Abre-te, Primavera!

Agora: Abre-te, Primavera! Cantava,/E no meu canto acontecias/Como o tempo depois te confirmava./Cada verso era a flor que prometias

Agora – Por Miguel Torga

Abre-te, Primavera!
Tenho um à espera
Do teu sorriso.
Um poema indeciso
Entre a coragem e a covardia.
Um poema de lírica alegria
Refreada,
A temer ser tardia
E ser antecipada.
Dantes, nascias
Quando eu te anunciava.
Cantava,
E no meu canto acontecias
Como o tempo depois te confirmava.
Cada verso era a flor que prometias
No sonhado…
Agora, a lei é outra: principias,
E só então eu canto confiado.

Algumas notas:
  • Miguel Torga é um pseudónimo de Adolfo Rocha, médico no Hospital da Misericórdia, oriundo de uma família humilde de Sabrosa.
  • Em 1934, aos 27 anos, Adolfo Correia Rocha autodefiniu-se pelo pseudónimo que criou, “Miguel” e “Torga”. A escolha de “Miguel” foi em a dois grandes vultos da cultura ibérica: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno. Já Torga é uma brava da montanha, que deita fortes sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho, com um caule incrivelmente rectilíneo.a.
  • Pode saber um pouco mais sobre Miguel Torga no seguinte documentário:

Fonte: wescribe.pt.poemas-de-primavera/

 

Primavera Caatinga Edu 5 1

Foto: Eduardo Henrique

Biografia de Miguel Torga

Miguel Torga (1907-1995) foi um escritor português, um dos mais importantes poetas do século XX. Destacou-se também como contista, ensaísta, romancista e dramaturgo, deixando mais de 50 obras publicadas.

Miguel Torga (1907-1995), pseudônimo de Adolfo Correia da Rocha, nasceu em São Martinho de , Vila Real, Portugal, no dia 12 de agosto de 1907. De família humilde, com 10 anos foi para a cidade do Porto trabalhar na casa de familiares. Foi porteiro, moço de recados, regava o jardim, limpava a escadaria etc. Em 1918 foi mandado para o seminário de Lamego, onde estudou Português, Geografia e História, Latim e os textos sagrados. Depois de um ano decidiu que não queria ser padre.

Em 1920, Miguel foi para o Brasil para trabalhar na fazenda de café, de um tio, em . Após quatro anos foi matriculado no Ginásio, em Leopoldina. Em 1925 regressou a Portugal acompanhado do tio, que percebendo a inteligência do sobrinho se prontificou a custear seus estudos em Coimbra. Durante três anos cursou o Liceu e em 1928 matricula-se na Faculdade de Medicina. Inicia sua literária e publica seus primeiros livros de poemas, “Ansiedade” (1928), “Rampa” (1930), “Tributo” (1931) e “Abismo” (1932). Em 1933 conclui a licenciatura.

Começou a exercer a profissão em sua natal. Em 1934, publica “A Terceira Voz”, quando passa a usar o pseudônimo que o imortalizou. Escreveu uma vasta obra, em poesia, prosa, romance e teatro. Miguel Torga evitava agitação e publicidade, mantinha-se longe de movimentos políticos e literários, não dava autógrafos ou dedicatórias e não oferecia livros a ninguém, para que o leitor fosse livre para escolher. Sua obra reflete as apreensões, esperanças e angústias de seu tempo, traduz sua rebeldia contra as injustiças e sua revolta diante dos abusos do poder.

Miguel Torga teve seus livros traduzidos para diversas línguas. Foi por várias vezes candidato ao Prêmio Nobel de . Recebeu vários prêmios, entre eles, Prêmio do Diário de Notícias (1969), Prêmio Internacional de Poesia de Knokke-Heist (1976), Prêmio Montaigne da Fundação Alemã F.V.S. (1981), Prêmio Camões (1989), Prêmio Personalidade do Ano (1991), Prêmio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (1992) e o Prêmio da Crítica, consagrando a sua obra (1993).

Miguel Torga faleceu em Coimbra, Portugal no dia 17 de janeiro de 1995.

Fonte: ebiografia/miguel_torga/


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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