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O carro verde no Brasil

O carro verde no

Temos apenas três mil, mas houvesse governo comprometido com decentes no Brasil, teríamos milhões de carros elétricos circulando por aí.

Num mundo submetido à hegemonia dos combustíveis fósseis, é esta a solução desejável para que sejam reduzidos os nocivos efeitos oriundos das emissões de poluentes atribuídos aos sistemas de transportes na atualidade.

Afinal, se atualmente experimentamos graves problemas atmosféricos, com uma frota de 45 milhões de veículos, em 2030 circularão 89 milhões, que despejarão na atmosfera algo próximo de 88 megatoneladas de monóxido de carbono (CO²) por ano, se não forem tomadas medidas que aumentem a eficiência energética da nossa frota veicular.

Mas se a boa alternativa para evitar a catástrofe atmosférica passa pela popularização do carro elétrico em nosso meio, por que raios não investimos neste modelo como proposta de um mundo melhor para as futuras gerações?                 Primeiro, porque geralmente iniciativas quando existem neste sentido surgem no âmbito de Prefeituras, portanto de alcance apenas local e não imune a sucessivas mudanças legislativas a depender do governo de plantão.

A segunda dificuldade é de ordem tecnológica. Por não merecer prioridade nacional, os veículos elétricos colecionam problemas como de carga de baterias que podem durar entre 6 e 8 horas em condições normais.

Também, diretamente relacionada com a capacidade das baterias, está a questão da autonomia de uso, já que o carro elétrico poderá rodar com carga completa entre 100km e 200km a depender do modelo utilizado.

E por terem razoáveis vantagens na operação, pesa o custo de aquisição, principalmente porque sua produção é limitada, conforme sugere o tamanho da frota nacional.

Mas, se por um lado a opção elétrica acumula obstáculos, por outro suas vantagens compensam os transtornos, até porque todos estes são perfeitamente superáveis se merecer em inovações tecnológicas já disponíveis na Europa, EUA, Japão, Canadá, Coreia etc. A começar da maior eficiência do motor e dos ganhos com a não emissão de gases, ruídos e de sistema de escape – daí os elétricos terem o politicamente correto apelido de carros verdes.

Confirma o Portal Energias Renováveis que o custo da energia elétrica despendido por carros elétricos com o armazenamento de energia em baterias, corresponde a um terço do valor do custo do combustível utilizado por veículos de combustão interna, para a mesma distância percorrida e em condições idênticas de uso – além dos baixos custos de manutenção, já que dispensam trocas de óleo frequentes e outras operações de manutenção.

Outra vantagem que mitiga o problema do abastecimento é o sistema de paragem regenerativa, por meio do qual seu motor elétrico funciona como um gerador de energia para o próprio sistema entre a parada e saída do veículo em circulação.

E finalmente a condução do veículo, que além de agradável, dispensa pedal de embreagem e caixa de condução (de velocidades). Tanto para a cidade, como em situações em que seja necessário fazer retomadas de aceleração rápida, como nas manobras de ultrapassagem, não é preciso ter preocupação com a caixa de velocidades – o sistema elétrico responde em melhores condições.

Enfim, para não dizer que o governo não faz nada, dá-se um desconto. Segundo Ivan Whately (antp.org.br), o governo estuda (repetimos, estuda) a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que incide sobre os veículos elétricos dos atuais 25% para 7,5%, a mesma alíquota dos veículos flex, conforme declarações aos jornais do Ministro Fernando Coelho Filho, das Minas e Energia.

Não obstante ainda ser, digamos, um , a intenção oficial é acanhada, considerando o que historicamente o governo brasileiro concede em incentivos fiscais, subsídios e facilidades para as poderosas montadoras de veículos de combustão fóssil.

Como se vê, a hegemonia do carro verde, principalmente por aqui, ainda pertence a um horizonte muito, mas muito distante – uma , mesmo!

Jornalista, membro da Associação Nacional de Transportes Públicos/ANTP


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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