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Nota pública sobre o negacionismo Científico na Embrapa

Sobre o negacionismo Científico na Embrapa

Sobre o negacionismo Científico na Embrapa – Nota Pública

O caso Evaristo Miranda…

Via Rede Irerê de Proteção à

1 – A Rede Irerê de Proteção à Ciência compreende o acesso à Ciência como um Direito Humano fundamental, assegurando aos povos o direito de usufruir do progresso científico e seus benefícios. Para isso, a Rede Irerê entende que a promoção da livre expressão científica e da proteção de pesquisadores, cientistas e demais trabalhadores do campo científico é tarefa fundamental, especialmente em tempos de aprofundamento de governos totalitários e arbitrários.

2 – No entanto, faz-se necessário afirmar que a liberdade científica não pode ser confundida com irresponsabilidade e até mesmo negacionismo científico. Especialmente, quando este se coloca de forma interessada junto aos grandes grupos políticos e econômicos, dispostos a atacar os direitos humanos, ambientais e de saúde da população.

3 – Como bem demonstrado no recente artigo científico “O risco de falsas controvérsias para as políticas ambientais brasileiras” (https://doi.org/10.1016/j.biocon.2021.109447), a fabricação artificial de dúvidas sobre aquilo que já se apresenta como certeza científica, consiste numa tática conhecida e bem documentada das grandes corporações multinacionais e de grupos conservadores para imporem narrativas ideológicas para manter seus lucros às custas do interesse coletivo e da proteção à saúde e ao meio ambiente.

4 – Provas do negacionismo científico e os danos promovidos à população podem ser revisitados ao longo da história, e foram usados para justificar a escravidão, a submissão da mulher, dos povos indígenas, a criminalização dos pobres, a negação dos efeitos nocivos do tabaco, do amianto, de agrotóxicos já proibidos em diversos países, e até mesmo da eficácia de vacinas contra Covid-19.

5 – O caso Evaristo Miranda desnuda, por sua vez, essa prática negacionista e a submissão, omissão e conivência ao poder econômico e político em uma das maiores empresas de pesquisa pública agropecuária do mundo!

6 – Inegável reconhecer que o negacionismo científico tem duas faces na Embrapa: de um lado da moeda, ela promove a distorção dos fatos científicos por tais grupos alinhados ideologicamente ao poderio econômico conservador do setor (foi assim no debate cientifico sobre os transgênicos, código florestal, agrotóxicos…) e, por lado, busca promover uma verdadeira perseguição aos cientistas divergentes, que apontam os impactos negativos deste modelo agropecuário atrasado, predador, baseado na exploração de recursos naturais sem qualquer critério técnico como no caso dos níveis alarmantes de desmatamento no país, em especial na Amazônia, queimadas, uso de agrotóxicos, mau uso do solo e água, etc.

7 – Importante destacar ainda que, no lado “b” da Embrapa, há dezenas, e provavelmente centenas, de pesquisadores e pesquisadoras que se sentem preteridos, isolados, desprestigiados, desmotivados, perseguidos, adoecidos e até mesmo sumariamente demitidos, por não se alinharem ao negacionismo científico, intensificado nos últimos anos com o amparo do atual governo. São vítimas de uma violência científica, administrativa e ideológica quase invisível, dissimulada e ignorada por muitos, mas hoje conhecida na literatura como whistleblowing científico (http://www.cesteh.ensp.fiocruz.br/noticias/manifesto-em-defesa-dos-cientistas-que-alertam-sobre-os-perigos-dos-agrotoxicos; https://www.ohchr.org/EN/Issues/Environment/SRToxicsandhumanrights/Pages/right-to-science.aspx )

8 – Assim, ao contrário da postura adotada pela Anvisa ou pelo INPE, por exemplo, o negacionismo científico na Embrapa precisa ser compreendido como uma política institucional perpetrada pelo seu próprio quadro diretivo, uma vez que o sr. Evaristo Miranda, mesmo após esta denúncia humilhante, ainda permanece no cargo de Assessor do Presidente da empresa…

9 – Desta forma o combate a essa violência institucional contra à ciência deve ser feita de maneira estrutural, com o apoio da ciência e dos órgãos de controle de vigilância e das leis trabalhistas, de probidade administrativa, e na esfera criminal dos direitos humanos e ambiental.

10 – A Rede Irerê de proteção à Ciência finaliza a presente nota solidarizando-se com todos os trabalhadores e trabalhadoras da Embrapa, seus pesquisadores e pesquisadoras, e cobra a apuração profunda da fabricação de falsas controvérsias científicas na empresa e a perseguição àqueles cientistas que optaram por cumprir seu papel em defesa dos interesses da sociedade.

, 08 de fevereiro de 2022

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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