Não é Não: Bloco em Goiânia faz bonito em defesa das Mulheres
Goiânia – Céu abafado, tempo quente, promessa de chuva forte e lá estavam elas, mulheres múltiplas, diversas, revolucionárias e coloridas mantendo a tradição de luta e resistência. Na terça-feira, lá estavam elas, uma vez mais dando o recado em pleno Carnaval: Não é Não!
Por Zezé Weiss – com imagens e textos enviados pelas jornalistas Lúcia Pedreira e Nonô Noleto.
Em destaque no desfile do bloco Não é Não em 2023, uma linda e tocante ala dos e das encantados/as, em homenagem a pessoas imprescindíveis que já não fazem parte do espaço físico deste nosso mundo.
Lá estavam elas, representadas em belíssimos estandartes: Marielle Franco, Bruno Pereira, Dom Phillips, Iêda Vilas-Bôas e tantas outras gentes lindas que, com certeza, devem ter passado este carnaval desfilando agradecidas pelos jardins do céu.
O Bloco Não é Não surgiu, em 2017, de uma brincadeira entre duas amigas, as psicólogas e feministas Cida Alves e Yonara Rabelo. Elas tiveram a ideia de formar um bloco para brincar o Carnaval, na Cidade de Goiás.
Mas foi em 2019, que perceberam que poderiam ir mais longe, principalmente depois que a então Ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, falou ao povo brasileiro, que mulher vestia rosa e homem, azul. A declaração teve grande repercussão negativa, além de render muitos memes.
Era sinal de retrocesso e a cofundadora do Bloco, Cida Alves, afirmou que no Carnaval se vestiu de azul, como mestre-sala, e o seu porta-bandeira, rosa. Uma manifestação de protesto. A partir daí, o Bloco cresceu, conquistando aliadas e aliados, e se transformou em um Movimento Social, aproveitando a estética carnavalesca, o colorido, a alegria, em uma linguagem popular.
O Bloco criou asas e voou. As mulheres passaram a ocupar as ruas não apenas no Carnaval, mas durante todo o ano. As feministas participam e promovem manifestações sempre que tomam conhecimento de casos de injustiça social, abusos sexuais, femicídio.
A luta se ampliou. ” Temos três pilares: O Enfrentamento à Cultura do estupro; a Valorização da Mulher; e a Defesa à Diversidade, uma aliança feminista com ativistas da Comunidade LGBTQIA+.
Cida Alves ressalta que a mulher é dona do seu corpo.
” Somos sujeitas do nosso desejo, da nossa sexualidade. A nossa pauta é desconstruir a ideia de mulher objeto sexual”. Ela explica que o Bloco está na luta pela mudança das regras, das leis.
A luta não é em vão. Na Câmara de Vereadores de Goiânia, as parlamentares, Kátia Maria, do PT; e Sabrina Garcêz, do Republicanos, apresentaram Projeto de Lei, que cria o Protocolo Não é Não para prevenir e proteger as adolescentes da importunação sexual.
“A gente quer avançar em várias frentes, na mudança da cultura, da legislação, na defesa da alegria. A gente quer se divertir, em paz”, afirma Cida.
MANIFESTO DO BLOCO NÃO É NÃO
Estamos aqui para “defender a ALEGRIA como uma trincheira”.
A alegria, o prazer, a sensualidade e a sexualidade estão a serviço da vida.
Defenderemos a VIDA, a livre passagem de nossas meninas e mulheres pelo mundo, pelas ruas.
Gracias poeta Mario Benedetti!
Somos herdeiras de valentes!
Ao longo de séculos, mulheres sofreram as mais pesadas penas e algumas deram suas vidas por nossa libertação.
Hoje, em tempos obscuros, seja por gratidão ou compromisso, devemos dar marcha às lutas dessas mulheres valentes.
Hoje, em tempos de carnaval, devemos – por amor as nossas filhas, netas e por responsabilidade com o futuro -, gritar pelo direito à alegria!
“O erotismo é uma das bases do conhecimento de nós próprias, tão indispensável como a poesia”
Merci Anaïs Nin!
Viver sem medo, brincar sem medo, amar sem medo!
Nossas mulheres têm o direito de brincar livremente!
Não vamos recuar um passo! Ergueremos trincheiras!
Nossos corpos não serão cobertos pela mortalha da repressão sexual.
Sexo não é sujo!
Nossa nudez não é feia! Nenhuma nudez será castigada!
Nossos corpos e desejos são puro brilho e purpurina!
Escandalosa e horrenda é a violência. A crueldade!
Há muito tempo se sabe que a violência sexual e a repressão sexual são faces de uma mesma moeda.
As aparências não enganam não! Por ações e palavras distintas, ambas querem minar ou barrar o avanço da autonomia da mulher.
Por isso vamos botar o nosso bloco na rua para
“Fazer o riso tremer o medo.
Fazer o medo virar sorriso”.
Obrigada Alceu Valença!
Não é Não, por que defendemos a alegria da não sujeição!
Não é Não, por que defendemos a autonomia de nossos desejos.
Fiquem espertos!!! Estamos atentas e fortes!
Nossa sensualidade e a livre expressão de nosso erotismo não serão mercantilizados por sua ganância e arbítrio!
Sabemos o que queremos e quem queremos! Nossos corpos, nossos desejos não serão colonizados!
A caminhada foi longa e juntas somos fortes!
Seu dedo em riste não nos assusta!
Seu olhar, carola e repressor, não nos intimida!
Não nos toque sem o nosso consentimento!
Estamos juntas, umas pelas outras!
E, como muralhas de lantejoulas, fitas de cetim e purpurina desafiamos sua ordem arbitrária e sua violenta cobiça sobre nossos corpos.
Não é Não!
Não é Não!
Não é Não!
Texto da psicóloga e doutora em Educação Cida Alves – criadora e organizadora do Bloco Não é Não. Leitura do Manifesto em 2023 foi feita por sua guardiã, Laurenice Noleto Alves (Nonô Noleto). Os textos da matéria são, essencialmente, das jornalistas Lúcia Pedreira e Nonô Noleto.
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Tags:
Maria, Direitos Humanos, Cultura, Educação, Violência, homenagem, Marielle Franco, Nonô Noleto
Respostas de 2
Pelas capas,
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