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Missão do CNDH a Tomé-Açu em meio a tiros e prisão de indígena

Missão do CNDH a Tomé-Açu em meio a tiros e prisão de indígena

Os povos indígenas e quilombolas querem PAZ!

Virginia Berriel 

O CNDH Conselho Nacional dos Direitos Humanos está em Belém do Pará desde o dia 2 de agosto para participar da Cúpula da Amazônia. Na Audiência Pública ocorrida no dia 4 de agosto, no Auditório da OAB, o CNDH ouviu relatos de ataques aos povos indígenas na comunidade Turé-Mariquita, em Tomé-Açu, há muito tempo com seus direitos violados, em razão de uma rotina de perseguição e medo impostos por pistoleiros da empresa BBF.

Nesta segunda-feira, 07 de agosto o CNDH se deslocou em missão emergencial, de Belém para Tomé-Açu, acompanhado de representantes do MPT, MPPA, CPT, Acnud, Woman Rats, quando fomos informados que três indígenas foram baleados e um deles algemado, retirado do hospital pela Polícia Militar e entregue à Polícia Civil, em Castanhal. “Foram muitos tiros, os pistoleiros botaram terror”, denunciaram os moradores.

Chegamos em Tomé-Açu no meio de tiros e protestos dos indígenas e quilombolas, que fecharam a via de acesso. Depois de ouvir os relatos fomos para a via de acesso, nos colocando em frente às Polícias Militar, Civil e a Tropa de Choque na tentativa de mediar o conflito e solicitar ao Major Wilson a soltura do indígena Felipe Tembé.

Filho do cacique Raimundo Tembé, na semana passada foi alvejado, uma criança, ele ainda está internado e hoje mais três indígenas foram baleados e um deles, mesmo baleado foi preso e levado para outra cidade. Ele é a vítima de toda essa violência e violações aos direitos humanos. Motivo do protesto dos parentes e demais indígenas e quilombolas.

Felipe foi alvejado por pistoleiros, segundo eles, por seguranças da BBF. As lideranças indígenas relataram uma onda de violência e violações que sofrem, seja da parte de pistoleiros, seja pela truculenta da PM.

A crise e os conflitos se intensificaram em razão da plantação de dendê da BBF, o que demonstra a total falta de ausência do Estado, das leis. A BBF segundo os indígenas, cobiça a terra Turé-Mariquita, terra titulada, mas também quer outras terras que foram retomadas pelos indígenas.

Segundo informações das lideranças comunitárias, os indígenas tem seus pertences roubados, inclusive motos utilizadas no deslocamento da roça para cidade. Aldair Turé teve a sua moto roubada, segundo ele, pela PM há dois meses. Ele disse que para evitar mais perseguição desistiu da moto.

Quem mandou atirar? Foram os donos da BBF? Foram os seus mandantes? Os indígenas disseram: “estão envenenando os nossos rios, as nossas plantações, estão matando o nosso povo e as nossas estradas foram cortadas para impedir o acesso de quilombolas e indígenas. Não aguentamos mais tanta covardia e queremos a demarcação e a documentação da nossa terra, para vivermos em paz.”

Segundo os indígenas e quilombolas a violência não vai cessar porque os donos das fazendas e da empresa BBF compraram terra grilada e querem todas as terras para eles.

Conflitos violentos

Tome Acu 2

Tome Acu 3

Os indígenas e os quilombolas estão cerceados e cercados na sua terra por emboscadas, tiros, ataques e pistoleiros. E denunciam: quem começou tudo isso foi a Bill Palma da Amazônia, empresa que tinha 70% do capital nas mãos da Vale do Rio Doce e que foi vendida para a BBF.

A nova dona age com truculência, persegue e mata a esperança dessa gente tão sofrida, que quer tão pouco, apenas a terra para subsistência e sobrevivência.

O chefe de segurança da BBF é um coronel aposentado que, segundo os indígenas, tem o seu exército e ainda conta com o apoio da PM e da Polícia Civil. Mediamos o conflito na via pública e viemos com quilombolas e indígenas para o salão da igreja para escutá-los, colher as informações. Vamos apresentar relatório acerca de tudo que vimos, ouvimos e vivenciamos em Tomé-Açu.

O que aconteceu aqui demonstra a falta total do Estado. A indigência do poder público que abandonou esses povos à própria sorte. O CNDH vai encaminhar o relatório às organizações que aqui estiveram e vamos cobrar da Funai, do governo brasileiro e das organizações internacionais.

Impossível aceitarmos esse acontecimento no meio da Cúpula da Amazônia.

Os povos indígenas e quilombolas querem PAZ!

Tome Acu 4

Tome Acu 3 Policia

Virginia Berriel
Jornalista Prof. 22913RJ
Executiva Nacional da CUT
Executiva da Fenaj
Direção do Sinttel Rio
Direção do Sindicato do Jornalistas
Profissionais do Município do Rio de Janeiro
Membra do MHuD Movimento Humanos Direitos
Conselheira do CNDH Conselho Nacional dos Direitos Humanos

Tome Acu Virginia

Fotos enviadas por Virginia Berriel, de Tomé-Açu. 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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