A NOITE KUNA

A noite Kuna

A noite Kuna conta que ninguém pode impor ao outro cultura e valores. “Aos Kuna o governo panamenho impingiu regras… Em 1925, na noite do dia 25 do mês das iguanas, os Kuna passaram à faca todos os policiais que os proibiam de viver sua vida”

Um texto primoroso do Eduardo Galeano

O governo do Panamá havia ordenado, por lei, a redução à vida civilizada das tribos bárbaras, semibárbaras e selvagens que existem no país.

E seu porta-voz havia anunciado:

As índias kuna nunca mais pintarão o nariz, mas sim as faces, e já não usarão argolas no nariz, mas sim nas orelhas. E já não vestirão molas, mas sim vestidos civilizados.

E elas e eles foram proibidos de sua religião e de suas cerimônias, que ofendiam a Deus, e de sua tradicional mania de se governar ao seu modo e maneira.

Em 1925, na noite do dia 25 do mês das iguanas, os kuna passaram à faca todos os policiais que os proibiam de viver sua vida.

Desde então, as mulheres kuna continuam usando argolas nos narizes pintados e continuam vestindo suas molas, esplêndida arte de uma pintura que usa agulha e linha em vez de pincel.

E elas e eles continuam celebrando suas cerimônias e suas assembleias, nas duas mil ilhas onde defendem, por bem ou por mal, seu reino compartilhado.

 

Eduardo Galeano

Eduardo Galeano – Escritor. Em O Filhos dos Dias. Editora L&PM, 2ª edição. 2012.

 

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