O mapa do medo: Em ao menos 13 cidades mineiras, barragens ameçam a vida da população

No momento em que o Brasil se vê enlutado pela morte sob o fogo dos 10 meninos do Flamengo, e em Minas Gerais, os bombeiros seguem escavando toneladas de lama em busca de mais de 100 corpos ainda desaparecidos sob a lama da Vale, e a S.O.S Mata Atlântica decreta que, em Pará de Minas, 40 km distante do Córrego do Feijão, onde a barragem rompeu em Brumadinho, o rio Paraopeba morreu, o Correio Braziliense traz, neste sábado, alarmante matéria sobre o Mapa do Medo em Minas Gerais.

Segundo a reportagem do Correio Braziliense, o sentimto de insegurança é muito amplo porque, conforme mapa que se segue, em ao menos 13 cidades mineiras, barragens ameaçam a vida da população. Nessas cidades, diz a matéria, “empreendimentos vêm tirando o sono de moradores, especialmente desde a catástrofe de Brumadinho. Algumas delas somam mais de 20 depósitos de restos de mineração em seus limites.

Em Brumadinho, a cada dia fica mais difícil para os bombeiros localizar vítimas. Na sexta-feira, dia 08, 15 dias depois da tragédia, segundo relato do tenente Pedro Aihra, porta-voz do Corpo de Bombeiros, o balanço da Defesa Civil registrava 157 óbitos, com 151 identificados e 165 pessoas ainda desaparecidas.  Que a identificação, pela imprensa, do “Mapa do Medo” sirva de alerta para que outras cidades não sejam cobertas por lama de rejeitos, outras vidas humanas não sejam sucumbidas sob a lama de rejeitos, e outros rios não morram asfixiadas pela lama dos rejeitos de uma barragem de mineração.

Confira a matéria:

Em ao menos 13 cidades mineiras, barragens ameçam a vida da população

Trabalho de resgate em Brumadinho: medo de que a tragédia se repita se espalha pelo estado(foto: Paulo Filgueiras/Estado de Minas)
de resgate em Brumadinho: medo de que a tragédia se repita se espalha pelo estado(foto: Paulo Filgueiras/Estado de Minas)

Foi esse temor que se tornou transtorno concreto em Itatiaiuçu, outra cidade que tem a mineração como ponto forte da economia, na Grande BH, onde a madrugada de mais de 50 famílias foi marcada pelo pânico. Moradores da comunidade de Pinheiros receberam a notícia de que precisavam deixar suas casas às pressas, sob o argumento de que um desastre como o que arrasou Córrego do Feijão poderia se repetir. A maioria saiu apenas com a roupa do , temendo que a barragem da Mina Serra Azul, desativada desde 2012, mas armazenando 5,8 milhões de metros cúbicos de rejeitos, pudesse despejar um novo tsunami de lama sobre suas casas.

De manhã, quando um posto de comando foi montado pela Defesa Civil de para coordenar as ações de evacuação das famílias, o clima era de desinformação, até que as notícias começaram a chegar com mais clareza. A ArcelorMittal Mineração Brasil informou que a tragédia de Brumadinho gerou uma mudança nas referências do geotécnico da barragem da Mina Serra Azul, e nova avaliação com uma consultoria internacional contratada pela própria empresa apontou mudança de estágio de , de 1 para 2, o que exigia a saída das famílias da mancha de inundação da barragem.
“Estou tendo até febre. A cabeça está doendo, estou tonta, o estômago embrulhando, vontade de ir embora”, contou a dona de casa Joice Maia Ferreira, de 31 anos. “Tem 12 anos que moro aqui e tem 12 anos que vivo com medo. Agora, esse medo aumentou ainda mais. Como vou lidar com isso?”, questionou, antes de saber que sua casa, na verdade, estava fora da área de risco e que ela poderia retornar. “Meus vizinhos do lado tiveram que sair. Mas e o medo de ir com meu menino e acontecer uma tragédia?”, perguntava, insegura.
Mais tarde, o presidente da ArcelorMittal Mineração Brasil, Sebastião Costa Filho, chegou a Itatiaiuçu e garantiu que a saída das pessoas de suas casas era necessária. “As alterações vieram por meio de auditorias externas, que levaram em consideração determinadas circunstâncias que foram aprendidas após o último rompimento, que até então não fazia parte desse contexto. Eles puseram fatos novos para avaliar a segurança de uma barragem de rejeitos”, explicou o executivo.
Essa situação fez com que 54 famílias fossem obrigadas a sair às pressas de seus imóveis em Pinheiros, totalizando cerca de 150 pessoas. “Daqui para a frente, estamos trabalhando com novos parâmetros. Vamos executar uma série de testes na barragem e assim que tivermos a garantia de que ela está 100% segura, de que não existe nenhum risco para a comunidade, retornaremos com as pessoas para suas residências”, disse Costa Filho.
O executivo também enfatizou que todas as preferências da comunidade serão estudadas e garantiu que quem quiser novas casas fora da área de risco será atendido pela Arcelor. “Vamos oferecer toda possibilidade de mudança. O que o residente quer? ‘Eu quero vender meu imóvel. Eu quero trocar meu imóvel, eu quero morar na residência, eu quero ir para outro local…’, essas possibilidades vão ser estudadas. A empresa assume o compromisso de tratar essas pessoas com a dignidade que merecem”, completou.
xx 1. Paracatu, 2. Rio Acima, 3. Caldas, 4. São Gonçalo do Rio Abaixo, 5. Itabitiro, 6. Ouro Preto, 7. Congonhas, 8. Casa Branca; 9. São Sebastião das Águas Claras, 10. Itabira, 11. Riacho dos Machados, 12. Salinas, 13. Bocaiuva(foto: EM/Editoria de Arte)
xx 1. Paracatu, 2. Rio Acima, 3. Caldas, 4. São Gonçalo do Rio Abaixo, 5. Itabitiro, 6. Ouro Preto, 7. Congonhas, 8. Casa Branca; 9. São Sebastião das Águas Claras, 10. Itabira, 11. Riacho dos Machados, 12. Salinas, 13. Bocaiuva(foto: EM/Editoria de )

Prevenção

Os 239 moradores  retirados das imediações da Mina Gongo Soco, da Vale, em Barão de Cocais, e os 150 habitantes de Itatiaiuçu removidos das imediações da barragem da ArcelorMittal, na madrugada de ontem, só poderão retornar às suas casas após a constatação técnica de que as estruturas vizinhas não representam risco. A informação foi dada pelo tenente-coronel Flávio Godinho da Defesa Civil. “Não houve rompimento nessas duas cidades. A medida foi para preservar vidas que ali estão, para que não acontecesse nova tragédia como a de Brumadinho”, afirmou.
Numa escala crescente de 1 a 3 de risco, a barragem da Vale subiu do nível 1 para o nível 2. Segundo Godinho, ao mesmo tempo em que empresa contratada pela mineradora não quis atestar a estabilidade da barragem, técnicos da Agência Nacional de Mineração (ANM) que estiveram em Barão de Cocais se pronunciaram pela evacuação imediata, determinando que se adotasse o nível 2 de atenção.
Já no caso de Itatiaiuçu, a própria ArcelorMittal se antecipou e solicitou a evacuação dos moradores nas imediações da barragem, como forma de prevenção. Não houve, como no caso da Vale, recusa de técnicos de atestarem a estabilidade da barragem da Mina Serra Azul em Itatiaiuçu.

Resgate em Brumadinho

Na sexta-feira, 15º dia de buscas em Brumadinho, foi o primeiro desde a tragédia em que os não conseguiram localizar nenhuma vítima. Com o passar do tempo, as condições do ambiente tornam a tarefa mais difícil, como já havia antecipado o tenente Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros. Balanço divulgado pela Defesa Civil no início da noite indicou o mesmo número de óbitos – 157, com 151 identificados – e 165 desaparecidos, dos quais 42 funcionários.
ANOTE:

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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