“Morre lentamente …”

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“Morre lentamente …”

Morre lentamente quem se torna escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos percursos, quem não muda a marca, quem não se arrisca vestir uma nova cor, quem não fala com quem não conhece.

Pablo Neruda 

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos “is”, em vez de um remoinho de emoções, justamente aquelas que fazem brilhar os olhos, aquelas que fazem de um bocejo um sorriso, aquelas que fazem bater o coração diante dos erros e dos sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca a certeza pela incerteza para prosseguir um sonho, quem não se permite ao menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não escuta música, quem não acha graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem passa os dias se lamentando da própria sorte ou da chuva contínua.
Morre lentamente quem abandona um projeto antes de começá-lo, quem não faz perguntas sobre assuntos que não conhece, ou quem não responde quando lhe perguntam sobre algo que domina.

Evitamos a morte em pequenas dores, lembrando sempre que estar vivo requer um esforço muito maior do que o simples fato de respirar.

Só a ardente paciência nos levará a conquistar uma esplêndida felicidade.”

Pablo Neruda no livro “A Dança da Paz”

Biografia de Pablo Neruda

Pablo Neruda (1904-1973) foi um poeta chileno, considerado um dos mais importantes escritores em língua castelhana. Recebeu o Premio Nobel de Literatura em 1971.

Pablo Neruda (1904-1973) nasceu na cidade de Parral, no Chile, no dia 12 de julho de 1904. Filho de um operário ferroviário e de uma professora ficou órfão de mãe logo ao nascer. Batizado com o nome de Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, ainda na adolescência, adotou o nome de Pablo Neruda, inspirado no escritor tcheco Jan Neruda.

Em 1906, muda-se com seu pai para a cidade de Temuco. Com sete anos ingressa no Liceu, e ainda na época escolar publica seus primeiros poemas no periódico A Manhã. Em 1919, obteve 3° lugar nos Jogos Florais de Maule, com o poema “Noturno Ideal”. Em 1920, começa a escrever para a revista literária Selva Austral, já usando o pseudônimo de Pablo Neruda.

Em 1921 muda-se para a capital Santiago, onde ingressa no curso de Pedagogia do Instituto Pedagógico da Universidade do Chile. Nesse mesmo ano, ganha o prêmio da Festa da Primavera com o poema “A Canção da Festa”. Em 1923 publica “Crepusculário” e em 1924 publica “Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada”. Em 1926, publica “O Habitante e Sua Esperança”, “Anéis” e “Tentativa do Homem Infinito”, com forte marca Modernista.

Em 1927, Pablo Neruda inicia a carreira diplomática, após ser nomeado cônsul na Birmânia. Em seguida vai para Siri Lanka, Java, Singapura, Buenos Aires, onde conhece o poeta Federico Garcia Lorca, e em Barcelona, onde trava contato com Rafael Alberti.

Com a Guerra Civil Espanhola, em 1936, é destituído do cargo de cônsul. Em 1937, na França, comovido com a guerra e a morte de Garcia Lorca escreve “Espanha no Coração”. Nesse mesmo ano retorna para o Chile e dedica-se a escrever baseado em temas políticos e sociais. Em 1939, Pablo Neruda é designado cônsul em Paris e logo depois cônsul Geral no México. Nessa época escreve “Canto Geral do Chile”.

Em 1943, é eleito senador da República. Critica o tratamento dado aos trabalhadores das minas, na presidência do Gonzáles Videla, é perseguido e se exila na Europa.

No dia 11 de julho de 1945, o poeta, que tinha preferência pelas ideias comunistas, declamou um poema “Dito no Pacaembu”, para mais de 80 mil pessoas no estádio do Pacaembu, em São Paulo, em homenagem a Luís Carlos Prestes, político comunista brasileiro recém-saído da prisão.

Em 1952, publica “Os Versos do Capitão” e dois anos depois publica “As Uvas e o Vento”. Em 1965, recebe o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Oxford. Em 1971 recebe o Prêmio Nobel de Literatura.

Em 1973, Neruda abriu mão de sua candidatura à presidência da república do Chile, em favor do socialista Salvador Allende, que possuía as mesmas afinidades ideológicas do poeta. É designado embaixador na França, mas doente retorna ao Chile em 1972.

Pablo Neruda faleceu em Santiago, capital do Chile, no dia 23 de setembro de 1973. Depois de sua morte, foram publicadas suas memórias com o título “Confesso Que Vivi”.

Fonte: ebiografia


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapui.info. Gratidão!