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Mulher Negra: quebre as barreiras por você e por todas

Mulher Negra: quebre as barreiras por você e por todas

A mulher negra precisa de auto confiança. Para isso acontecer ela precisa de espaço e reconhecimento. A cima de tudo muitas mulheres buscam o seu respeito e sair do cenário ‘'mulher objeto sexual'', ao qual a sociedade insiste em colocá-la…

Por Clarice da Costa

Incentive As

Nos últimos meses temos visto mulheres negras em grandes cargos e outras lutando pelo seu espaço. É necessário que isso se propague, que essa mulher sinta-se acolhida e respeitada pelos seus.

Mulheres negras podem e devem ir além do quadro empregada doméstica. Não estamos mais no período escravocrata onde a vida da mulher negra era resumida em trabalhos domésticos, ama de leite e o objeto sexual do senhor de escravos.

Vamos incentivar as nossas mulheres negras de tal forma que elas se sintam capazes de enfrentar qualquer obstáculo, incentivem seus trabalhos, apóiem e compartilhem. Não deixem no anonimato essas mulheres e suas histórias de luta e resistência.

Mas esse papel de apoio não se deve somente ao homem e o núcleo familiar dessas mulheres, nós mulheres também temos que nos apoiar. Nada de críticas e julgamentos. Ninguém nasce pronto para vida e cresce um ser perfeito. A gente vai crescendo na medida em que a gente vai avançando.

A gente avança a partir do momento em que nos permitimos. Eu mesma fui crescendo aos poucos quando resolvi enfrentar o preconceito e passar a me olhar no espelho com outros olhos. Eu saí do quarto no mesmo instante em que falavam que eu era esquisita e aquilo marcou a minha pré-adolescência. Eu me questionei e nunca encontrei uma resposta. Eu me sentia sozinha e não me sentia parte do meio em que eu vivia. Cheguei a achar que este mundo não cabia para mim e fiquei preza num mundo que não cabia existir. Eu era o patinho feio. Fiquei livre tudo quando comecei a reagir e lutar. Entendi e enxerguei a beleza que há em Clarisse da Costa.

Sem a aceitação de si mesmo tudo fica mais difícil. A mulher tem que ser livre na sua essência. Quantas de nós se viram perdidas e sem apoio? Muitas de nossas dificuldades já começam no meio em que a gente vive. Se a gente não se aceitar a sociedade vai tentar de todas as maneiras nos derrubarem. Preocupe-se em ser feliz mulher. Não ligue para as marcas do corpo, é a nossa história.

Quem gostar de você vai ter que lhe aceitar do jeitinho que você é. E o papel do homem nessa história é incentivar a mulher que você e tantas outras mulheres são. O homem negro tem como obrigação contrariar a machista.

Incentive a mulher negra. Precisamos dar destaques para estas mulheres, romper todas as barreiras que o coloca em nossas vidas. Quem falou que não podemos ganhar o mundo?

Carolina de Jesus ganhou o mundo dentro das suas possibilidades enfrentando a barreira da pobreza. Antonieta de Barros foi além dos traços da mulher obediente ao homem e enfrentou homens quando escolheu o caminho da política. O que as duas têm em comum? Mulheres negras diante de uma sociedade machista e racista. Para a história duas negras, mas para mim que vai além da pele, além da cor, são duas guerreiras.

Eu já falei várias vezes delas. Uma particularidade minha é que eu as fui conhecer na fase adulta. Eu venho de um ambiente escolar ao qual eu não tinha representatividade alguma. Na literatura meu exemplo de mulher era apenas a Clarice Lispector. Nem sequer tinha ouvido falar de outras mulheres escritoras, os homens dominavam o cenário literário e artístico.

Eu hoje me vejo em Maria Carolina de Jesus como também me vejo em Antonieta de Barros, ambas lutaram por um ideal. Foram fiéis aos seus objetivos, as suas convicções. Não só foram por elas, mas por todos.

Como enfrentar o sistema? Com luta e apoio. Por isso incentivar a mulher negra faz toda a diferença. Enquanto o sistema mata mulheres negras, o que segundo as estatísticas são 61% dos feminicídios as que estão aqui vivas tem que contrariar a história. Contrariar a história é um tanto difícil, isso seria quebrar as regras. E bem sabemos que mulher alguma pode quebrar as regras da sociedade que se diz moralista e politicamente correta. Porque a mulher sendo escrava do sistema tem mais vantagem para a sociedade.

Nós mulheres temos que mudar a nossa realidade e o homem se conscientizar da importância da mulher.

Percebo que para muitos homens uma mulher bonita é como um troféu para eles. Mas se essa mulher vai além da sua beleza o homem não consegue se habituar a esta mulher. Parece um tanto assustador a independência de uma mulher. Para a sociedade a mulher nunca passou da cozinha.

A mulher negra para muitos é como se ela ainda fosse a escreva e a serviço do homem. Mas esse papel a mulher negra renega e sempre vai renegar. Cabe nós lutarmos por aquilo que é nosso por direito, respeito e dignidade. Nosso espaço não se limita.

Quando digo para a gente incentivar e apoiar a mulher negra é com relação a isso, para ela ser livre da ignorância e machismo do homem. Para ela ser muito mais que a sociedade espera.

Como eu já havia dito no início, nos últimos meses temos visto mulheres negras em grandes cargos e outras lutando pelo seu espaço. É necessário que isso se propague que essa mulher sinta-se acolhida e respeitada pelos seus. Quando falo ‘'seus'' é a sociedade num todo, amigos, familiares, namorado, marido, filhos.

A mulher negra precisa ter a sua importância reconhecida. Precisa ser acolhida. E cabe a mulher negra entender que ela precisa de auto confiança e valorizar o crescimento de outras mulheres negras.

A gente é linda sim, mas a nossa beleza não se resume ao prazer do homem. Nós podemos alçar vôos longos e devemos sim vencer os obstáculos e superar o homem em tudo.

Mulher quebre as barreiras por você e por todas.

Fonte: Blogueiras Negras

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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