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O causo da Santa que anda

O CAUSO DA SANTA QUE ANDA

O causo da Santa que anda

Um causo do folclore de Beneditinos – Piauí

Por José Gil Barbosa Terceiro

O cemitério São Lucas fica na entrada da cidade de Beneditinos, à margem da estrada que liga aquela cidade com os Municípios de Altos, Pau D’Arco e Alto Longá. Não se trata de um cemitério muito antigo, de modo que a cova mais antiga que se encontra por ali data do ano de 1969. E neste tumulo que está enterrado o mestre de obras responsável pela construção do cemitério.

Contudo, em seu breve período de existência foi palco de uma história sobrenatural envolvendo a imagem de uma santa. Para entender melhor essa história, no entanto, precisamos lançar mão de algumas explicaçõesBem na entrada do Cemitério (foto acima) vê-se logo a imagem de uma santa presa em um oratório no interior de uma cruz. Ressalto, desde já, que essa não é a santa a que se refere a história. Mas é importante compreender que, assim como há na entrada, no interior do cemitério, em muitos túmulos são encontrados pequenos oratórios encrustados nas tumbas que indicam os locais onde estão enterrados os falecidos.

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A nossa história ocorreu em um desses túmulos. Mais precisamente em um que fica do lado esquerdo de quem entra no cemitério, em um dos túmulos mais antigos do lugar (no qual o sepultamento se deu no ano de 1976). Lá pelos anos 1980 o túmulo foi construído, e como era de costume, a pequena imagem de uma santa, foi encrustada na tumba, logo abaixo do crucifixo.

Ao que dizem era uma imagem de uma santa usando trajes azuis e brancos, sendo uma imagem muito bem trabalhada, com detalhes que remetiam a trabalhos artesanais bem antigos. Uma imagem, conforme contam, muito linda de se ver, voltada de frente para quem chegava ao pé da tumba.

No entanto, um belo dia, pessoas que visitavam o local, perceberam que a imagem, presa dentro do vidro do oratório, de uma forma que este não poderia ser aberto sem que o vidro fosse quebrado, estava voltada de costas.

Foi um reboliço nunca visto antes na cidade. Todos comentavam o caso. Afinal, como poderia a imagem ter virado de costas sozinha sem que alguém o fizesse? Como poderia alguém fazê-lo sem danificar o vidro ou a tumba? Era, de fato, uma coisa muito estranha.

Para uns, a santa havia se zangado por terem enclausurado ela naquele pequeno espaço e, por isso, virara de costas. Para outros, a santa havia virado as costas ao mundo por conta da enorme quantidade de pecados espalhada nesta Terra, inclusive na cidade de Beneditinos. O certo é que tudo o que se dizia não passava de especulação popular.

Um dia, alguém teria feito cuidadosamente um pequeno orifício no vidro e virado a santa de frente novamente, de modo que, por alguns dias, ela voltou à sua posição original.

No entanto, depois de pouco tempo, ao chegarem ao cemitério em uma manhã, repararam que o vidro do pequeno oratório em que se encontrava a santa estava quebrado e a imagem havia desaparecido.

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À época, houve quem dissesse que ela teria sido retirada para ser realocada no cruzeiro do cemitério, mas isso nunca ocorreu. Para uns poucos, a imagem teria sido roubada por ladrões de túmulo que gostam de colecionar antiguidades. Outros dizem que a Igreja Católica teria enviado a imagem para o Vaticano para que este pudesse avaliar o fenômeno. No entanto, o que a grande maioria da cidade acredita é que a tal santa tinha ficado tão indignada que resolveu sair dali, tendo quebrado o vidro em sua fuga.

Para quem acredita que a Santa saiu andando, o que se diz é que ela está andando por aí, combatendo o mal que existe no mundo, de modo que há até quem diga que já deu de cara com a imagem vagando por aí.

A historia da Santa que Anda se tornou tão popular que eu acabei por tomar conhecimento disso tudo na cidade de Altos, de modo que um dia resolvi ir ao local para investigar os fatos.

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Em Beneditinos, encontrei o popular conhecido por Antonio Marcos, residente em frente ao cemitério e que me contou a maior parte dos detalhes da história.

Ao que dizem, se um dia a Santa que anda voltar ao pequeno oratório é bom que todos se arrependam de seus pecados, pois esse será um sinal de que o fim do mundo estará próximo. Eu sinceramente não sei se isso tudo é verdade, mas também não duvido nem um pouco. E você, caro leitor?

FONTE:

  • Relato oral de Dona Baíca, residente ao lado do cemitério São José, na cidade de Altos, Piauí;
  • Relato oral de Antonio Marcos, residente próximo ao Cemitério São Lucas, na cidade de Beneditinos, Piauí;
  • Relato via facebook de Amparo Barbosa, residente na cidade de Beneditinos, Piauí.

TEXTO E FOTOS: JOSÉ GIL BARBOSA TERCEIRO

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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