Motocicleta rural

Motocicleta rural-

Na roça, a montaria animal sempre foi uma mão na roda. Ainda hoje, em muitos lugares, um bom cavalo é sinônimo de fartura e bom gosto, que ajuda nas lidas da lavoura, no tanger de boiadas, nas visitas a vizinhos e idas à cidade. Pois é, mas os mudam. Nas últimas três décadas, o que antes era feito primeiro de jegue ou cavalo e em alguns casos de bicicleta, passou a ser feito de moto.

Um do Observatório de Mobilidade e Humanas do de Goiás sobre o epidêmico problema das por acidentes de trânsito faz uma revelação surpreendente. É crescente o número de acidentes fatais com motos na zona rural, tanto no uso da moto como veículo de deslocamento, quanto no transporte de cargas, ferramentas e pessoas.

Os técnicos foram atrás de explicações e constataram que cada vez mais essa é a montaria preferida no campo. Máquinas potentes servem pra tocar boiadas, vistoriar pastos e lavouras ou visitar vizinhos e ir pra cidade.

Em grande parte, pilotos sem habilitação nem capacitação para usar motos na feitura de cercas de arame, na derrubada de cupins, na roçagem de pastos, ou mesmo para levar para a , parente para tratamento médico, ou trazer alguém de casa para fazer compras na cidade. Daí, são quedas fatais em grotões e choques nas estradas.

Estudos mostram que isso se dá pelo fato de que o poder aquisitivo das famílias do campo aumentou muito na última década. Em consequência, o trabalhador rural já não se desloca a cavalo para as periferias das grandes . Agora que os que permaneceram em suas casas localizadas nos pequenos povoados, ou que ainda vivem na zona rural viram os serviços básicos alcançá-los (educação e saúde) e sua melhorar, todo quer ter moto, e trabalhar e passear com ela.

Deixe seu comentário

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

logo xapuri

REVISTA