cidades goianas

NOMES ORIGINAIS E BONITOS DAS CIDADES GOIANAS

Nomes originais e bonitos das cidades goianas

A história de Goiás remonta ao início do século XVIII, com a chegada dos bandeirantes vindos de São Paulo, atraídos pela descoberta de minas de ouro. Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, liderou a primeira bandeira com a intenção de se fixar no território, que saiu de São Paulo em 3 de julho de 1722

Por Jaime Sautchuk

A região do Rio Vermelho foi a primeira a ser ocupada, onde fundou-se Vila Boa (mais tarde renomeada para Cidade de Goiás), que serviu como capital do território durante 200 anos.

O processo de independência de Goiás se deu gradativamente, impulsionado pela formação de juntas administrativas. O desenvolvimento e povoamento do estado deu-se, de forma mais intensificada, a partir da mudança da capital para Goiânia, na década de 1930, e com a construção de Brasília, em 1960. (Fonte: Wikipédia).

Muitas cidades goianas tinham nomes originais e bonitos, antes dos nomes atuais. Vejamos:

Alto Paraíso de Goiás – Veadeiros

Anápolis – Sant’Ana das Antas

Bela Vista de Goiás – Sussuapara

Cachoeira de Goiás – Fumaça/Moitu

Doverlândia – Cachorro Sentado

Formosa – Arraial dos Couros

Goiás (Velho) – Santana de Goiás

Morrinhos –  Nossa Senhora do Carmo dos Morrinhos

Nova Glória –  Pito Aceso

Piracanjuba – Pouso Alto

Pirenópolis – Minas de Nossa Senhora do Rosário Meia Ponte

Rialma – Barranca

Rubiataba – Rabia-Bode

Santa Rita do Novo Destino – Paletó Rasgado

Santo Antônio de Goiás – Santo Antônio/Quiabo Assado

São Miguel do Araguaia (povoado) – Troca-Tapa

ALTO PARAISO DE GOIAS

Alto Paraíso
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Como nascem as cidades

“Algumas povoações resistiram, como Pirenópolis, Goiás, Corumbá, cujos habitantes entregaram-se à lavoura de subsistência e à criação de gado. Para isso foi preciso despovoar os campos dos indígenas bravios, confinando-os em aldeamentos, onde lhes era ministrado o ensinamento de métodos de trabalho e da religião católica. Sobretudo se lhes ensinava como extinguir-se.”
Por Jaime Sautchuk
pirenopolis rua do rosario 1917
Dessa forma o escritor goiano Bernardo Élis descreveu o fim do chamado Ciclo do Ouro em Goiás, que durou um século, de 1722 a 1822. Começou com a chegada à região da expedição do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva Filho, o Anhanguera II, e durou enquanto havia o precioso metal na superfície, nos cursos d’água e nas barrancas.
Como diz o escritor, pra sobreviver, as populações das vilas e aglomerados humanos migraram de atividade, passando ao cultivo de lavouras e à criação de gado. Com o passar do tempo, entretanto, outras atividades econômicas atraíram pessoas e deram origem a novas vilas, cidades e municípios.
Cada um dos 246 municípios goianos tem sua história, é claro, sempre centrada na economia, mas formando uma cultura própria, que reflete a convivência dos membros das novas comunidades. Em alguns casos, como na época do ouro, esse processo é tão forte que marca época do desenvolvimento do estado.
Um desses casos é o do município de Ceres, fruto de um processo socioeconômico que mobilizou o país inteiro, muito além das fronteiras goianas. Foi reflexo retardado da Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder por 15 anos, com a proposta de acabar com o domínio das velhas oligarquias e de modernizar o Brasil, nas cidades e no campo.
Anos depois, o governo federal implantou a política da “Marcha para Oeste”, que propunha a ocupação do que era chamado de “terras sem homens” de Goiás e Mato Grosso. Pelo lado oficial, em 1941 foi implantado um projeto de reforma agrária que, embora limitado, deixou suas marcas para sempre.
Era o da Colônia Agrícola Nacional de Goiás, que teve como primeiro administrador o engenheiro Bernardo Sayão Carvalho de Araújo. À época, o projeto chamou a atenção do país inteiro e deu prestígio ao governo por bom tempo. Afinal, dava a entender que a promessa revolucionária de promover uma reforma agrária no país estava sendo cumprida.
De todo jeito, numa área do centro-norte goiano, em pouco tempo já havia perto de 4 mil famílias assentadas em glebas de mais ou menos 30 hectares. Os colonos recebiam sementes e outros insumos, e havia postos médicos, escolas, centros comunitários, e assim por diante, sob gestão do governo estadual.
A sede do projeto se chamava Ceres, a deusa da agricultura na mitologia grega, e com o tempo ali surgiu o município do mesmo nome, que em 2014 tinha 25 mil habitantes. Ceres manteve forte produção agropecuária, mas se tornou também um importante centro de serviços, citado como exemplo nas áreas de saúde, educação, informática e infraestrutura urbana.
No entanto, lá atrás, no seu início, o projeto tinha esse limite de lotes a distribuir e parou por aí. Era filho único de mãe solteira. Só que a propaganda em torno do empreendimento atraiu muito mais gente de todos os cantos do país, principalmente do Nordeste.
Boa parte desses migrantes ocupou terras mais ao norte do estado, na região do município de Uruaçu, próximo de onde estavam as vilas de Formoso e Trombas. As posses eram repartidas pelos próprios ocupantes, em lotes também pequenos, de até 30 hectares.
Ocorre que a valorização das terras, com a abertura de estradas, atraiu também grandes proprietários, grileiros, que passaram a ocupar áreas enormes, expulsando os posseiros. Pra isso, eles contrataram jagunços armados, e o terror se implantou na região, com violência e mortes a todo instante.
O camponês José Porfírio de Souza, o Zé Porfírio, tinha saído do oeste da Bahia e, depois de enjeitado em Ceres, virou posseiro em Trombas. Por diversas razões, inclusive a de já ser alfabetizado, ele se tornou líder daquela gente. Sob seu comando, com diplomacia, eles formavam grupos pra ir a Goiânia pedir socorro ao governo estadual.
Ao contrário, a Polícia Militar do Estado participava de ações ao lado dos jagunços, ameaçando, prendendo e até matando posseiros. Certa feita, ao voltar de uma dessas viagens, Porfírio deparou-se com sua casa em chamas e sua mulher e filhos apavorados, nos matos ao redor. Foi a gota d’água.
Ele, então, liderou a formação da Associação dos Trabalhadores Agrícolas de Formoso e Trombas, uma verdadeira força armada de resistência. O conflito armado se instaurou em definitivo na região, a ponto de os camponeses ocuparem as duas vilas, onde montaram bases pra um embate prolongado.
A mídia nacional batizou o movimento de “República de Formoso e Trombas”. A contenda perpassou todos os governos até a década de 1960. Zé Porfírio se elegeu deputado estadual, com a maior votação do Estado, pela sigla do PTB, em coligação com o PSB. A situação mudou.
Como governador, foi eleito Mauro Borges Teixeira, filho de Pedro Ludovico, mas tido como de esquerda. Logo ao assumir, ele iniciou negociações e menos de um ano depois distribuiu 20 mil títulos de terras aos camponeses revoltosos.
No entanto, após o golpe de estado de 1964, os títulos de terra foram anulados, e Zé Porfírio teve seu mandato cassado e fugiu. Mas acabou sendo preso, e hoje ele consta da lista de desaparecidos políticos.
Imagem: Acervo da Cidade – Pirenópolis, Rua do Rosário, 1917.  Matéria publicada originalmente em março de 2021. Jaime foi embora deste mundo em julho de 2021. Deixou imensa saudade. 
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JAIME SAUTCHUK PARTIU PARA O MUNDO DOS ENCANTADOS

Neste 14 de julho, por volta das 13h, em Brasília, por conta de uma parada cardíaca, nosso companheiro Jaime Sautchuk, jornalista e escritor, fundador e editor da Revista Xapuri, de 68 anos, partiu para o mundo dos encantados…

Por ACQ e Zezé Weiss

Jaime Sautchuk

Catarinense de nascimento, goiano por opção e  cerratense de coração, Jaime vinha sofrendo com uma saúde debilitada, com sessões diárias de hemodiálise há cerca de dois anos. Natural de Joaçaba, aos 13 anos foi estudar em Curitiba, Paraná, onde trabalhou como office-boy e bancário até se tornar jornalista, aos 18 anos. 

Em Brasília, trabalhou inicialmente no extinto Diário de Brasília. Passou pelas redações da BBC de Londres, dos jornais alternativos Opinião e Movimento, de O GloboEstadãoFolha de S. PauloVejaAfinal e Diário da Manhã. Em novembro de 2014, fundou com a jornalista e ambientalista Zezé Weiss a revista Xapuri Socioambiental, da qual foi editor até  a última edição impressa, publicada em junho de 2021. 

Militante do PCdoB, participou das lutas do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal e foi pioneiro em Brasília, no final dos anos 70, dos movimentos de defesa da Amazônia e do Cerrado.
Anos depois ele mesmo investiu todo o seu patrimônio na criação da Reserva de Patrimônio Natural Linda Serra dos Topázios, em Cristalina, no Estado de Goiás. Ali, ao longo de mais de uma década, Jaime montou uma biblioteca fabulosa sobre o Cerrado brasileiro. 

Jaime Sautchuk ganhou o prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos com o vídeo independente Balbina, Destruição e Morte, que retratou a devastação do território do povo Waimiri-Atroari pela desastrosa construção da usina hidrelétrica no rio Uatumã, no Estado do Amazonas. Na Revista Xapuri, fez questão de que primeira a matéria de capa fosse sobre os povos indígenas isolados, por considerá-los os mais vulneráveis. 

Sautchuk escreveu livros de ficção (Mitaí e Antologia Profética), de reportagem (Projeto Jari – A Invasão Americana; A Guerrilha do Araguaia; Descaminhos do Futebol; O Socialismo na Albânia: um repórter brasileiro no país de Enver Hoxha) e de não-ficção (O Dom de Francisco (sobre o chef do restaurante Dom Francisco); Cruls: Histórias e andanças do cientista que inspirou JK a fazer Brasília; Para Ler Cristovam Buarque (sobre as ideias do ex-governador do Distrito Federal); O Causo eu Conto – sobre Bernardo Élis e o Brasil Central.

No formato e-book Jaime deixa pronto Por um Mundo sem Venenos (disponível na lojaxapuri.info) e um outro, Escorre Ouro em Paracatu (sobre a mineração em Goiás nos dias atuais) em fase final de produção. Ultimamente, Jaime estava envolvido na finalização do livro O homem que fundou uma cidade (sobre a história da criação da cidade de Alexânia, em Goiás) e na celebração dos seus 50 anos de jornalismo, no ano de 2022. 

Jaime deixa dois filhos, Carlos e João Miguel, e uma filha, Rosa, do primeiro casamento com a jornalista Vera Lúcia Manzolillo. Foi casado também com a socióloga Adinair França  (já encantada) e a veterinária Cláudia Costa Saenger. 

Antonio Carlos Queiroz – Jornalista. Zezé Weiss – Jornalista.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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