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“Um trapo humano chamado Sérgio Moro”

“Um trapo humano chamado

Por Fábio Lau/Conexão Planeta

A última pesquisa Datafolha diz que ele tem ainda 51% de apoio junto a opinião pública. Mas o percentual, é bom lembrar, foi aferido quando apresentado ao lado de ministros do governo Bolsonaro cuja popularidade é assustadoramente baixa. O presidente, segundo o mesmo instituto, tinha seu prestígio na casa de 29% que o consideravam bom ou ótimo.

Fato é que Moro, ao deixar a magistratura para embarcar no governo Bolsonaro, tentava salvar a reputação. Sabia que não teria como se livrar de uma condenação por ter vazado o áudio da presidenta , a qual não estava sob investigação, durante uma conversa com . Isso foi em março de 2016.
Para escapar da humilhação da condenação por crime indefensável, ele disse SIM ao candidato. Mas, ao concordar em ir para o governo de um político tradicional e que não tem compromissos com o que diz, Moro amarrou o burro na porta de boteco de quinta.
Porque disse SIM também a um esforço hercúleo para livrar a família Bolsonaro de toda e qualquer investigação sobre , SIM para não investigar milícias, e SIM para não capturar Queiroz. Além disso, não tem merecido apoio diante de decisões que o presidente deveria confiar-lhe. O último tiro no peito foi disparado hoje com a demissão do diretor da Polícia Federal – Maurício Valeixo – indicado por Moro.
Sem prestígio junto ao Planalto, e mesmo assim vendo sua força política escorrer, Moro não terá outra alternativa a não ser pedir demissão para escapar de uma humilhação pública adiada lá no passado – quando do vazamento.
Afora o governamental, Moro ainda pena com a Vaza-Jato. Divulgados pelo The Intercept , vazamentos revelam uma faceta que o público desconhecia: quando juiz era dado a fazer conchavos com o Ministério Público para manipular depoimentos e levar políticos à condenação – como no caso mais simbólico da Lava-Jato envolvendo o .
Moro é, neste momento, um sujeito desmoralizado, trôpego e sem energia que caminha pela Esplanada dos Ministérios olhando para o . Sabe que a hora da demissão chegará. Se será enquanto o seu algoz, o presidente Bolsonaro, está no hospital ou após sair, é a única dú que lhe resta.
Buscará abrigo nos braços de Dória Júnior que o quer como vice em uma chapa encabeçada por ele nas próximas presidenciais.
O que será de Moro até lá? Quem arrisca um palpite? Eu não.
Fábio Lau é jornalista, portelense, botafoguense, gosta de feijoada e nunca confiou em Sérgio Moro.
 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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