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Mulheres indígenas da Amazônia falam sobre as transformações do clima

As transformações do clima na voz das mulheres indígenas da Amazônia

Documentário Quentura, que será exibido no próximo dia 11 de setembro, no CineSesc, em São Paulo, mostra as percepções e experiências que estas mulheres estão vivendo em função das mudanças no clima, que afeta suas roças, sua alimentação e seu modo de vida na floresta

Quentura mulheres indígenasEm pouco mais de 36 minutos, o espectador viaja por três diferentes regiões amazônicas guiado pelos delicados depoimentos de mulheres indígenas. Embora pertençam a diferentes etnias, todas têm em comum a mesma percepção: o clima mudou e está ameaçando seus modos de vida. Algumas dizem que está quente demais, que não é mais como antigamente, que não se sabe mais quando é verão. Abacaxis e pés de bananeira apodrecem antes da colheita, pimenteiras não florescem. Incêndios florestais que duram meses seguidos destroem áreas ricas em biodiversidade. Os peixes também escasseiam. Essas são algumas das fortes imagens capturadas pelas lentes da diretora de Quentura, Mari Corrêa, do Instituto Catitu. Ela percorreu as Terras Indígenas do Rio Negro (AM), Yanomami (AM) e Kaxinawá do Rio Jordão (AC) registrando relatos concretos das mudanças que as mulheres já estão vendo na floresta, na água e na produção dos alimentos.

Por que as mulheres? “Porque raramente elas são ouvidas e seus conhecimentos são pouco valorizados”, responde Mari Corrêa. “Elas têm um papel fundamental na manutenção dos modos tradicionais de uso dos recursos naturais a partir de suas vivências e saberes”, explica. A proposta do filme é ir além da percepção das mulheres indígenas sobre mudanças climáticas, mostrando a delicada teia formada pelos seus conhecimentos e práticas que fazem com que as florestas nas Terras Indígenas se mantenham vivas, preservadas. “Tem conhecimentos que só a mulheres indígenas têm, e isso precisa ser respeitado e valorizado”, diz Francisca Oliveira do povo Shawãdawa, no Acre.

Mulheres protagonistas, mulheres da terra

O cuidado com a roça é atribuição das mulheres e isso passa por uma relação estreita entre elas e as plantas que cultivam. Exemplos muito sensíveis registrados no documentário são os cumprimentos que as indígenas do Rio Negro fazem às manivas quando chegam à roça. “Elas são gente”, diz uma das mulheres. “Quando não fazemos fogo elas ficam tristes. Se as queimamos de qualquer jeito elas choram”, diz outra. Apesar de o trabalho na roça ser duro e pesado, é dessa forma que as mulheres se referem às plantas de suas roças e quintais. “São elas que manejam as roças, que lidam diretamente com a floresta no seu cotidiano, onde coletam frutos, sementes, palhas, cipó. Ao trabalhar com artesanato, com a medicina tradicional, com a plantação na roça, elas estão muito atentas ao ciclo do tempo e às transformações em curso”, diz Sinéia do Vale, Wapichana, da Terra Indígena Serra da Lua, em Roraima.

Almerinda Ramos de Lima, do povo Tariano, no Rio Negro, conta que existem cerca de 280 variedades de maniva, graças a uma extensa rede de trocas entre as mulheres, num processo contínuo de experimentação e inovação. Elas conhecem suas origens e suas necessidades, seus ciclos de cultivo e suas propriedades. “Com as mudanças do clima essas variedades correm o risco de se perder”, avalia. Já as mulheres da comunidade Maturacá, na Terra Indígena Yanomami (AM/RR), também relatam que o “verão estranho”, muito quente, estragou as plantações. Não foi diferente na Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão, no Acre, onde enchentes inesperadas causaram a perda de muitas variedades de amendoim.

Os relatos sensíveis, poéticos dessas mulheres e seus cantos dedicados às plantações para que cresçam sadias, estão registrados no documentário de Mari Corrêa, fruto de parceria entre a Rede de Cooperação Amazônica (RCA) e o Instituto Catitu, com o apoio da Fundação Rainforest da Noruega.

Duas das protagonistas do filme estarão presentes no dia da estreia do filme no CineSesc para um debate logo após a exibição: Sinéia do Vale, do povo Wapichana (RR) e Almerinda Ramos de Lima, do povo Tariano (AM). Ambas também vão abordar a questão de gênero no contexto indígena atual. Elas conquistaram liderança e protagonismo em ambientes predominantemente masculinos.

Venha assistir ao documentário e debater com elas!

Ficha Técnica

36 min | 2018
Direção e edição
Mari Corrêa
Imagem e som
Vinícius Araújo Berger
Fábio Nascimento
Produção executiva
Patrícia Zuppi
Mari Corrêa
Luís Donisete Benzi Grupioni
Realização
Rede de Cooperação Amazônica – RCA
Instituto Catitu

Apoio institucional

Fundação Rainforest da Noruega

Saiba mais sobre Sinéia Bezerra do Vale e Almerinda Ramos de Lima

Sinéia é Wapichana, da Terra Indígena Serra da Lua, Comunidade Malacacheta (RR). Coordena o Departamento de Gestão Territorial e Ambiental do CIR – Conselho Indígena de Roraima, e a Câmara Técnica de Mudanças Climáticas do Comitê Gestor da PNGATI (Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras Indígenas) além de integrar o Comitê Indígena de Mudanças Climáticas – CIMC.

Almerinda Ramos de Lima, é Tariano, da Comunidade Boa Esperança, na Terra Indígena do Alto Rio Negro, no Médio Uaupés (AM). Foi a primeira mulher eleita presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn).

Sobre Mari Corrêa e o Instituto Catitu

Cineasta, é fundadora do Instituto Catitu onde iniciou o projeto pioneiro de capacitação das mulheres indígenas no uso do audiovisual para potencializar seu protagonismo e valorizar os saberes femininos. Mari iniciou seu trabalho com comunidades indígenas em 1992, no Parque Indígena do Xingu e desenvolveu a metodologia de formação de cineastas indígenas, produzindo cerca de 30 filmes de autoria indígena. Seus principais filmes são Xingu, o Corpo e os Espíritos, premiado no Festival der Jean Roch em Paris – “Bilan du Film Ethnographique”; Voix Indiennes, coproduzido com TV ARTE (França/Alemanha), Para onde foram as andorinhas?, coprodução com o Instituto Socioambiental e Pirinop – Meu Primeiro Contato, agraciado com dezoito prêmios nacionais e internacionais (www.institutocatitu.org.br).

Sobre a Rede de Cooperação Amazônica (RCA)

Trata-se de uma rede que congrega 13 organizações – nove indígenas e quatro indigenistas – que atuam na Amazônia brasileira e cuja missão é promover a articulação e o protagonismo político dessas organizações em torno de objetivos estratégicos voltado à sustentabilidade e governanças locais nas Terras Indígenas (www.rca.org.br).

ANOTE AÍ

Fonte: Instituto Socioambiental

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