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O mundo civilizado escolheu Lula

O mundo civilizado escolheu Lula
 
Por Aloizio Mercadante
 
A passagem do ex-presidente Lula pela Argentina marca um ato histórico para a América Latina. O grito de guerra “Eeeee vamos a volver, a volver a volver. Vamos a volver!”, entoado por 250 mil pessoas que tomaram conta da Plaza de Mayo, na última sexta-feira, 10, expressa a força de um movimento que vem tomando conta de todo o mundo civilizado, que é a importância da liderança de Lula para o Brasil, para América Latina, para o planeta e para o futuro da humanidade.
 
A dimensão histórica desse ato, com a presença do ex-presidente , da ex-presidenta Cristina Kirchner e do presidente Alberto Fernández, remete ao legado dos governos progressistas na América Latina.
 
Transcende ao em que o nosso continente viveu o melhor momento de sua , com respeito à soberania e à autodeterminação dos povos, mas também com integração regional e econômica e atuação em bloco na defesa de temas comuns para os nossos povos.
 
O meu sentimento, que é a impressão de alguém que acompanhou de perto essa passagem de Lula pela Argentina, mas que também viu ele ser recebido pelas principais líderes políticos da Europa, como o presidente francês Emmanuel Macron, o chanceler alemão Olaf Scholz e o presidente Pedro Sánchez, é de que há convergência sobre a necessidade de um novo modelo de governança global.
 
E, neste caso, Lula tem, reconhecidamente, um papel fundamental para reposicionar a relação do Brasil e da América Latina com outras nações em outro patamar.
 
O primeiro grande tema que está na agenda do Concerto das Nações é a emergência climática, a redução da emissão de gases do efeito estufa e a preservação do , temas debatidos a fundo na COP26.
 
O avanço nessa questão envolve as negociações sobre um fundo de US$ 100 bilhões, prometidos pelas nações mais ricas para ajudar países em desenvolvimento contra o aquecimento global.
 
Outro tema de relevância é a transição digital, em um cenário no qual 90% das informações do mundo estão nos e na China, e os desafios do impacto dessa mudança no mundo do trabalho.
 
A falta de uma regulação global e o uso, especialmente pela extrema direita, de estratégias de disseminação em massa de campanhas do ódio e de têm gerado instabilidade nas democracias em todo o mundo.
 
Além disso, se coloca na agenda das nações a pauta do enfrentamento da desigualdade e de concentração de renda. Os 10% mais ricos possuem 76% do patrimônio do planeta. Esse número dá a medida do quanto o
capitalismo financeirizado chegou ao limite e de que é preciso a implementação de novos modelos de desenvolvimento.
 
O avanço de todo o planeta nessas agendas depende desse novo modelo de governança global que mencionamos e o mundo civilizado e democrático escolheu Lula como um dos líderes globais desse processo, o que aumenta ainda mais a responsabilidade sobre o nosso .
 
Lula é a única liderança brasileira recebida por chefes de , como o presidente Macron, e aclamado pela militância, como ocorreu na Plaza de Mayo, apesar de toda a divergência histórica entre Brasil e Argentina antes da chegada dos governos progressistas nesses países.
 
Por isso, Lula é a para a construção de um mundo mais generoso, mais solidário, mais comprometido com os valores dos direitos humanos, da cidadania e da preservação do meio ambiente, com mais justiça social e com uma de paz.
 
Como disseram nossos irmãos argentinos, em um grito que estará para sempre em meu coração, em nome dos excluídos: “Vamos a volver!” 
 
Aloizio Mercadante – Presidente da Fundação Perseu Abramo. Editoral da Revista Focus Brasil #40. Foto de Capa: Ricardo Stuckert. 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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