O Espelho Gentil
Toda forma de autoconhecimento – meditação, análise, ayahuasca – tem na metáfora do espelho, a ideia de que podemos, e devemos, ser capazes de se enxergar com nossos defeitos e qualidades. Também é lugar comum de que “enxergar-se a si mesmo” é tarefa tão imprescindível quanto difícil de ser empreendida. Até o mais iniciante nos caminhos de autoconhecimento sabe o quanto” olhar-se no espelho não é fácil”.
No entanto, o que a idade, e a vaidade, também nos ensinam é de que alguns espelhos são mais gentis que outros.
Quem nunca percebeu que um espelho às vezes nos deixa mais gordos, ou mais velhos, enquanto outros parecem realçar nossa beleza natural?
Quando o espelho é gentil, até as rugas valorizam nossa beleza.
O mesmo pode ser dito da luz. Qualquer fotógrafo amador, com seu celular mesmo, sabe que certas luzes, em determinada hora do dia, em determinado ângulo, podem transformar a pessoa numa artista de cinema.
O contrário também é verdade. Tem luz que destrói completamente a imagem da pessoa.
Penso que a metáfora possa ser aplicada também ao autoconhecimento. Seja em qual linha for, cabe uma boa dose de gentileza: saber olhar a si mesmo, seus erros e defeitos em compreensão amorosa consigo.
De nada adianta o anti-narciso odiar a própria imagem refletida no espelho, e tentar destrui-la.
O mesmo pode ser dito da luz. Erroneamente às vezes tem se colocado a luz como sinônimo de bem absoluto. O que qualquer jardineiro sabe que não é. Se for acreano então, mais ainda.
São os intervalos entre luz e sombra que nos trazem a saúde e bem-estar. A luz absoluta não nos permite enxergar. Ela cega.
O espelho gentil é aquele que vê os supostos defeitos e sabe ser gentil com a humanidade e a natureza presentes naquela imagem.
Essa ideia de que existe um espelho gentil na qual podemos mirar e admirar a nós mesmos, poderia advir da simples observação da realidade e qualquer pessoa pode chegar às mesmas conclusões apenas na observação.
No entanto, para ser justo com quem me deu essa inspiração, atribuo e agradeço esse conhecimento à Oxum, senhora das águas doces, que porta seu espelho – que pode ser tanto uma arma contra malfeitores, quanto um gesto de doçura de que só a senhora do mel é capaz.
A Oxum peço a gentileza de me mirar em seu espelho com a doçura de seu mel em meu coração.
Ora Iê Iê ô
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