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Mentira: o 1º de abril e os outros 364 dias do ano  

Mentira: o 1º de abril e os outros 364 dias do ano –

Por Anderson Carlos de Oliveira  –

Ocasionalmente (ou frequentemente) as pessoas mentem para se proteger do sentimento angustiante da vergonha ou da culpa. Comemora-se, no dia 1º de abril, o Dia da Mentira. Tudo bem ‘entrar na onda’ das brincadeiras deste dia. Afinal, quem não gosta de sorrir? Mas, em tese, entendemos o que é a mentira e porque mentimos? Mais ainda, sabemos identificar quando estamos nos auto sabotando? O grande problema é quando a mentira se estende aos outros 364 dias do ano. Vejamos porquê!

A mentira é uma negação da impotência e da fragilidade do ser humano, contra o sentimento de desamparo e dependência do outro. Tudo isso vivido diante de uma ambiguidade e dificuldade em estabelecer uma discriminação entre o que é real e o ilusório, verdade e mentira.

Essa realidade se inicia na infância, quando mentimos para nos isentar das culpas. Quando chega a adolescência, percebe-se, segundo nossa própria interpretação, que a mentira pode ser aceita em certas ocasiões. Mais uma vez ela nos isenta de responsabilidades e, ainda, nos ajuda a ingressar na tribo e ser aceito pelos colegas.

E de onde vem a mentira? Do receio de sofrer as consequências que a verdade traz, da insegurança ou da baixa de autoestima na tentativa de passar uma imagem melhor, por pressão do mundo exterior – advinda de autoridade superior ou por coação -, como meio de ganhos e regalias – acreditando assim que vale a pena mentir, já que levamos vantagem em relação aos que dizem a verdade e são chamados de bobos -, ou, ainda, por razões patológicas.

Bion, um psicanalista discípulo de M.Klein, também psicanalista e fundadora da escola Kleiniana, diz que toda e qualquer pessoa, em algum momento da vida, já contou ou vai contar alguma mentira.

Mentira patológica

O psiquiatra e psicanalista Zimerman classifica a mentira em 7 tipos:

1) mentira comum – faz parte de uma inevitável “hipocrisia social” e é inócua

2) mentira piedosa

3) mentira como forma de evitar sentir vergonha

4) mentira como maneira de fugir de um “perseguidor”

5) mentira ao serviço de um falso self – neste caso, tanto pode ser exemplificado com o discurso mentiroso de um político demagogo, como também é necessário considerar que, muitas vezes, um “falso self” tem a função de proteger o verdadeiro self

6) mentira psicopática – visa ludibriar e prima pelo uso da “má-fé”

7) mentira maníaca – a sua origem radica em um passado no qual a criança gozava com um triunfo sobre os pais, com um controle onipotente sobre eles

O que torna a mentira um problema é quando ela passa a ser um vício, tornando os mentirosos crônicos ou patológicos, como é o caso Pseudolalia, uma mentira compulsiva, resultado de longo período vicioso de mentiras. Neste patamar, a pessoa mente simplesmente por mentir, perdendo a noção daquilo que é verdade. Pior ainda: se convence de que suas inverdades como são verdades puras.

A Pseudolalia se constitui como um grave distúrbio da personalidade, podendo fazer o indivíduo perder sua identidade real e viver um “EU” imaginário, tornando difícil a convivência social. Neste ponto, faz-se necessário o acompanhamento médico e, em muitos casos, o uso de medicamento. Mesmo assim, o sujeito só deixa de mentir quando aceita que sua condição é precária. O conflito entre o seu desejo e sua realidade permaneceria, mas seria mais bem administrado e contido.

Autossabotagem

A mentira, na visão do Coaching, é vista como autossabotagem ou auto engano, ou seja, uma mentira contada para si mesmo. Por exemplo:

– “Como eu gostaria de fazer um curso de especialização! Mas estou velho demais!

– “Se eu não estivesse ocupado, faria caminhada para melhorar minha condição física”

– “Se não fosse a falta de oportunidade, eu seria melhor sucedido na vida”

A pessoa encontra “desculpas” que justifiquem sua “não ação” ou sua inércia frente a um processo de mudança. Outra forma comum de autoengano é acreditar que em uma relação um pode mudar o outro ou, ainda, justificar desrespeito e violência com base na dificuldade para reagir e na “esperança” de que, milagrosamente, a situação mude.

A autossabotagem é um mecanismo mental que faz com que as pessoas aceitem uma informação falsa como verdadeira. As mentiras são inconscientes e, de alguma forma, se acredita que são verdadeiras e confiáveis. A apresentamos de forma convincente a nós mesmos, expondo os mais diversos argumentos, tudo isso para validar e evitar o enfrentamento, que inconscientemente nos amedronta.

É desafiador encarar nossas limitações, medos e dificuldades. Embora se deseje, de forma consciente, a mudança, uma parte inconsciente do ser humano sempre vai pedir e insistir para que continuemos acomodados na zona de conforto.

Jhon Whitmore diz que se temermos o fracasso isso é o que teremos, pois embora não saibamos, estamos focados em nossos medos.

Anderson Carlos de Oliveira 07 1 1

 

 

 

ANOTE AÍ:

Anderson Carlos de Oliveira é Psicanalista Clínico, Coach, especialista em Desenvolvimento Humano e Psicologia Positiva. Contatos: (62) 9 9100-6731 | E-mail: anderson@psicoterapeutas.com.br.

Matéria enviada por Humberta Carvalho/Comunicação Positiva (humberta.jor@gmail.com)

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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