Procura
Fechar esta caixa de pesquisa.
Meu Senhor do Bomfim, manda uma fitinha pra mim...

MEU SENHOR DO BOMFIM, MANDA UMA FITINHA PRA MIM

Meu Senhor do Bomfim, manda uma fitinha pra mim…

Enlaçada num frasco de vacina pra mim. E se não der pra mandar, só dar um sinal é que eu pego a estrada e vou aí buscar. A gratidão vai ser a mesma, meu Senhor do Bomfim!

Por Zezé Weiss

Quem vai à Bahia sempre volta com uma fitinha do Senhor do Bomfim amarrada no pulso, no tornozelo, na mochila,  na mala, em algum lugar dos apetrechos de viagem.  Tem gente que compra, mas dizem que o bom mesmo é voltar pra casa com fita ganhada.

A crença do povo dita que o uso da fita garante a realização de desejos. Para dar certo, é preciso alguém dar duas voltas com a fita no seu pulso esquerdo (não pode ser você) e depois, em silêncio, amarrar com três nós enquanto você vai  um pedido a cada amarrio. Depois é só esperar: assim que a fita cair sozinha, o desejo será realizado.

Ou seja, você tem basicamente que deixar ela apodrecer no braço e torcer para que o fabricante não tenha utilizado material de qualidade.  Mas atenção! Só funciona se você ganhar a fitinha e pedir para alguém amarrar por você.  Como bônus, ela também lhe confere a proteção dos orixás.

O detalhe da fita cair sozinha é muito importante, porque dizem que se ela for tirada antes do tempo, o desejo não se realiza. Ao contrário, pode trazer azar, e muito azar.

Mas de onde surgiu essa belezura?

Uma versão é a de que na Bahia sempre teve um costume antigo de usar roupa de santo para ter sorte, mas como roupa de santo é coisa rara, o povo foi criando outras fitas para garantir proteção.

A produção das fitas para o comércio, entretanto, tem data de nascimento reconhecida. Por volta do ano de 1809, o tesoureiro Manoel Antonio da Silva Servo, confeccionou as primeiras fitas, em seda, para angariar fundos para a Irmandade do Senhor do Bomfim.

Conta-se que  que as primeiras fitas traziam uma cruz, símbolo das caravelas, e a “medida do Bomfim”, ou seja, tinham 47  cm de comprimento, que é a medida do braço direito da estátua do Senhor do Bomfim, santo padroeiro de Salvador, e que eram muito usadas no pescoço, como um colar de ex-voto, pelas pessoas que conseguiam algum milagre, para agradecer a graça alcançada.

Não se sabe por quanto eram vendidas, mas sabe-se que a produção das fitas era trabalho meticuloso e detalhado. Artesãos homens eram os que gravavam o nome do Senhor do Bomfim nas fitas com ouro ou prata. A produção era exclusiva para a Igreja, que controlava a sua difusão como mecanismo de captação de recursos.

Depois,  a demanda exigiu que as fitas fossem bordadas também por mulheres, mas ligadas à Igreja. Um pouco mais de anos e um pouco mais demanda,  e as fitas já não puderem ser bordadas, mas passaram a serem pintadas com tinta comum, na cor preta, ainda em seda. Esse costume seguiu firme até meados do século XX. Depois, não se sabe porque, a fita caiu em desuso, e sumiu da praça por um bom tempo.

As fitinhas de hoje  parecem ter surgido assim, repaginadas, industrializadas, massificadas  e carregadas de sincretismo depois que os chamados hippies baianos começaram a usar fitas coloridas nos pulsos.

Era para cada cor simbolizar um orixá: o verde escuro para oxóssi, o azul claro para iemanjá, o amarelo para oxum e assim por diante, mas o comércio acabou dando um jeito de introduzir novas cores, só por beleza mesmo, sem relação com o sincretismo baiano.

Mas a fitinha dos dias de hoje não deixa de estar vinculada com os céus.  De ex-voto da fé católica, passou a amuleto do sincretismo da cultura afro-brasileira, paixão nacional e internacional de todas os povos, de todas as crenças, de todas as raças. Axé!

Zezé Weiss – Jornalista. Matéria atualizada em 02 de março de 2021, na agonia da espera de uma vacina que nunca chega. 

<

p style=”text-align: justify;”>IMPORTANTE: AÍ ABAIXO VOCÊ ENCONTRA O LINK PARA COMPRAR O E-BOOK RÉQUIEM PARA O CERRADO.  AJUDA NÓIS! 

Deixe seu comentário

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

logo xapuri

posts relacionados

REVISTA