Movimento negro repudia detenção de jovens do ato antirracista

Movimento negro repudia detenção de jovens do ato antirracista

 Por: Vivianny Matos

A professora Zélia Amador de Deus, ativista histórica, diz que a Polícia Militar agiu de forma despropositada e antidemocrática contra os jovens 

Belém (PA) – Militantes do movimento negro e defensores dos do Pará repudiaram nesta segunda-feira (8) a ação de da megaoperação da Segurança Pública contra o ato pacífico Antirracista e Antifascista “ Importam” no domingo, no Mercado de São Brás, na região central da capital. A Polícia Militar deteve 112 pessoas, a maioria jovens negros da periferia, sob justificativa de que eles estavam desrespeitaram o decreto no.800/2020, do governador Helder Barbalho (MDB), que proibiu manifestações e aglomerações de mais de dez pessoas nas ruas devido a pandemia do novo coronavírus. No entanto, o governador autorizou a abertura do comércio e dos shoppings centers de Belém.

“É um absurdo. A polícia agiu de forma despropositada e antidemocrática com esses jovens negros, alegando o desrespeito ao decreto. Ao serem apreendidos, eles ficaram aglomerados, na delegacia da Cremação e nos micro-ônibus que os levaram até lá, colocando-os em risco ao coronavírus”, repudiou a militante histórica do movimento negro e professora Zélia Amador de Deus, cofundadora do Centro de Estudos em Defesa do Negro no Pará (Cedenpa).

Como publicou a agência  Real, os jovens detidos foram conduzidos, sem reação, em um ônibus escoltado à Delegacia da Polícia Civil da Seccional da Cremação, onde permaneceram por mais de cinco horas. Alguns deles foram colocados para o lado de fora da delegacia e ficaram sentados no chão sob um forte calor. A reportagem recebeu diversas relatos dos jovens dizendo que policiais os agrediram verbalmente, vasculharam os celulares, sem um mandado de apreensão, fotografaram e anotaram seus endereços. Houve xingamentos de policiais contra mulheres.

A Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) organizou uma força tarefa de advogados para libertar os manifestantes, que foram soltos após prestarem depoimentos e assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO). “Foi uma ação seletiva, racista e que merece o nosso repúdio”, afirma o advogado Marco Apolo Leão Santana, da SDDH.

O governador Helder Barbalho não comentou a ação da Secretaria de Segurança Pública, mas o governo divulgou nota dizendo que a Polícia Militar “deteve pessoas que portavam máscaras de proteção anti gás, desodorante spray, escudos com símbolos anarquistas, tesoura, isqueiro, canivete, sinalizadores, soro fisiológico, escudos de produção caseira, pólvora e produtos inflamáveis”. Os escudos, que a polícia trata como “arma”, são cartazes de papelão com o símbolo anarquista.

O ativista Jorge André Silva, em texto publicado nas , questionou o tratamento dado pelo governo de Helder Barbalho as diversas manifestações, que foram realizadas durante a quarentena, e que apoiaram o governo do presidente Jair Bolsonaro, em Belém. “Todas inconstitucionais, todas de cunho fascista, todas desrespeitando não apenas o isolamento social como o uso de máscaras e ainda, em alguns momentos, agredindo hospitais com poluição sonora e até bloqueando a passagem de ambulâncias, mesmo quando impedidas foram respeitadas. Ofenderam, ameaçaram, intimidaram e chegaram a agredir fisicamente pessoas. Ainda assim, nas vezes em que foram impedidas pela polícia, receberam tratamento completamente diferente do que o povo negro, a juventude, cidadãs e cidadãos, e diversos integrantes de receberam na manhã de 7 de junho, no bairro de São Brás”, desabafa.

O Ato Antirracista e Antifascista “Vidas Negras Importam” aconteceu em mais de 20 capitais do país, entre eles, São Paulo, Rio de Janeiro, e Brasília (DF), para protestar contra a falta de políticas públicas do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) diante das mortes de jovens negros a cada 23 minutos no país, conforme indica o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado Federal.

As manifestações são também em memória de , que foi assassinada em 2018 e o crime não foi elucidado até o momento, de George Floyd, asfixiado por um policial branco, em 25 de maio, em Minneapolis, nos Estados Unidos, de João , 14 anos, morto em 21 de maio em uma ação policial no Complexo do Salgueiro, na cidade de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, e de Miguel Otávio, no dia 6 de junho, que morreu por negligência da patroa de sua , em Recife, Pernambuco.

Fonte: Amazônia Real 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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