Mulheres Xavante Coletoras de Sementes da TI Marãiwatsédé
Infelizmente, ao longo das décadas de luta pela retomada de seu território, a área foi sendo cada vez mais desmatada, até fazer de Marãiwatsédé (“mata densa” na língua Xavante do tronco linguístico Jê), a terra indígena mais desmatada do Brasil, com cerca de 80% de seu território totalmente degradado.
Por Ana Paula Sabino e Samuel Leão
Para contrapor a esse jogo sujo de degradação e destruição, o grupo Pi’õ Rómnha/Ma’ubumrõi’wa – Mulheres Xavante Coletoras de Sementes da Terra Indígena Marãiwatsédé –, coleta e destina todas as sementes coletadas no Cerrado para a restauração das áreas internas e adjacentes à Terra Indígena Marãiwatsédé.
O grupo começou em 2011, quando coletores e coletoras da Associação Redes de Sementes do Xingu (ARSX), visitaram Marãiwatsédé para apresentar seu trabalho de plantar florestas e recuperar áreas degradadas entre assentados e indígenas nas bacias da região do Xingu. Depois da visita as mulheres Xavante resolveram se organizar para coletar sementes e fazer o replantio em sua própria área indígena.
O trabalho começou timidamente, com a coleta de duas espécies de sementes por 18 anciãs. Hoje, as cerca de 90 mulheres e seus familiares que integram a ARSX compreendem que, além de ser uma alternativa socioeconômica (as mulheres são remuneradas pela coleta), o trabalho com as sementes é uma forma de se apropriar e proteger o território Marãiwatsédé, ameaçado por invasões e intensamente desmatado.
O próprio coletivo de coletoras da ARSX é quem precifica as sementes, em assembleias anuais da associação, que é também o momento em que cada coletora recebe pelas sementes que entregou. Para assegurar a dispersão natural de sementes no território indígena, cerca de 30% das sementes de cada matriz contidas na carga são mantidas na natureza, na própria área de onde as sementes são extraídas.
“A Funai está errada, eles jogavam com a gente. O Ministério Público Federal (MPF) também está errado porque ele não nos ouviu, nós temos direito de dialogar e pensar alternativas para a nossa sobrevivência. Queremos, sim, reflorestar, mas quando chegamos aqui já havia muito pasto, e isso não foi nossa culpa”, destaca a liderança feminina Carolina Rewaptu, cacica da aldeia Madzabdzé, a aldeia mais distante do epicentro da Terra Indígena.
Todas as imagens foram enviadas/cedidas pelos autores da matéria. Imagem da Cacica Carolina (capa): Mariana Leal/Instituto Vladimir Herzog.
Ana Paula Sabino – Jornalista. Membro do Conselho Editorial da Revista Xapuri.
Samuel Leão – Cineasta e Jornalista.