasília aos 84 anos o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães Neto. Um dos mais importantes de sua geração, ele foi um dos protagonistas da formulação e execução da política externa que mudou a projeção do Brasil no cenário internacional durante os dois primeiros mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).  
Dentre os cargos que ocupou, está o de ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República no segundo mandato de Lula e o de secretário-geral do Itamaraty na gestão de Celso Amorim. Também chefiou o Departamento Econômico do Itamaraty, foi diretor do Instituto de Pesquisas em Relações Internacionais (IPRI) e ocupou a vice-presidência da Embrafilme, posto que deixou após a repercussão do lançamento do filme Pra Frente Brasil, de 1982, que retratava a tortura na ditadura militar.
A morte foi lamentada pelo Itamaraty, por Lula e diversos políticos e lideranças sociais, que destacaram o papel de Guimarães na defesa dos interesses nacionais.
“Ao longo da vida defendeu o desenvolvimento, a democracia e as causas populares, resistindo a diversas tentativas de interferência externa no nosso país e atuando para uma política externa ativa e altiva, na promoção dos interesses e da soberania brasileira”, afirmou o presidente Lula em nota na qual ele também manifestou seus sentimentos e solidariedade aos familiares, amigos, alunos e colegas de Samuel Pinheiro.

‘Grande lutador’

Já o Itamaraty registrou que ele foi “um dos mais destacados diplomatas de sua geração”. “Como diplomata e intelectual, construiu uma ampla reflexão sobre o desenvolvimento e inserção internacional do Brasil. Destacou-se na formulação de políticas de integração regional, em especial do projeto do Mercosul, e na defesa da importância estratégica da relação com a Argentina”, diz a nota divulgada pela pasta.
Na nota, a pasta ainda afirma que o atual ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, era amigo pessoal de Samuel Pinheiro Guimarães. “Além de lamentar profundamente a perda do amigo, o Vieira, em nome do Itamaraty, expressa à família, e aos muitos amigos e amigas do Embaixador Samuel as mais sentidas condolências”, diz o texto.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, também lamentou a morte em seu perfil oficial no X: “Seu conhecimento do Brasil e da geopolítica mundial esteve sempre a serviço da afirmação de nossa soberania, da construção de uma América Latina integrada e do diálogo entre povos e nações no rumo de uma ordem mundial democrática e justa. Meus sentimentos à família e incontáveis amigos e admiradores que ele deixou”.
O dirigente do MST João Pedro Stédile, por sua vez, classificou Samuel Pinheiro como “grande lutador”. “Estou com o coração apertado. Perdemos, o MST e todo o povo brasileiro, um grande lutador, um nacionalista das primeiras trincheiras e exemplo de diplomata a serviço da Nação, o nosso grande Samuel Pinheiro Guimaraes. Fica um legado intelectual e de servidor público”, afirmou em seu perfil no X.

Embaixador foi Alto Representante do Mercosul 

Nascido no Rio de Janeiro, em 1939, Samuel Guimarães graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil (atual UFRJ) em 1963, mesmo ano em que ingressou no Itamaraty. Em 1969 concluiu seu mestrado em Economia na Universidade de Boston (EUA).
Além dos cargos que ocupou no governo federal, entre 2011 e 2012 ele assumiu a função de Alto Representante Geral do Mercosul.

Editado por: Nicolau Soares
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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