MPF e parceiros promovem oficina sobre a plataforma de territórios tradicionais em comunidade quilombola de Goiás

MPF e parceiros promovem oficina sobre a plataforma de territórios tradicionais em comunidade quilombola de Goiás

MPF e parceiros promovem oficina sobre a plataforma de territórios tradicionais em comunidade quilombola de

Ação faz parte do Territórios Vivos, que busca fortalecer tradicionais para busca de seus direitos…

Via Ministério Público Federal

erca de cinquenta pessoas da comunidade quilombola Kalunga, localizada nos municípios de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre de Goiás (GO), participaram, nos dias 19 e 20 de maio, de uma oficina sobre , os objetivos do e a Plataforma de Territórios Tradicionais – ferramenta de georreferenciamento desenvolvida para reunir e disponibilizar, de forma acessível e interativa, informações de diversas fontes sobre as áreas habitadas por povos e comunidades tradicionais do Brasil. A iniciativa faz parte do Projeto Território Vivos, realizado em parceria pelo Ministério Público Federal (MPF), pelo Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT) e pela Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ).

Essa foi a primeira de uma série de oficinas de formação que ocorrerão nos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, estados piloto do projeto, até 2024. O objetivo é formar representantes das próprias comunidades para o uso da plataforma e multiplicação do conhecimentos sobre a ferramenta, que funciona de forma colaborativa. Ou seja, a proposta é que as informações sobre os modos de ser e de viver de cada povo sejam cadastradas no sistema por representantes dessas populações. Posteriormente, os dados inseridos são analisados por um comitê técnico e pelo conselho gestor da plataforma, que podem validá-los ou não.

Durante a capacitação, o procurador da República Wilson Rocha Fernandes Assis, que integra o conselho gestor da plataforma, e a diretora do projeto pela GIZ, Friederike Brinkemeier, apresentaram a iniciativa ao povo Kalunga e promoveram uma roda de conversa sobre o papel das mulheres na comunidade e na proteção do território. No segundo dia da oficina, foi realizada uma reunião na Câmara Municipal de Cavalcante (GO), com a apresentação da plataforma e sobre a inclusão do território quilombola no sistema.

A discussão foi subsidiada por da professora Cristina Vidotti, da Universidade Federal de Goiás (UFG), e da advogada da Associação Kalunga, Andrea Gonçalves. Segundo os dados apresentados na audiência, o território Kalunga possui cerca de 260 mil hectares, mas apenas cerca de 13% da área está definitivamente titulada em nome da comunidade, que tem cerca de 8,5 mil pessoas. 

24e7569e 3d6c 47e3 9b40 edebd6d2a587Perspectivas – O procurador Wilson Rocha ressaltou que uma das principais dificuldades ao se trabalhar com povos e comunidades tradicionais é a carência de informações que o Estado brasileiro possui a respeito de seus modos de vida, de seus territórios e de seus conhecimentos tradicionais. Daí surgiu a ideia da plataforma de territórios tradicionais. Segundo ele, a intenção é que a ferramenta se torne um amplo dados georreferenciado sobre essas populações. “Esperamos que, a partir do acesso a essas informações, o MPF e outros órgãos possam atuar de forma mais efetiva nas garantias dos direitos de povos e comunidades tradicionais”, disse.

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Para Lucilene dos Santos Rosa, do povo Kalunga, a oficina é uma oportunidade de descentralizar o conhecimento e fortalecer a da comunidade pelos seus direitos. “Nessas trocas que acabam ocorrendo, a gente vai descobrindo direitos que a gente tem e nem tinha noção ou conhecimento de como acessar”, pontuou. Ela espera que a inserção das informações na plataforma contribua para o avanço das demandas do seu povo. “Esperamos que a visibilidade desses dados, colhidos por pessoas da própria comunidade, deem embasamento teórico e técnico para que os profissionais do MPF e de outras instituições possam tomar providências para resolver conflitos ou encaminhar outras ações para o desenvolvimento socioeconômico da nossa comunidade”.

Na avaliação de Jorge Moreira de Oliveira, presidente da Associação Quilombo Kalunga, o trabalho do MPF e da GIZ junto à comunidade é uma experiência nova e bem-vinda. “É uma novidade porque a gente ainda não tinha tido oportunidade de trocar ideia e ver a possibilidade de alguns projetos que venham a favorecer e amparar a população. Como nosso território é federal, eu acho que a inclusão na plataforma tem grande chance de dar um impulso na questão fundiária, de invasões e de garimpos”, ressaltou.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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